Fui ver um filme daqueles que não são patrocinados pelo ICAM. Um documentário com o título “Ainda há pastores?”, de um jornalista de imagem chamado Jorge Pelicano. Um jornalista de imagem agora (por mérito) transformado em realizador.
O filme é sobre pastores da Serra da Estrela. Não me atrevo a fazer a crítica. Isso deixo para os especialistas, que espero que o vejam, uma vez que possivelmente correrá as FNAC’s do país. Digo apenas que mais do que um documentário sobre os pastores e a sua previsível extinção, o filme, essencialmente, expõe-nos a sentimentos...
“Aqui há pastores?” mostra uma série de almas simples. Usei o termo simples de forma irreflectida. Mas simples são de facto aquelas almas. Simples na apresentação, simples nos desejos e simples no trato. Simples no bom sentido. Simples, como já não se acha onde eu moro.
No escuro da sala rimos muitas vezes. Algumas delas não devíamos ter rido, talvez. Rimos porque já não conseguimos ver aquela simplicidade como natural. É-nos estranha. Não digo ridícula, porque acho que todos nos apaixonámos por aquelas pessoas e ninguém se ri de quem ama. No máximo, ri com quem ama.
Rimos do pastor que é fã do Quim Barreiros – figura (merecidíssimamente) central do filme – e que veste cueca vermelha; da “senhora de 78 anos que ainda corre” a ouvir Beatles na telefonia; daquela outra que dizia que estavam “cheios de pecados porque não têm missa” e toda a gente sabe que “são os padres que tiram os pecados às pessoas” ou ainda daquele casal que diz que “agora com o frigorífico, a gente põe lá qualquer coisa dentro num dia e no outro ela está igual”… Rimos porque temos tantas coisas por garantidas. Rimos porque somos educados, instruídos… snobes.
Não consigo deixar de me identificar com o pastor que se sente tentado a deixar a vida que tem. Quem não sente, um ou outro dia da vida, que tem de sair para o mundo e viver o que nunca viveu?... Que há qualquer coisa melhor? Olho para ele e penso que ele nunca sobreviveria no “meu” mundo. Mas, tal como eu acho que aquele pastor devia estar quieto e não cometer a loucura de se aventurar num mundo para o qual nunca estará preparado, haverá quem olhe para mim e para as minhas ânsias com o mesmo sentimento paternalista, com o mesmo abanar de cabeça condescendente…
Sofro com a solidão pacífica e entusiasticamente aceite por aquela querida ansiã que ainda corre, mas sinto inveja da sua coragem e independência. Ela é tão linda! Minha querida senhora…!
O realizador destacou, no fim da sessão, a hospitalidade com que aquela gente simples o recebeu. “Eles estavam sempre preocupados com o nosso bem-estar”, disse. Vim a pensar nisso para fora da sala. Qual foi a última vez em que eu me preocupei com o bem-estar de um estranho?...
Blog do filme: http://aindahapastores.blogspot.com
terça-feira, outubro 31, 2006
segunda-feira, outubro 30, 2006
As promessas da vida...
A vida era tão cheia de promessas naquela altura…
Lembro-me de quando, naquele ano, cheirei o Verão pela primeira vez. Levantava-me cedo e percorria as ruas da cidade com a calma de quem sabe que está à espera de algo maior. Andava pelos passeios, olhava para os prédios, tirava os casacos e sentias – bebia! – o sol a acariciar-me a pele. E o cheiro a Verão novo, é o que mais me lembro.
Fazia a minha rotina com um sorriso, como quem sabe que apenas cumpre calendário e que no dia X não mais olha para trás.
Tudo era sereno. Sereno, porque nada importava – nem o cheiro a Verão! – até ao tal dia X em que tudo ia mudar.
Tenho saudades daquele cheiro, daquele cumprir de calendário sereno e principalmente da certeza do que vinha ser maior do que a vida.
Hoje levantei-me cedo. Percorri as ruas sem pressa. Andei pelos passeios. Olhei para os prédios. Tirei o casaco e deixei o sol acariciar-me a pele. E, apesar do Verão já ser velho este ano, eu senti o cheiro do Verão novo e a antecipação de quem cumpre calendário com a certeza de que o dia X chegará com mais promessas…
Quem dera que, como outrora, assim seja…
Lembro-me de quando, naquele ano, cheirei o Verão pela primeira vez. Levantava-me cedo e percorria as ruas da cidade com a calma de quem sabe que está à espera de algo maior. Andava pelos passeios, olhava para os prédios, tirava os casacos e sentias – bebia! – o sol a acariciar-me a pele. E o cheiro a Verão novo, é o que mais me lembro.
Fazia a minha rotina com um sorriso, como quem sabe que apenas cumpre calendário e que no dia X não mais olha para trás.
Tudo era sereno. Sereno, porque nada importava – nem o cheiro a Verão! – até ao tal dia X em que tudo ia mudar.
Tenho saudades daquele cheiro, daquele cumprir de calendário sereno e principalmente da certeza do que vinha ser maior do que a vida.
Hoje levantei-me cedo. Percorri as ruas sem pressa. Andei pelos passeios. Olhei para os prédios. Tirei o casaco e deixei o sol acariciar-me a pele. E, apesar do Verão já ser velho este ano, eu senti o cheiro do Verão novo e a antecipação de quem cumpre calendário com a certeza de que o dia X chegará com mais promessas…
Quem dera que, como outrora, assim seja…
sexta-feira, outubro 27, 2006
“Os abortos não podem ter lista de espera!”
Vi, esta semana, este título numa revista de renome. Quem diz esta frase é a directora de uma famosa clínica de abortos espanhola, situada perto da fronteira com Portugal e que, pelos vistos, recebe muitas clientes portuguesas…
Ora, perante este título, só me ocorreu o seguinte…
Portugal vai a referendo sobre o aborto em 2007 e ganha o “sim”. Os hospitais públicos preparam para dar resposta às novas e (agora) legais necessidades das pacientes. A azafama do costume. Os pedidos de aumentos de orçamento do costume… Finalmente, a coisa dá-se… Aos fim de um, dois anos as mulheres que não querem ter “aquele” filho podem finalmente fazer abortos legais através do Sistema Nacional de Saúde!
Portugal, 2027. João acaba de fazer 18 anos quando recebe um postal do hospital local. Diz o seguinte:
“Avisa-se o Sr. João qualquer coisa que, na próxima Terça-feira, dia tal de tal de 2027, cerca das 10 horas da manhã, os Hospitais da Universidade de Coimbra irão proceder ao seu aborto. Pedimos desculpa pela demora.”
João acha que é brincadeira, a mãe nem sequer lhe tinha dito que um dia ponderou abortar! Não liga… Mas na tal Terça-feira, à hora marcada, uma junta de médicos procura o João e, como ele se recusa a colaborar, eles perseguem-no pelo bairro, com objectos que parecem de tortura na mão e João torna-se um dos muitos casos de aborto atrasado… Mas o Ministro da Saúde garante que as listas de espera estão a diminuir: no próximo ano, os pacientes terão, no máximo, 16 anos…
LOL
Ora, perante este título, só me ocorreu o seguinte…
Portugal vai a referendo sobre o aborto em 2007 e ganha o “sim”. Os hospitais públicos preparam para dar resposta às novas e (agora) legais necessidades das pacientes. A azafama do costume. Os pedidos de aumentos de orçamento do costume… Finalmente, a coisa dá-se… Aos fim de um, dois anos as mulheres que não querem ter “aquele” filho podem finalmente fazer abortos legais através do Sistema Nacional de Saúde!
Portugal, 2027. João acaba de fazer 18 anos quando recebe um postal do hospital local. Diz o seguinte:
“Avisa-se o Sr. João qualquer coisa que, na próxima Terça-feira, dia tal de tal de 2027, cerca das 10 horas da manhã, os Hospitais da Universidade de Coimbra irão proceder ao seu aborto. Pedimos desculpa pela demora.”
João acha que é brincadeira, a mãe nem sequer lhe tinha dito que um dia ponderou abortar! Não liga… Mas na tal Terça-feira, à hora marcada, uma junta de médicos procura o João e, como ele se recusa a colaborar, eles perseguem-no pelo bairro, com objectos que parecem de tortura na mão e João torna-se um dos muitos casos de aborto atrasado… Mas o Ministro da Saúde garante que as listas de espera estão a diminuir: no próximo ano, os pacientes terão, no máximo, 16 anos…
LOL
quarta-feira, outubro 25, 2006
Hábitos...
O homem é uma criatura de hábitos.
Lembro-me de uma altura na minha vida em que eu estava a começar um emprego stressante, a fazer um curso de teatro, a traduzir um filme e ainda tinha tempo para o namorado e para os amigos. Andava morta de cansaço, mas feliz.
Agora não faço nada. Os meus dias passam-se entre a net, os livros, as compras do dia e o namorado e os amigos. Nada que me devesse ocupar demasiado tempo, mas parece que ocupa.
Quanto menos faço, menos me apetece fazer…
Primeiro não sabia exactamente O QUE fazer. Não tinha objectivos, não tinha ideias, não tinha vontade. Agora sei exactamente o que quero fazer, tenho objectivos, até tenho vontade… Mas estou presa numa rotina idiota que me ocupa o dia inteiro com NADA!
Sei que quando começar a perder o respeito por mim própria por não cumprir objectivos que EU tracei e que só dependem de MIM, vou fazer o que tenho de fazer. Mas até lá… Os hábitos aprisionam-me…
Lembro-me de uma altura na minha vida em que eu estava a começar um emprego stressante, a fazer um curso de teatro, a traduzir um filme e ainda tinha tempo para o namorado e para os amigos. Andava morta de cansaço, mas feliz.
Agora não faço nada. Os meus dias passam-se entre a net, os livros, as compras do dia e o namorado e os amigos. Nada que me devesse ocupar demasiado tempo, mas parece que ocupa.
Quanto menos faço, menos me apetece fazer…
Primeiro não sabia exactamente O QUE fazer. Não tinha objectivos, não tinha ideias, não tinha vontade. Agora sei exactamente o que quero fazer, tenho objectivos, até tenho vontade… Mas estou presa numa rotina idiota que me ocupa o dia inteiro com NADA!
Sei que quando começar a perder o respeito por mim própria por não cumprir objectivos que EU tracei e que só dependem de MIM, vou fazer o que tenho de fazer. Mas até lá… Os hábitos aprisionam-me…
domingo, outubro 22, 2006
Viver
Acho que passei a ideia errada. Eu não ando tão mal quanto parece. Ou antes, eu ando sempre mal com o assunto “O que faço da minha vida (para que ela continue a ser vida e não sobrevivência)?”, mas choro, limpo as lágrimas e sigo! Não me vou matar por causa disso ou já o teria feito quando entrei num curso que era “o menos mau do mau” (Comunicação Social). (Um curso fantástico, none the less!, e que eu adorei ter feito e usado! Recomendo-o, inclusive, contra toda a racionalidade!)
Eu apenas sinto o que muita gente sente e não sabe colocar em palavras. Sinto que há “algo” mais do que “isto”, algo mais belo, mais real, mais autêntico. Algo que não me faz ter de engolir em seco para continuar. Algo que me faz saltar de alegria só de pensar. Algo que eu ainda não encontrei para mim…
Dantes pensava que “estava a viver uma vida que não era minha”. Uma frase típica de adolescentes e de adultos que tentam arduamente “encaixar” e não conseguem. Adultos que ainda não perceberam que têm mesmo de se rebelar (e revelar) se querem ser felizes. Não que eu seja feliz. Não posso dizer que seja. Ou talvez o seja e não saiba…
O que eu quero dizer é que a vida é nossa! E se sentimos que não é, é porque NÓS estamos a vivê-la mal! Estamos a fazer algo de errado. Ela está, de facto, nas nossas mãos! E o esporádico sentimento de felicidade aparece quando sentimos isso para lá de qualquer dúvida! E, by God!, eu já o senti! Sinto-o cada vez mais!
Mas isso não quer dizer que a batalha tenha terminado! Não, não é assim tão simples. Primeiro encontras o caminho, depois percorre-lo e no fim estará lá algo, bem ao fundinho. Algo merecido!
É o caminho que eu estou a percorrer. E é a espera que me mata!
Mas, como eu disse, chora-se, limpam-se as lágrimas e segue-se em frente. É a isso que se chama viver. (Viver, não sobreviver! Quem sobrevive não chora, porque se habitua à dor de não viver e nem a sente…)
Eu apenas sinto o que muita gente sente e não sabe colocar em palavras. Sinto que há “algo” mais do que “isto”, algo mais belo, mais real, mais autêntico. Algo que não me faz ter de engolir em seco para continuar. Algo que me faz saltar de alegria só de pensar. Algo que eu ainda não encontrei para mim…
Dantes pensava que “estava a viver uma vida que não era minha”. Uma frase típica de adolescentes e de adultos que tentam arduamente “encaixar” e não conseguem. Adultos que ainda não perceberam que têm mesmo de se rebelar (e revelar) se querem ser felizes. Não que eu seja feliz. Não posso dizer que seja. Ou talvez o seja e não saiba…
O que eu quero dizer é que a vida é nossa! E se sentimos que não é, é porque NÓS estamos a vivê-la mal! Estamos a fazer algo de errado. Ela está, de facto, nas nossas mãos! E o esporádico sentimento de felicidade aparece quando sentimos isso para lá de qualquer dúvida! E, by God!, eu já o senti! Sinto-o cada vez mais!
Mas isso não quer dizer que a batalha tenha terminado! Não, não é assim tão simples. Primeiro encontras o caminho, depois percorre-lo e no fim estará lá algo, bem ao fundinho. Algo merecido!
É o caminho que eu estou a percorrer. E é a espera que me mata!
Mas, como eu disse, chora-se, limpam-se as lágrimas e segue-se em frente. É a isso que se chama viver. (Viver, não sobreviver! Quem sobrevive não chora, porque se habitua à dor de não viver e nem a sente…)
sexta-feira, outubro 20, 2006
O de sempre
Já me faltava o ar! Andava sufocada e não sabia porquê.
Analisei-me e cheguei à conclusão de que não podia ser pela velha questão de sempre: o que faço da minha vida? Não. Isso seria demais. Já chega. O assunto é velho demais para me continuar a atormentar! Não tinha eu já decidido que ia deixar as coisas correrem? Não podia ser por isso…
Mais um dia. Dois dias. Três. Todos iguais. Todos normais. Todos calmos e serenos. E o sufoco aumentava.
“Vida sedentária”, pensei. Tenho de ir dar uma volta a pé ou assim… Ou talvez seja do tempo, que voltou a estar chuvoso. Mas a questão do tempo também já estava arrumada: não me ia voltar a permitir ficar deprimida por estar a chover lá fora! Já vi o belo da chuva. Já me serenei com essa questão… Vamos então dar a tal volta a pé...
Fui. Quis o destino que eu tivesse de levar o meu gajo às compras e que ele estivesse sem carro. Andámos um bocadinho a pé pela Baixa da cidade. Fizemos mais “umas piscinas” num shopping.
Sentámo-nos.
Não, o sufoco não desapareceu. Pelo contrário! Parece que me apertava mais!
Comecei a falar. Falei, falei, falei. E falei mais. E chorei. E analisei. E voltei a chorar e a falar. E outra vez.
Sim, é o mesmo problema de sempre. O velho. O antigo. O estragado. O enrugado. O amachucado! O que eu deito fora e me aparece sempre novo. Sempre fantástico! Sempre pronto a sufocar-me outra vez!
Cansa. Cansam as lágrimas que já chorei, as respostas que não encontrei, os passos que já recuei, as batalhas que já travei, os pedaços de mim que já perdi a chorar por isto!
Estou farta!
Mas o que posso fazer? O sufoco está cá. Não me deixa. Sei que vai ficar mais um tempo. O tempo que eu levar a encontrar a resposta, que não me parece próxima. Porque, até lá, ele só adormece e acorda e adormece e acorda e atormenta-me não me largando NUNCA!
Analisei-me e cheguei à conclusão de que não podia ser pela velha questão de sempre: o que faço da minha vida? Não. Isso seria demais. Já chega. O assunto é velho demais para me continuar a atormentar! Não tinha eu já decidido que ia deixar as coisas correrem? Não podia ser por isso…
Mais um dia. Dois dias. Três. Todos iguais. Todos normais. Todos calmos e serenos. E o sufoco aumentava.
“Vida sedentária”, pensei. Tenho de ir dar uma volta a pé ou assim… Ou talvez seja do tempo, que voltou a estar chuvoso. Mas a questão do tempo também já estava arrumada: não me ia voltar a permitir ficar deprimida por estar a chover lá fora! Já vi o belo da chuva. Já me serenei com essa questão… Vamos então dar a tal volta a pé...
Fui. Quis o destino que eu tivesse de levar o meu gajo às compras e que ele estivesse sem carro. Andámos um bocadinho a pé pela Baixa da cidade. Fizemos mais “umas piscinas” num shopping.
Sentámo-nos.
Não, o sufoco não desapareceu. Pelo contrário! Parece que me apertava mais!
Comecei a falar. Falei, falei, falei. E falei mais. E chorei. E analisei. E voltei a chorar e a falar. E outra vez.
Sim, é o mesmo problema de sempre. O velho. O antigo. O estragado. O enrugado. O amachucado! O que eu deito fora e me aparece sempre novo. Sempre fantástico! Sempre pronto a sufocar-me outra vez!
Cansa. Cansam as lágrimas que já chorei, as respostas que não encontrei, os passos que já recuei, as batalhas que já travei, os pedaços de mim que já perdi a chorar por isto!
Estou farta!
Mas o que posso fazer? O sufoco está cá. Não me deixa. Sei que vai ficar mais um tempo. O tempo que eu levar a encontrar a resposta, que não me parece próxima. Porque, até lá, ele só adormece e acorda e adormece e acorda e atormenta-me não me largando NUNCA!
terça-feira, outubro 17, 2006
Olhar em frente
Cansativo. Continuo a olhar em frente e anão ver nada. Pior: olho em frente e não sei o que quero ver…
Candidato-me a empregos que rezo para não conseguir. Queixo-me quando não recebo respostas, mas são poucas as que queria receber. Considero parar de me candidatar a empregos que me matariam se fossem meus… Mas, depois, o que me resta?
Não sei o que quero. Nunca soube. Só sei que não é isto.
As pequenas batalhas por uma alternativa têm-se revelado infrutíferas também. Talvez eu ainda não esteja preparada para a alternativa.
Olho em frente e não vejo nada, nem sei o que quero ver. Mas ao menos ainda não perdi a capacidade de olhar em frente…
Candidato-me a empregos que rezo para não conseguir. Queixo-me quando não recebo respostas, mas são poucas as que queria receber. Considero parar de me candidatar a empregos que me matariam se fossem meus… Mas, depois, o que me resta?
Não sei o que quero. Nunca soube. Só sei que não é isto.
As pequenas batalhas por uma alternativa têm-se revelado infrutíferas também. Talvez eu ainda não esteja preparada para a alternativa.
Olho em frente e não vejo nada, nem sei o que quero ver. Mas ao menos ainda não perdi a capacidade de olhar em frente…
domingo, outubro 15, 2006
Tenho saudades de sonhar
Sonho. Outra vez. Mas um sonho estranho, diferente. Diferente por não parecer um sonho. Os pés estão TÃO assentes no chão que não sinto que o coração esteja a voar. É bizarro, novo, até. E não necessariamente melhor.
Receio ter perdido a capacidade de sonhar. Sonhar, mesmo.
Sempre fui muito consciente da diferença entre projectos e sonhos, mas isso nunca me impediu de me deixar levar por projecções impossíveis. Eram secretas, minhas, impossíveis, sim, mas que me davam alento, alegria.
Receio ter perdido a capacidade de me deixar levar. A minha cabeça, agora, só conjectura projectos. E os projectos vêm com a responsabilidade das dificuldades de se tornarem reais. Os sonhos não. Daí a alegria fácil que os sonhos proporcionam e a apreensão natural que os projectos acarretam.
Mas é um sonho ainda. Não está totalmente definido. É um desejo. Uma ideia longínqua. Uma ideia que eu quero transformar em projecto, mas ainda não sei bem como. Então porque é que eu só penso nas dificuldades (como acontece com projectos) e não no formigueiro proporcionado por algo fantástico…?
Tenho saudades de sonhar…
Receio ter perdido a capacidade de sonhar. Sonhar, mesmo.
Sempre fui muito consciente da diferença entre projectos e sonhos, mas isso nunca me impediu de me deixar levar por projecções impossíveis. Eram secretas, minhas, impossíveis, sim, mas que me davam alento, alegria.
Receio ter perdido a capacidade de me deixar levar. A minha cabeça, agora, só conjectura projectos. E os projectos vêm com a responsabilidade das dificuldades de se tornarem reais. Os sonhos não. Daí a alegria fácil que os sonhos proporcionam e a apreensão natural que os projectos acarretam.
Mas é um sonho ainda. Não está totalmente definido. É um desejo. Uma ideia longínqua. Uma ideia que eu quero transformar em projecto, mas ainda não sei bem como. Então porque é que eu só penso nas dificuldades (como acontece com projectos) e não no formigueiro proporcionado por algo fantástico…?
Tenho saudades de sonhar…
sexta-feira, outubro 13, 2006
Bêbados
Ontem fui sair. Coimbra nocturna, em tempo de Latada, é aquele caos eufórico que mistura caloiros com uma liberdade recém-descoberta com “doutores” que apregoam mais conhecimento do que aqueles que têm e gostam de ensinar. Todos etilizados.
Lá estava eu, com uma amiga perfeitamente inserida no caos e outra amiga que, como eu – choque dos choques! – não costuma beber. Conversámos, rimos, conhecemos não sei quantos caloiros, mas o assunto recorrente era… álcool!
Quanto é que eu aguento; quanto é que os outros aguentam; aquela vez que me diverti tanto a beber até cair; a outra vez que fui parar aos HUC em coma alcoólico… Cansativo!
Sei que as noites de Coimbra, em início de ano lectivo, não podem ter outro assunto: é o único em comum! Eu percebo e perdoo. Mas em todos os outros casos… estou farta!
Aturo bêbados na boa. Não me chateia nada. Rio-me com eles e deles (é impossível não sentir uma certa superioridade sobre pessoas que precisam de beber para se divertir…).
O que eu já não aguento é que o assunto seja sempre o mesmo. Quando estão na presença de alguém que não bebe, fazem questão em falar SEMPRE de álcool! Embora eu não me ponha à parte, parece sempre que fazem questão de me pôr à parte! Nem que seja com a excessiva e descabida preocupação de que eu não me esteja a divertir!
Eu não preciso de beber para me divertir! Eu, se me quiser soltar, solto! Sem recorrer a álcool ou a psicotrópicos! Não preciso deles! E quando não me estou a divertir, não faço fretes! Já não tenho idade para isso! Por isso engulam as vossas inseguranças, bebam à vontade e permitam que os outros se divirtam NÃO BEBENDO!!!
Lá estava eu, com uma amiga perfeitamente inserida no caos e outra amiga que, como eu – choque dos choques! – não costuma beber. Conversámos, rimos, conhecemos não sei quantos caloiros, mas o assunto recorrente era… álcool!
Quanto é que eu aguento; quanto é que os outros aguentam; aquela vez que me diverti tanto a beber até cair; a outra vez que fui parar aos HUC em coma alcoólico… Cansativo!
Sei que as noites de Coimbra, em início de ano lectivo, não podem ter outro assunto: é o único em comum! Eu percebo e perdoo. Mas em todos os outros casos… estou farta!
Aturo bêbados na boa. Não me chateia nada. Rio-me com eles e deles (é impossível não sentir uma certa superioridade sobre pessoas que precisam de beber para se divertir…).
O que eu já não aguento é que o assunto seja sempre o mesmo. Quando estão na presença de alguém que não bebe, fazem questão em falar SEMPRE de álcool! Embora eu não me ponha à parte, parece sempre que fazem questão de me pôr à parte! Nem que seja com a excessiva e descabida preocupação de que eu não me esteja a divertir!
Eu não preciso de beber para me divertir! Eu, se me quiser soltar, solto! Sem recorrer a álcool ou a psicotrópicos! Não preciso deles! E quando não me estou a divertir, não faço fretes! Já não tenho idade para isso! Por isso engulam as vossas inseguranças, bebam à vontade e permitam que os outros se divirtam NÃO BEBENDO!!!
quarta-feira, outubro 11, 2006
A velhinha da Figueira
Há uma velhinha no meu bairro que me fala sempre. Eu gosto de velhinhas. E também gosto desta velhinha. Embora, para esta senhora, o termo “velhinha” seja um pouco pejorativo, porque quando eu for velhinha quero ser como esta senhora, a quem o termo “velhinha” não se aplica na totalidade…
Esta senhora, sempre que me vê, fala-me da Figueira da Foz. Se tenho ido à Figueira, se tem lá estado bom tempo, etc. Eu respondo-lhe sempre o mesmo: “Não sei. Não vou assim tanto à Figueira.” Mas, desde que começámos a conversar (e já á vão muitos anos), a Figueira quase aparece sempre!
Primeiro pensei que era ela que tinha lá casa, ou seja, a Figueira era importante para ELA. Depois apercebi-me de que ela falava com mais carinho de Lisboa do que da Figueira. “A minha casa não é cá (em Coimbra), é em Lisboa!”, disse-me um dia. Então, porquê a Figueira?! Depois dei-me conta de que ela falava como se a Figueira fosse importante para mim!...
Numa das muitas viagens de autocarro que fizemos juntas, acabei por lhe perguntar porque é que ela me falava sempre da Figueira… “Porque eu, quando lá vou, encontro-a sempre no comboio!”
Expliquei-lhe que não, não me encontra de certeza! Eu até vou à Figueira às vezes, mas tenho ido SEMPRE de carro!
A senhora ficou desconcertada. “Até conheço esse casaco que traz vestido! Costuma usá-lo no comboio!”, insistiu. Voltei a dizer-lhe que não. De certeza!
Aquilo passou. Durante uns tempos (que podem ter sido anos) ela não me falou da Figueira. Pensei que a tinha convencido, afinal eu estava a dizer a verdade!
Hoje, estava eu na paragem do autocarro, quando surge a “minha velhinha” com um penteado novo. Antes de eu sequer tempo de lhe mandar um piropo sobre o novo corte, ela sai-se com “Então a Figueira, hem? Tem lá estado melhor tempo do que aqui!”…
Será que ela me voltou a encontrar no comboio…?
Esta senhora, sempre que me vê, fala-me da Figueira da Foz. Se tenho ido à Figueira, se tem lá estado bom tempo, etc. Eu respondo-lhe sempre o mesmo: “Não sei. Não vou assim tanto à Figueira.” Mas, desde que começámos a conversar (e já á vão muitos anos), a Figueira quase aparece sempre!
Primeiro pensei que era ela que tinha lá casa, ou seja, a Figueira era importante para ELA. Depois apercebi-me de que ela falava com mais carinho de Lisboa do que da Figueira. “A minha casa não é cá (em Coimbra), é em Lisboa!”, disse-me um dia. Então, porquê a Figueira?! Depois dei-me conta de que ela falava como se a Figueira fosse importante para mim!...
Numa das muitas viagens de autocarro que fizemos juntas, acabei por lhe perguntar porque é que ela me falava sempre da Figueira… “Porque eu, quando lá vou, encontro-a sempre no comboio!”
Expliquei-lhe que não, não me encontra de certeza! Eu até vou à Figueira às vezes, mas tenho ido SEMPRE de carro!
A senhora ficou desconcertada. “Até conheço esse casaco que traz vestido! Costuma usá-lo no comboio!”, insistiu. Voltei a dizer-lhe que não. De certeza!
Aquilo passou. Durante uns tempos (que podem ter sido anos) ela não me falou da Figueira. Pensei que a tinha convencido, afinal eu estava a dizer a verdade!
Hoje, estava eu na paragem do autocarro, quando surge a “minha velhinha” com um penteado novo. Antes de eu sequer tempo de lhe mandar um piropo sobre o novo corte, ela sai-se com “Então a Figueira, hem? Tem lá estado melhor tempo do que aqui!”…
Será que ela me voltou a encontrar no comboio…?
segunda-feira, outubro 09, 2006
Hoje não estou cá…
Hoje não estou cá…
Que dizer, andei pela cidade, sentei-me na minha antiga escola, teclei com amigos… mas não estou cá.
Estou algures entre Londres, Toronto e Los Angeles.
Londres, porque sim, porque já é meu, não dá para separar Londres do meu coração. Toronto e Los Angeles devido à minha actual leitura.
É que eu sou o tipo de leitora obsessiva. Começo a ler um livro devagarinho e depois torna-se uma parte essencial do meu dia. Mergulho na história, afogo-me nela, apaixono-me pelos personagens… e é uma verdadeira chatice! É que, enquanto o meu calhamaço durar, eu vivo a vida daquelas pessoas ficcionadas. Não vivo a minha! Se os perceber mesmo bem (como é o caso), eles entranham-se em mim de tal maneira, que as suas esperanças, os seus desejos, as suas mágoas e frustrações são minhas também!
E pronto. Hoje vivo na pele de Jack Burns: actor famoso, homem traumatizado, criança molestada, ser não acabado... Sofro ainda com a morte da melhor amiga e da mãe e com os pensamentos que o atormentam, vindos do passado. Percorro com ele as ruas de Los Angeles e de Toronto. Fiz com ele o caminho árduo e merecido para a fama. Espero, como ele, o “algo mais” que a vida TEM de oferecer!
Estou frustrada. Por mim e por ele. Anseio o desfecho – feliz, espero! – deste LONGA história. Por mim e por ele...
É que, se ele não se vai embora, eu não consigo voltar à minha pele e escrever a MINHA história. Tenho uma história em espera que Jack Burns desapareça da minha vida. Jack Burns, uma personagem de ficção…
Que dizer, andei pela cidade, sentei-me na minha antiga escola, teclei com amigos… mas não estou cá.
Estou algures entre Londres, Toronto e Los Angeles.
Londres, porque sim, porque já é meu, não dá para separar Londres do meu coração. Toronto e Los Angeles devido à minha actual leitura.
É que eu sou o tipo de leitora obsessiva. Começo a ler um livro devagarinho e depois torna-se uma parte essencial do meu dia. Mergulho na história, afogo-me nela, apaixono-me pelos personagens… e é uma verdadeira chatice! É que, enquanto o meu calhamaço durar, eu vivo a vida daquelas pessoas ficcionadas. Não vivo a minha! Se os perceber mesmo bem (como é o caso), eles entranham-se em mim de tal maneira, que as suas esperanças, os seus desejos, as suas mágoas e frustrações são minhas também!
E pronto. Hoje vivo na pele de Jack Burns: actor famoso, homem traumatizado, criança molestada, ser não acabado... Sofro ainda com a morte da melhor amiga e da mãe e com os pensamentos que o atormentam, vindos do passado. Percorro com ele as ruas de Los Angeles e de Toronto. Fiz com ele o caminho árduo e merecido para a fama. Espero, como ele, o “algo mais” que a vida TEM de oferecer!
Estou frustrada. Por mim e por ele. Anseio o desfecho – feliz, espero! – deste LONGA história. Por mim e por ele...
É que, se ele não se vai embora, eu não consigo voltar à minha pele e escrever a MINHA história. Tenho uma história em espera que Jack Burns desapareça da minha vida. Jack Burns, uma personagem de ficção…
sábado, outubro 07, 2006
142 ficheiros
142 ficheiros. Desde Fevereiro, mandei 142 cartas (ou e-mails) de apresentação, entre respostas a anúncio e candidaturas espontâneas. 142 ficheiros para três países: Portugal, Estados Unidos e Inglaterra. E neste número não estão, obviamente, incluídas as cartas que enviei a chefes de estação, produtores, agentes e actores acerca do concurso que desenvolvi e do filme que escrevi.
Estou cansada!
142 ficheiros mais trocos e nada.
Já fiz de tudo. Já mandei candidaturas sérias e estruturadas. Já desenvolvi verdadeiros tratados de marketing e relações públicas. Já escrevi biografias. Já descrevi sonhos e esperanças. Até já concorri com cartas de apresentação desdenhosas e loucas. Não, esperem!, até já OFERECI trabalho!
Uma resposta. Uma só. UMA resposta esperançosa.
Já não estou desesperada. Não. Já não tenho feitio para desespero.
Se há uma coisa que eu SEI é que é uma questão de tempo até eu conseguir TUDO o que quero. …Porque também não tenho feitio para desistir. Às vezes “amoleço”, mas ponham-me NADA nas mãos e olhem para mim a lutar por TUDO!
Já semeei tantas sementes que alguma florescerá. Como sempre…
Há que acreditar…
Estou cansada!
142 ficheiros mais trocos e nada.
Já fiz de tudo. Já mandei candidaturas sérias e estruturadas. Já desenvolvi verdadeiros tratados de marketing e relações públicas. Já escrevi biografias. Já descrevi sonhos e esperanças. Até já concorri com cartas de apresentação desdenhosas e loucas. Não, esperem!, até já OFERECI trabalho!
Uma resposta. Uma só. UMA resposta esperançosa.
Já não estou desesperada. Não. Já não tenho feitio para desespero.
Se há uma coisa que eu SEI é que é uma questão de tempo até eu conseguir TUDO o que quero. …Porque também não tenho feitio para desistir. Às vezes “amoleço”, mas ponham-me NADA nas mãos e olhem para mim a lutar por TUDO!
Já semeei tantas sementes que alguma florescerá. Como sempre…
Há que acreditar…
quinta-feira, outubro 05, 2006
Ontem aconteceu...
Ontem aconteceu-me algo muito estranho enquanto tentava meditar. Bom, talvez meditar não seja o termo correcto. Eu, quando sinto que preciso, costumo sentar-me quietinha, a fazer respiração profunda e o relaxamento que aprendi a fazer para meditar… Mas duvido que algum dia tenha conseguido deveras “esvaziar o cérebro”. No entanto, isto ajuda-me a pôr os pensamentos em ordem e a sentir-me melhor comigo própria.
Ontem estava muito tensa e já tinha passado bastante tempo desde que eu tinha tirado tempo para pôr os “pensamentos em ordem”. Por isso, sentei-me, fiz a minha respiração e o relaxamento. Até pus em prática uma técnica que comigo resulta, que é inspirar algumas qualidades que me fazem falta e expirar os defeitos que me prejudicam. (Curiosamente, descobri que eles estão cada vez menores e menos incomodativos e que as qualidades que “inspiro” são cada vez mais “credíveis”para mim! Definitivamente uma vitória.)
Feito isto, pensei em reviver um episódio da minha vida que foi MUITO feliz. Achei que era a altura ideal para o recuperar. Afinal, foi TÃO feliz que a minha memória não conseguiu registá-lo! Depois do dito acontecimento, esqueci-me de tudo! Foi preciso contarem-me o que se tinha passado e como para que eu pudesse “guardar” algo de meu. Uma recriação, uma construção racional, não uma memória.
Ora, ontem decidi recuperar essa memória. Assim, relaxada e de olhos bem fechados, comecei a recriar a cena na minha cabeça. Corria tudo bem. Consegui sentir sensações que sabia que devia ter sentido na altura, mas que me estavam, de alguma forma, bloqueadas pelo lapso de memória…
Mas, quando cheguei ao “segundo” fulcral do episódio, não senti a tal felicidade que eu sei – mas não me lembro – ter sentido na altura. Senti algo ainda maior. Algo que era mais do que tristeza, maior do que antecipação, mais profundo do que felicidade. Mais inexplicável do que amor, ódio, frustração, ansiedade ou desespero! Algo que eu me lembro de ter sentido já UMA vez – conscientemente – e que me levou às margens da loucura.
Chorei. Não sei se de amargura, se de frustração, se simplesmente para ventilar aquele sentimento TÃO grande que eu não sei definir!...
Não percebo.
Primeiro, não percebo porque é que o meu cérebro se recusou a registar, na altura, aquela felicidade tão grande, tão pura e tão bonita. Porque é que eu tive de tentar recriá-la, revivê-la. (Talvez o cérebro humano não esteja preparado para assimilar aquilo que é maior do que ele espera receber, aquilo que ultrapassa as suas previsões…) E depois não percebo porque é que ela me continua inacessível e é substituída por algo que eu me lembro de sentir (também) UMA única vez e que me assustou MUITO. Algo que não sei definir e com o qual sei que tenho de encontrar forma de lidar, de contornar, de sobreviver… E este será seguramente mais um longo processo, mais uma longuíssima batalha… (Se não me venceu daquela vez, não me vai vencer nunca mais! Mas vai-me “moer”…)
Alguém conhece uma explicação? …Please…?
Ontem estava muito tensa e já tinha passado bastante tempo desde que eu tinha tirado tempo para pôr os “pensamentos em ordem”. Por isso, sentei-me, fiz a minha respiração e o relaxamento. Até pus em prática uma técnica que comigo resulta, que é inspirar algumas qualidades que me fazem falta e expirar os defeitos que me prejudicam. (Curiosamente, descobri que eles estão cada vez menores e menos incomodativos e que as qualidades que “inspiro” são cada vez mais “credíveis”para mim! Definitivamente uma vitória.)
Feito isto, pensei em reviver um episódio da minha vida que foi MUITO feliz. Achei que era a altura ideal para o recuperar. Afinal, foi TÃO feliz que a minha memória não conseguiu registá-lo! Depois do dito acontecimento, esqueci-me de tudo! Foi preciso contarem-me o que se tinha passado e como para que eu pudesse “guardar” algo de meu. Uma recriação, uma construção racional, não uma memória.
Ora, ontem decidi recuperar essa memória. Assim, relaxada e de olhos bem fechados, comecei a recriar a cena na minha cabeça. Corria tudo bem. Consegui sentir sensações que sabia que devia ter sentido na altura, mas que me estavam, de alguma forma, bloqueadas pelo lapso de memória…
Mas, quando cheguei ao “segundo” fulcral do episódio, não senti a tal felicidade que eu sei – mas não me lembro – ter sentido na altura. Senti algo ainda maior. Algo que era mais do que tristeza, maior do que antecipação, mais profundo do que felicidade. Mais inexplicável do que amor, ódio, frustração, ansiedade ou desespero! Algo que eu me lembro de ter sentido já UMA vez – conscientemente – e que me levou às margens da loucura.
Chorei. Não sei se de amargura, se de frustração, se simplesmente para ventilar aquele sentimento TÃO grande que eu não sei definir!...
Não percebo.
Primeiro, não percebo porque é que o meu cérebro se recusou a registar, na altura, aquela felicidade tão grande, tão pura e tão bonita. Porque é que eu tive de tentar recriá-la, revivê-la. (Talvez o cérebro humano não esteja preparado para assimilar aquilo que é maior do que ele espera receber, aquilo que ultrapassa as suas previsões…) E depois não percebo porque é que ela me continua inacessível e é substituída por algo que eu me lembro de sentir (também) UMA única vez e que me assustou MUITO. Algo que não sei definir e com o qual sei que tenho de encontrar forma de lidar, de contornar, de sobreviver… E este será seguramente mais um longo processo, mais uma longuíssima batalha… (Se não me venceu daquela vez, não me vai vencer nunca mais! Mas vai-me “moer”…)
Alguém conhece uma explicação? …Please…?
terça-feira, outubro 03, 2006
A foto em que Osama sorri
Ontem vi uma foto antiga de Osama binLaden. E não consegui parar de olhar para ela.
Foi tirada em 1998, num encontro com jornalistas em Jalalabade. Bin Laden sorri.
Na foto, o terrorista mais procurado do mundo – o tal que para a sociedade Ocidental é a encarnação do Diabo – aparenta ser um homem relativamente jovem, atraente, até. Com um sorriso rasgado e a mão direita estendida, com a palma virada para cima, e roupas Ocidentais, apenas um pequeno turbante nos dá uma pista da sua origem.
Mas suponho que não é a sua surpreendente juventude, nem a inesperada descontração, nem sequer o seu desconcertante sorriso que me faz não conseguir tira os olhos da imagem. A razão será a existência de uma doçura nela; uma simpatia, uma simplicidade que eu não consigo relacionar com a ideia predefinida que tinha do homem que é suposto representar.
Se a foto não tivesse o nome Bin Laden escrito na legenda, eu teria a maior simpatia por este homem… À luz deste retrato, eu não acredito que esta seja a encarnação do Mal.
Vou guardar a imagem. Não sei bem porquê, mas vou guardá-la. E também não sei bem porquê, mas depois de olhar para ela durante largos minutos, as lágrimas surgem-me sempre nos olhos…
…Ou talvez saiba… Talvez eu apenas não queira aceitar que o Mal não chega anunciado… Não tem sinais distintivos. Não tem perfil definido. Pode surgir de um sorriso...
Foi tirada em 1998, num encontro com jornalistas em Jalalabade. Bin Laden sorri.
Na foto, o terrorista mais procurado do mundo – o tal que para a sociedade Ocidental é a encarnação do Diabo – aparenta ser um homem relativamente jovem, atraente, até. Com um sorriso rasgado e a mão direita estendida, com a palma virada para cima, e roupas Ocidentais, apenas um pequeno turbante nos dá uma pista da sua origem.
Mas suponho que não é a sua surpreendente juventude, nem a inesperada descontração, nem sequer o seu desconcertante sorriso que me faz não conseguir tira os olhos da imagem. A razão será a existência de uma doçura nela; uma simpatia, uma simplicidade que eu não consigo relacionar com a ideia predefinida que tinha do homem que é suposto representar.
Se a foto não tivesse o nome Bin Laden escrito na legenda, eu teria a maior simpatia por este homem… À luz deste retrato, eu não acredito que esta seja a encarnação do Mal.
Vou guardar a imagem. Não sei bem porquê, mas vou guardá-la. E também não sei bem porquê, mas depois de olhar para ela durante largos minutos, as lágrimas surgem-me sempre nos olhos…
…Ou talvez saiba… Talvez eu apenas não queira aceitar que o Mal não chega anunciado… Não tem sinais distintivos. Não tem perfil definido. Pode surgir de um sorriso...
domingo, outubro 01, 2006
Mais um "momento Amèlie"
Imaginem que conhecem uma mega-estrela portuguesa, desde antes de ela se ter tornado mega-estrela… Não são propriamente amigos, mas “conhecem-se” há muitos anos.
No final de mais um concerto, aguardam que a fila interminável de fãs dê os beijinhos e tire as fotografias da praxe. Nos largos minutos de espera, trocam olhares cúmplices e brincadeiras com a “estrelinha”. Notam que não está bem-disposta. Dói-lhe o estômago…
No fim da longa espera, lá se aproximam para o beijinho da praxe. Por esta altura, já o pobre está agarrado ao estômago...
Teor da conversa:
_ Então, tudo bem?
(Burra, GK! O homem está agarrado ao estômago! Até já te tinha pedido um estômago emprestado e o que é que tu perguntas? …“Tudo bem”?!!)
_ Não! Dói-me o estômago…
_ Então?
_ Oh pá, não sei… Dói, estou a arrotar imenso… Só me apetecesse…
_ Estou a ver…. Isso está mau…
_ Está. Estou mesmo com vontade de… Mas isso eu nunca faço… Imagina…
_ Pois, imagino…
_ Mas isso eu nunca faço…
_ Pois… percebo-te…
_ …
_ …Bom, só vim dar o beijinho de parabéns da praxe. Não te roubo mais tempo…
E saí dali o mais depressa possível…
… Mais um “momento Amèlie”* na minha vida…
* "Momento Amèlie" - momento extremamente estranho, ainda que relativamente banal...
No final de mais um concerto, aguardam que a fila interminável de fãs dê os beijinhos e tire as fotografias da praxe. Nos largos minutos de espera, trocam olhares cúmplices e brincadeiras com a “estrelinha”. Notam que não está bem-disposta. Dói-lhe o estômago…
No fim da longa espera, lá se aproximam para o beijinho da praxe. Por esta altura, já o pobre está agarrado ao estômago...
Teor da conversa:
_ Então, tudo bem?
(Burra, GK! O homem está agarrado ao estômago! Até já te tinha pedido um estômago emprestado e o que é que tu perguntas? …“Tudo bem”?!!)
_ Não! Dói-me o estômago…
_ Então?
_ Oh pá, não sei… Dói, estou a arrotar imenso… Só me apetecesse…
_ Estou a ver…. Isso está mau…
_ Está. Estou mesmo com vontade de… Mas isso eu nunca faço… Imagina…
_ Pois, imagino…
_ Mas isso eu nunca faço…
_ Pois… percebo-te…
_ …
_ …Bom, só vim dar o beijinho de parabéns da praxe. Não te roubo mais tempo…
E saí dali o mais depressa possível…
… Mais um “momento Amèlie”* na minha vida…
* "Momento Amèlie" - momento extremamente estranho, ainda que relativamente banal...
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