sexta-feira, janeiro 30, 2009

The gym

Tinha de me mexer, gastar energia e tonificar o corpinho que já se sentia à beira de um ataque cardíaco, portanto, inscrevi-me num ginásio. Nada mais normal nos dias que correm. No entanto, eu nunca fui normal…
Toda a vida me rebelei contra os ginásios. Detestava-os. Perdoem-me a franqueza, mas, para mim, salvo raríssimas excepções, eram armazéns de pedaços de chicha mais preocupados com a estética do que com a saúde, onde se juntavam um monte de máquinas inúteis que serviam para reproduzir “in vitro” tudo aquilo que se podia fazer no mundo, caso estas pessoas de palas nos olhos decidissem explorá-lo. Mas, claro, no mundo real, a arte do engate é bem mais complicada, até porque as vítimas se espalham mais, em vez de ficarem ali à espera das abordagens alheias.
Claro que esta minha forma de ver as coisas foi sujeita a enormes evoluções. À medida que a vida adulta ia tomando conta do pessoal que anteriormente fazia piqueniques no Choupal ou marcava tardes na piscina municipal, tornei-me menos radical e percebi que tinha de existir um lugar, concentrado, onde os workaholics, normalmente pessoal sedentário com vidas feitas em escritórios, se pudessem mexer um bocado. Mas eu não queria fazer parte desse mundo. Para mim, mexer era lá fora e sem rotina!
Pela boca morre o peixe e chegou a altura da minha vida em que tenho um emprego fixo e em que me sento ao computador sete ou oito horas por dia. Quando levanto o rabo da cadeira do escritório, sento o rabo no carro para conduzir até algum sítio onde o meu rabo se volta a sentar, seja no auditório do cinema, nas cadeiras do restaurante ou no sofá de casa. As tardes na piscina deixaram de existir, bem como os piqueniques no Choupal e até as maratonas de compras na Baixinha ou os passeios à Mata de Vale de Canas. Ao fim de semana, em vez de correr na praia, ou fazer caminhadas em centro históricos, a maior parte dos programas incluem apenas pôr-do-sol, jantar e café.
Ora, o meu rabo começou a refilar quando o enfiava dentro das calças habituais, os espelhos da lojas de roupa já se riam de mim quando era obrigada a mostrar-lhes as pelezitas caídas dos braços, barriga e outros sítios mais emblemáticos. E eu comecei a não gostar nada de mim. Não comer e não dormir também não me pareceu natural. Não o fazia por querer, mas como não gastava energia NENHUMA, simplesmente não tinha apetite e rebolava na cama à noite. E não vale a pena falar dos problemas acrescidos que a falta de auto-estima traz às pessoas…
Rendi-me.
Máquinas, cardio funks, racings e aeróbicas não fazem o meu género. Eu não preciso de me cansar ou de me desafiar. Eu preciso de me mexer, de respirar e de ter tempo para me encontrar. Por isso, dei Graças a Deus pela moda do Pilates e do Corpo & Mente. São coisas que sempre fizeram sentido para mim e só lamento estarem associadas ao espaço confinado e culturalmente questionável do ginásio…
Inscrevi-me.
E depois chorei.
Chorei que me matei. Porquê? Porque apesar de saber que os benefícios serão imensos e mesmo conseguindo passar por cima das desvantagens de andar a correr para o outro lado da cidade duas vezes por semana, com horários e saídas apressadas, e embora até consiga encarar com coragem o facto de esta ser mais uma merda que exige disciplina (é que eu tenho disciplina DE SOBRA, não pedi - nem queria - TANTA DISCIPLINA na minha vida!), não consigo apagar a ideia de que esta é mais uma daquelas situações que me obriga a admitir que sei exactamente onde vou estar semana após semana após semana após semana... E essa é maior sensação de fracasso que tenho memória.

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Barack Obama

Resisti. Coloquei entraves mentais. Justifiquei que seria um ser humano como outro qualquer, não um santo. Coloquei sempre um “mas” antes de lhe gabar os feitos. Mas não consegui manter-me firme.
Sou fã de Barack Obama. Essa pop star americana que nasceu perante os nossos olhos, vindo sabe-se lá de onde, e que ascendeu ao poder sem que nada o fizesse prever. Um negro na Casa Branca. Um homem que fala de liberdade e comove quem o ouve. Um ser sublime que se expressa com a pose de um rei, destilando palavras queridas ao povo.
Sentada à frente do computador, com o cérebro no sítio, pergunto-me ainda: será que devemos depositar a nossa esperança num político? Será que não aprendemos nada? Será que a perda da inocência não nos abriu os olhos? Ou somos ainda inocentes? Acreditamos ainda que há um profeta, surgido das cinzas de um mundo vil e viciado, que nos virá salvar? Esse Jesus Cristo negro terá de fazer milagres em todo o mundo para conseguir sarar as feridas deixadas por anos de perversões, disputas e maldade…
Mas é isso que Obama promete. Ou antes. É isso que ele pede que o ajudemos a fazer: agarrar com as duas mãos a responsabilidade que lhe atiramos e fazer dela nossa também, para podermos curar os vícios de um mundo que cada vez temos mais dificuldades em amar.
Barack fala da América e comove o mundo. Fala como só conseguíamos, até aqui, sonhar ver um político fazer. Cada frase, sem dúvida mil vezes discutida e alterada com a ajuda de um staff profissional, atinge-nos, a todos, como um raio. Parece que nos lê os pensamentos. Aqueles que já temos vergonha de partilhar por serem utópicos, estúpidos de tão ingénuos. Diz-nos o que queremos ouvir. Mas fá-lo como se lhe saísse da alma, em vez de nos dar uma daquelas mensagens ensaiadas e falsas a que tantos outros nos habituaram e que aprendemos a ignorar. E, a mim, esmagou-me o facto de tantos, tantos, tantos no mundo quererem ouvir o mesmo que eu!
Estamos todos FARTOS! TODOS! FARTOS!
Estamos fartos da guerra do petróleo e dos vícios da bolsa, da clivagem anormal entre ricos e pobres e das injustiças sociais, dos valores impostos por tiranos legitimados por grandes democracias e das mensagens vazias dos que nos matam quando prometem proteger-nos. Estamos fartos de cinismos e mentiras, de vícios e falsidades, de esquemas e promessas, da vergonha, do crime e do medo.
Será Obama capaz de nos libertar? Conseguirá manter-se firme nas suas mensagens e propósitos? Poderá ele sobreviver ao cargo que tanto lutou para obter e às expectativas dos que o olham como herói? E aos que o odeiam pelo mesmo motivo?
Não consigo explicar porque fiz questão de ver a tomada de posse em directo na TV, quando não o faço pelo meu país. Não sei porque devoro os discursos que circulam na Internet desta Fénix negra que nos devolveu a esperança. Não entendo como, não sendo ingénua ou inocente, me aparecem lágrimas nos olhos quando o ouço falar.
Será mérito ou apenas carisma? Será o renascer ou a morte certa? A vitória ou a derrota?
Quero acreditar que, sim!, será ele a dar-nos o sonho de que Martin Luther King falava. Será ele o tal Jesus Cristo novo que irá salvar o mundo. Será ele a conduzir-nos a uma nova era. Mas não será isso demais para esperar de um homem?

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Revolução

Estou no meio de uma revolução pessoal. De repente, uma mulher que eu não conhecia, nem sabia que existia, saiu de dentro de mim. Saltou cá para fora cheia de certezas e seguranças. Sabe o que vestir, o que dizer, como falar e como viver.
Não sei quanto tempo vai ficar, mas estou a deixá-la mudar tudo o que quiser. Ela, determinada, anda revolucionar o meu guarda-roupa e todo o meu armário da casa de banho, além do meu sótão escuro.
Dia-a-Dia, eu surpreendo-me. De onde veio esta MULHER? Digo MULHER, porque existe uma diferença entre a mulherzinha que antes habitava o meu corpo e esta, que já compra cremes anti-rugas e decidiu levar-se a sério. Já não ri das piadas acerca do seu aspecto físico, prefere investir em mudá-lo. Já não espera por companhia para fazer o que quer fazer quando o quer fazer. E, principalmente, já não perde tempo com sonhos nem quimeras, antes faz a triagem do que se pode transformar em projectos e esquece o resto.
Não sei quanto tempo isto vai durar. Não sei se ela vem para ficar ou está só de visita e até me assusta um pouco o dia em que for verificar o que resta do passado. Mas, para já, ela tem carta-branca para me reinventar. Talvez seja esta a chave da felicidade…

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Ano Novo

Não há resoluções de ano novo. Desta vez, as passas foram engolidas de forma mecânica e desapaixonada. Não há nada que eu tenha consciência de querer além dos banais saúde, amor, dinheiro e, porque não?, viagens.
Não tenho planos, nem sonhos e estou muito assustada com isso. Parece que o meu mundo estagnou e eu já não tenho energia para correr atrás de sonhos e quimeras. Estou triste e aborrecida de morte e não vejo o que posso fazer para contrariar isso.
Será tarde demais para encontrar outra vida? Onde está ela? E porque é que me aparece sempre como uma promessa não definida, uma fantasma na noite e depois desaparece sem deixar rasto…?