sexta-feira, agosto 28, 2009

Megera

Eu não era assim. Eu era leve, livre, sexy e divertida. Ou sabia comportar-me como se fosse tudo isso e muito mais. Sabia amar. Sabia brincar. Sabia divertir-me. Sabia rir e fazer amor.
Agora não sei nada. Quase 10 anos volvido numa relação e eu tornei-me na megera chata e implicativa, sempre com o “não faças isso”, “olha lá aquilo” e o “já te disse que”.
O meu ego reduziu-se de uma maneira tão expressiva que nem quando puxo o autoclismo o consigo ver flutuar antes de dizer adeus. O meu corpo está reduzido ao meu rabo, que eu olho com asco por o achar crivado de uma celulite grotesca. E não me importo que haja pior. As crateras das outras não me impedem de ir à praia.
Quando os amigos faltam, olhamos para o outro com mais atenção. E a minha atenção é cruel. Não para ele, mas para mim. Para nós.
Não acredito, de coração, que estejamos no caminho certo. E isso ainda me faz sentir mais culpada quando ligo o “modo megera”.
Já lhe disse que não tem de me aguentar. Já o encorajei, N vezes, a encontrar uma loura com pernas até ao pescoço e mamas de silicone. Porque, a bem da verdade, eu SÓ quero que ele seja feliz. E, para mim, ser feliz é ter alguém leve, livre, sexy e divertida ao lado.
Talvez sejam os anos que pesam. No princípio, os hábitos torcidos dos homens não nos incomodam. Sabemos lá se é para durar. Que me importa se ele arrota em público? Encolhe-se os ombros e larga-se um sorriso. Os outros sabem que ainda não existe um “nós”, aquilo não é “nós”… Mas, com os anos, as coisas tornam-se reais. Já não é uma possibilidade. Simplesmente É. E, se É, há que entrar num consenso. Mas, à boa maneira masculina, consenso é ter quem lhes dê ordens, como a mamã. E eu não nasci para isso. Se o faço, é porque me sinto sem alternativa. E eu detesto não ter alternativa.
Sou uma megera, dura, feia e envelhecida pela falta de auto-estima. E estou cansada de o ser.
Quero voltar a ser leve, livre, sexy e divertida. E, se isso incluir dar um chuto na vida, pois que seja. Se incluir gastar dinheiro em futilidades, haja ele. E se é a isto que se chama “crise da meia-idade” para os homens, pois então serei a primeira mulher a tê-la…

quinta-feira, agosto 06, 2009