quarta-feira, setembro 30, 2009

Roma 2009 (5) – Parte I








Às 11h da manhã de Domingo o calor era já avassalador. Cansadíssimos logo à saída do hotel e a praguejar contra a porra da organização da cidade (aos Domingo há, como é óbvio, menos autocarros, mas também é aos Domingos e feriados que o hotel decide não ter transferes para o Vaticano… Enfim… é lógica à italiana…), lá conseguimos chegar ao Vaticano, para voltar a apanhar o Hop On Hop Off.
Naquele dia, a prioridade era chegar ao Panteão e à Fontana di Trevi, mas antes, fizemos uma paragem na magnífica Piazza Navona. Mais uma vez, Roma não deixa créditos por mãos alheias. Ela nunca se limita a fazer abrir a boca. Dá sempre um extra que se entranha no coração. Não bastavam as incríveis fontes, com estátuas que são lendas e que apetecem fotografar uma a uma, o local tinha de ter aquela je ne sais quoi boémio e de bom gosto que marca, lá bem no fundinho, toda a vida italiana...
Li tudo o que havia no guia da America Express sobre a Piazza Navona e as suas fontes e igreja. E há muito para ler. Fiquei a conhecer o porquê do formato oval da praça (era originalmente um estádio suficientemente grande para albergar 20 mil pessoas) e descobri as rivalidades entre Bernini, responsável pela fabulosa Fontana dei Quattro Fiumi ou Fonte dos Quatro Rios (tão bem dissecada no livro “Anjos & Demónios”!), e Barromini, autor da Igreja de Sant’Agnese in Agone que ladeia a praça. Dissequei até à exaustão as maravilhosas esculturas das fontes, cada uma com a sua expressão quase viva, refresquei-me nas fontes vaporosas dos restaurantes e cafés e admirei os artistas de rua, que tentavam vender quadros e artesanato. Observado cada centímetro de praça, fontes e fachadas, seguimos a pé para o Panteão.
Por fora, o monumento nacional não é muito impressionante. Ou antes, ao ler no guia a idade do “bicho”, lá se olha duas vezes e com admiração redobrada. Foi construído em 27 a.C.! Mas quem se quer deslumbrar tem de entrar lá dentro!
O Panteão é famoso pela sua cúpula, que - e agora com um texto explicativo da Wiki – “apresenta alvéolos em forma de caixotões no interior, em direcção a um óculo que se abre para o zénite (o ponto superior da esfera celeste). Estes alvéolos, além de serem utilizados esteticamente, também foram pensados para diminuir a quantidade de concreto a ser utilizado na estrutura, tornando-a mais leve. Da base da rotunda até ao óculo vão 43 metros - a mesma medida do raio do círculo da base - o que significa que o espaço da cúpula se inscreve no interior de um cubo imaginário”.
Não sei se perceberam. Tudo isto quer dizer que não só o edifício é uma maravilha da arquitectura, como quem lá entra “leva” com uma luz plástica que parece vir directamente dos céus. E, quando digo “céus”, refiro-me à versão católica ou mística da coisa! Aquele lugar é celeste!
Fotografei aquele buraco – ou óculo – no topo da cúpula dezenas de vezes, porque não conseguia deixar de o fazer e porque nenhuma imagem me pareceu fazer jus ao que os meus olhos viam. Aquela luz que por lá entrava, aquele ambiente etéreo que produzia… eram fascinantes. Tem de haver uma nova palavra para descrever o que ali dentro se passa, porque as palavras velhas não expressam a sua beleza e candura. Não admira que Rafael tenha escolhido (eu disse “escolhido”, sim!) aquele lugar para descansar eternamente, modestamente “plantado” ao lado do primeiro rei da Itália unificada, Vittorio Emanuele II e do arquitecto Baldassare Peruzzi, para referir apenas alguns.
Tirando fotos até termos virado a esquina, por ser difícil deixar aquele lugar para trás, lá nos dirigimos à famosíssima Fontana di Trevi ou Fonte dos Trevos, por ruas e travessas de uma Itália mais coerente com os filmes antigos que povoam o nosso imaginário de tarantellas. Através de estradas pedonais, empedradas e floridas, passámos pela Piazza di Pietra e pelo Tempio di Adriano, até apanhar a Via Del Corso, famosa pelas suas lojas. Decidimos explorá-la mais um pouco e, em vez de seguirmos a direito para a Fontana di Trevi, descemos a rua até à Coluna di Marco Aurelio, na Piazza Colonna, e, ali perto, entrámos para nos refrescarmos na Galleria Alberto Sordi, um impressionante shopping center com tectos em vitrais. Numa das saídas da zona comercial ainda espreitámos a Chiesa di Santa Maria in Via. (Roma é mesmo assim: a cada passo há uma surpresa!). Depois, sim, lá conseguimos chegar a Trevi!
TUDO o que alguma vez ouviram sobre a Fontana di Trevi é real. Sejam quais forem os elogios que lhe fizeram, eles não conseguem defraudar as expectativas dos turistas, porque a fonte – para variar! – é verdadeiramente impressionante. A sua dimensão (cerca de 26 metros de altura e 20 metros de largura), a sua localização (encaixada no meio de uma pequeníssima praça rodeada de edifícios. Aliás, foi de Bernini a ideia de reposicionar a fonte no lado da praça que fica defronte ao Palácio do Quirinal, para que o Papa a pudesse admirá-la de sua janela) e o constante som de água corrente que produz, tornam o local único e digno de ser admirado. Para não haver dúvidas de que estávamos deslumbrados, lá cumprimos a tradição e atirámos, cada um, uma moeda à fonte, para que os céus nos permitissem voltar ali um dia.
Almoçámos num restaurante que, como as ruas empedradas, pedia tarantellas - L’Allegro Pachino - e onde – milagre dos milagres!!! – os empregados eram muito simpáticos!!! Apesar de nos terem levado um euro por pão que não comemos, estávamos tão deliciados com a simpatia do staff que prometemos voltar!
De volta ao calor, subimos a colina até ao Quirinal. Além da imponência do edifício e da previsível fonte com um obelisco (Roma é a cidade da Europa com mais obeliscos egípcios), pouco ali havia para ver. E o sol também não permitia demoras! Por isso, contornámos o Palácio e tomámos a Via del Quirinal até à Via delle Quatro Fontane, passando por um jardim não identificado onde fotografámos uma estátua equestre de Carlo Alberto, pai de Vittorio Emanuelle, que acabou por morrer no Porto!!! Adiante…
Depois de fotografar as quatro fontes que dão nome à avenida, descemos a encosta em direcção à Piazza Barberini, passando em frente à Galeria Nacional de Arte Antiga do Palazzo Barberini. Já na praça, fotografámos a Fontana del Tritone (outra estátua magnífica) e aguardamos, exaustos, a chegada do Hop On Hop Off.
Já sem coragem para grandes caminhadas, fizemos uma volta quase completa no autocarro: Coliseu, Piazza Republica, Villa Borghese, Piazza del Popolo, Vaticano, Circo Maximo, Isola Tiberina… A ilha parecia tão fresca vista de longe que decidimos jantar lá!
A ilha é sempre deliciosa. Percorremos as duas margens do rio pelo meio de barraquinhas de comes e bebes e artesanato (tudo arranjadinho com o bom gosto italiano), admirámo-nos com o cinema ao ar livre montado num dos flancos da ilha e com a delicadeza do bar de Verão da Martini e deliciámo-nos a ouvir o som do rio Tibre que corria violento para o mar, formando uma pequena cascata ao alcance da mão.
Já mais frescos e relaxados, sentámo-nos à beira rio para estudar mapas e horários de autocarros. No final da análise, decidimos voltar ao Vaticano, por uma questão de prática de acesso a transportes e porque… eu insisti que queria visitar o Castel Sant’Angelo, cujo Passeto para o Vaticano (que todos viram ficcionado no filme “Anjos & Demónios”!) estava excepcionalmente aberto e em festas naquelas noites de Verão!

quarta-feira, setembro 23, 2009

Roma 2009 (4)








No Sábado, logo de manhã, arrastámo-nos até ao Coliseu, onde tínhamos combinado comprar bilhetes para dois dias do Hop On Hop Off, um dos muitos autocarros que fazem a visita guiada a Roma. E no Coliseu estava a acontecer uma cena surreal.
Quando saímos do metro estava tudo normal, ou seja, montes de turistada dispersa e nas filas para entrar para o monumento e as habituais filas de trânsito na rua. Atravessámos a estrada, de três faixas, e, de repente, uma multidão vinha na nossa direcção, deixando uma clareira em torno do colosso, polícias deslocavam-se com espalhafato e a rua foi cortada ao trânsito. Ao olhar melhor, reparámos que junto às paredes do edifício, estavam várias unidades de carabinieri e algumas ambulâncias…
Sem que ninguém no impedisse, continuámos a andar em direcção á zona mais deserta, onde umas poucas pessoas se juntavam com bandeiras vermelhas. Parecia que aguardavam um um comício político! Mas, no topo do edifício, bem nas últimas janelas, viam-se outras bandeiras semelhantes...
O que é que tinha acontecido?
O Coliseu tinha sido ocupado durante a noite por um grupo rebelde!
Que grupo? Pois… Nada de sanguinário!
Ao que parece (lemos isto no jornal do dia seguinte!), uma empresa recentemente privatizada que trabalhava para o Ministério da Defesa italiano começou a ter dificuldades e foi investigada pelas autoridades... Ao verificarem as continhas, as autoridades italianas concluíram que tinha havido um desfalque de alguns milhares de euros. Ora, a empresa abriu falência e os trabalhadores, revoltados com a situação e garantindo que a empresa tinha trabalho e que a falência se deveu exclusivamente às falcatruas do administrador, ocuparam o Coliseu e exigiram que o Governo tomasse providências para não a deixar cair.
Até ao dia em que viemos embora, os desgraçados continuavam no topo do Coliseu e juravam que não sairiam até terem de volta os postos de trabalho! E o mais bonito é que, além do trânsito cortado (que o Coliseu e quem o ama agradecem!), a vida em Roma era de absoluta normalidade. Até as visitas ao monumento continuaram como se nada fosse.
Apreciado o espectáculo, mas ainda sem estar na posse de todas estas informações, lá apanhámos o Hop On Hop Off. A ideia era fazer uma volta completa antes do almoço... Assim, em estilo fast food, passámos sobre rodas no Termini, na Praça da República, na Via Venetto, na Vila Borghese, na Piazza del Popolo e… a fome venceu-nos no Vaticano!
Decidimos almoçar em terreno familiar, por isso, contentámo-nos com um almoço estilo fast food numas barraquinhas de feira ao lado do Castel Sant’Angelo, onde aproveitamos para provar uma das especialidades locais: um granita! Basicamente, naquele local e porque era feito por uma máquina refrigeradora, o granita era gelo picado e xarope de frutas. Mas depois descobrimos que a versão caseira da mesma coisa é a fruta moída e gelada. Seja como for, no calor romano, soube que nem gingas!
Terminado o almoço, fomos até São Pedro apanhar novamente o autocarro. Contornado são Pedro e o Castel Sant’Angelo, passámos pela Piazza Augusto Imperatore, ao lado da Piazza Navona, Largo Argentino, Piazza Venezia, Teatro Marcello (cuja arquitectura é do mesmo género que a do Coliseu. São irmãos!), Circo Maximo e vimos a bela Isola Tiberina ao longe! A aventura continuou até à Piazza Barberini, Lei Quatro Fontane, Santa Maria Magiore e de regresso ao Coliseu. Mas decidimos continuar até ao Vaticano – novamente através do Termini, Praça da República, Via Venetto, Vila Borghese, Piazza del Popolo, Vaticano - para tentar entrar na Basílica de São Pedro.
Conseguimos. E ficámos pasmados com tanta beleza.
A Basílica de São Pedro é inacreditavelmente bonita. É rica. É deslumbrante. E não me refiro a uma beleza espiritual ou recatada. A Basílica de São Pedro é mundanamente deslumbrante. De cair o queixo. TUDO o que lá está dentro é soberbo e de bom gosto. É claríssimo que tudo foi uma escolha de homens que tinham o desejo de se rodear de beleza e riqueza e sabiam fazê-lo. Nota-se esse desejo a cada passo. Deslumbra qualquer um!
Já ouvi relatos de pessoas que dizem ter deixado definitivamente de ser católicas depois de terem entrado em São Pedro. A folha de ouro junto ao tecto ofende-as. A finura dos tectos desafia-as. O mármore de várias cores que cobre o chão contrasta com a ideia dos esfomeados que a Igreja alimenta. As estátuas dos grandes artistas, a imponência do baldaquino papal de Bernini, e delicadeza das cadeiras, das portas, das vedações… Tudo isso as fez guardar ressentimento à Igreja Católica. Para elas, aquela ostentação não combina com o propósito da instituição. É contrastante, excessiva e, por isso, ofensiva.
Mas o meu gajo via aquela magnificência de maneira diferente. E convenceu-me - a verdade é que eu queria ser convencida! Estava a simpatizar cada vez mais com o Vaticano! - de que, para algo ser eterno, tinha de ser feito com o melhor que havia no mundo. E São Pedro tinha de ser eterna e tinha de ser exemplo, ou não guardasse nas suas entranhas o túmulo do primeiro papa, discípulo de Cristo: Pedro. (O meu gajo é católico… Não é um chato católico, mas é católico… Eu não sou.)
Eu fiquei convencida. Apesar de não conseguir olhar para toda aquela riqueza de forma pacífica, de perceber que aquilo não é necessário, nem os fiéis o exigem ou sequer o percebem, eu gosto da ideia de existir uma Basílica de São Pedro, esse santuário de beleza mundana. E gosto que ela esteja nas mãos do Vaticano, porque percebo que aquelas serão, talvez, as melhores mãos para a compor e para a fazer eterna…
Acho que não vale a pena descrever a Pietà ou o baldaquino, os tectos ou a entrada do túmulo de São Pedro. Para quem não está lá, as descrições seriam só palavras…
Sair de São Pedro foi muito difícil, porque apetece ficar lá.
...Prometemos voltar.

quarta-feira, setembro 16, 2009

Roma 2009 (3)








Com a magia das novas tecnologias e a promessa, no site do Vaticano, de que aquela era a maneira ideal de evitar filas, tínhamos comprado os bilhetes para os Museus do Vaticano online. Por isso, naquela Sexta-feira, o nosso destino estava já traçado.
Chegámos à Piazza Cavour por volta das 11h30. Com a certeza de que íamos ser mal tratados pelos empregados, entrámos num café. O meu gajo queria “acordar”, por isso dirigiu-se ao balcão para pedir um café… E foi recebido com um sonoro “bongiorno!” acompanhado do maior sorriso que tínhamos visto até ali por terras italianas! Feito o pedido, voltou à mesa de boca aberta. “Esta mulher devia ser despedida!”, disse-me a gozar. “Quem é que ela pensa que é a desvirtuar desta maneira vil a hotelaria italiana?!” Esperámos na expectativa. A mulher continuava a limpar mesas e balcões com o mesmíssimo sorriso simpático e cúmplice para com os clientes (na verdade, àquela hora, éramos os único clientes do pequeno café. Mas éramos o mais cúmplices possível!...) “Deve ter um doutoramento em hotelaria tirado no estrangeiro!”, concluímos.
O café chegou à mesa rapidamente… E mereceu foto! Ele tinha pedido apenas UM CAFÉ. Mas, na mesa, repousavam: um café (“expresso”), um copo, um jarrinho de água e um bolinho em miniatura. Pela módica quantia de 2 euros… Mais uma surpresa romana que não valia a pena questionar…
Andando e fotografando, percorremos a praça, contornámos o Castel Sant’Angelo, admirámos o maravilhoso anjo que o coroa, atravessámos a ponte de Sant’Angelo para Roma e voltámos ao Vaticano pela Ponte Vittorio Emanuelle II, deleitando-nos com cada escultura. Apanhámos a Via Conziliazione que liga Sant’Angelo a São Pedro e chegámos, calmamente, à mítica praça dos católicos. No total, foi um percurso pequenino, mas delicioso. Ao fim dos nove dias de férias, este estava eleito o meu local favorito, por se ter tornado tão habitual e confortável. …Ironia das ironias, eu - que não sou católica - encontrei no Vaticano o meu lugar especial em Roma… Enfim…
Debaixo de um sol impiedoso, contornámos São Pedro até chegarmos às portas dos Museus do Vaticano juntamente com dezenas de turistas suados de todas as nacionalidades. Nos e-tickets a nossa entrada estava marcada para as duas da tarde, mas nós chegámos ao local pouco depois da uma e, passado o ritual das revistas, conseguimos alcançar a frescura do lobby dos museus. Mas talvez o tal ritual das revistas mereça que me detenha um pouco…
Ora… Para se entrar em qualquer edifício do Vaticano tem de se passar por um detector de metais e, mais importante do que isso, ser aprovado pelo olhar experiente dos “polícias dos costumes”. Estes senhores, com um ar que impõe algum respeito, têm a função de deixar entrar apenas quem obedece ao dress code do Estado, a saber: nada de decotes pronunciados e os ombros e as pernas devem estar parcialmente cobertos.
Já ia avisada e, por isso, cumpri sempre o tal dress code (até cheguei a comprar uma t-shirt extra para voltar à Basílica de São Pedro). Mas, à distância de quem não está ainda a viver o momento, esta obrigatoriedade fez-me criticar e espernear contra a retrógrada Igreja Católica. No entanto, lá chegada, mesmo uma liberal como eu consegue perceber que não há neste dever grandes exageros, nem qualquer tentativa descarada de repressão por parte dos tais profissionais. O Vaticano exige um mínimo de decência e respeito e os tais polícias limitam-se a cumprir as regras e, pelo que vi, com critérios absolutamente compreensíveis… Ou seja, não é necessário usar uma burka, nem sequer calças ou camisolas de gola alta. Basta não exagerar na chicha à mostra… Calções até ao joelho e t-shirt is fine. Não me chocou nada ter de o fazer e, depois de ver quem ficava à porta, saí de lá a concordar plenamente e a perceber a necessidade desta “lei”… (Roma é quente, quente…LOL)
Conscientes de que ver os Museus do Vaticano demora muitas e muitas horas, tirámos uns snacks da máquina, comemo-los para servirem de almoço, fomos fazer o xixizinho da praxe e perdemos alguns minutos a descansar um pouco, sentadinhos apenas a curtir o ar condicionado. Depois, ganhámos coragem e atirámo-nos ao espólio inigualável que aqueles edifícios encerram.
Pagámos pelo audio guide e entrámos nas fantásticas alas determinados a esmiuçar o possível. Sabíamos que não seria realista ver tudo ao pormenor, portanto, tínhamos escolhido algumas secções favoritas: a ala greco-romana, o apartamento dos Bórgia, as salas de Rafael e, claro, à Capela Sisitina. O mapa dos museus estava extremamente bem sinalizado e as setas ao longo do percurso indicavam sempre a direcção da famosa capela.
No Vaticano há de TUDO! Tudo! Arte egípcia, sarcófagos com múmias intactas, esculturas incríveis do período greco-romano, bustos trabalhados, galeria das tapeçarias, galeria dos mapas, biblioteca, arte sacra, arte moderna, arte contemporânea… Não acaba nunca! Até os tectos e corredores são únicos! Abres a boca aqui e ali já é mais incrível. Estão lá representados trabalhos de TODOS os artistas grandes de que me lembro, pintores, escultores, todos. Alguém já viu um Dali ao vivo? Um Chagal? Uma estátua de Canova? …Brutal! É uma experiência de verdadeira humildade estar perante algumas daquelas obras! Ah! E sim, é verdade a tal história das estátuas mutiladas. Infelizmente, muitas (senão todas) as estátuas que representam nus masculinos no Vaticano têm uma parra em vez do pénis… Enfim… No comments.
Antes de chegar a extraordinária Capela Sistina, e depois de um espólio inacreditável de obras de arte, ainda conseguimos “levar” outra “bofetada artística”. As salas (ou Stanze) de Rafael! São quatro aposentos decorados entre 1508 e 1524 pelo pintor renascentista e seus auxiliares, a pedido do Papa Júlio II… Pois bem… São breathtaking! De audio guide a debitar motivos e metáforas no ouvido, ficámos, de boca aberta, a olhar para cada um dos frescos. Estavam ao alcance da mão e eram… Não há palavras! …Não estou a dar uma de culta e esclarecida, que fica horas a olhar para um quadro a fingir que percebe o que aquilo é. Não. São MESMO… Se quiserem, são, tão só, LINDOS! Delicados. Preciosos. Enterram-nos emoções na alma. É isso.
Depois a Capela Sistina.
Bom, antes de falar da Capela em si, eu sinto-me obrigada a dizer que a última coisa para a qual eu estava preparada era para ter MILHARES de pessoas enfiadas naquele espaço ao mesmo tempo. A respiração, o suor, o zumzum. MEDO! Nem acreditava que AQUILO era a Capela Sistina. Tal como no Coliseu, a sensação que fica é de ABSOLUTO respeito por aquele património! Mas adiante…
A Capela… A Capela… Sei lá. Já tanto se disse sobre a capela e ninguém está preparado para ela. Sabem o que disse acerca das salas de Rafael… Pois é. É isso. Tanta história. Tantas intenções. Tanta delicadeza. Imaginar uma série de homens, anos a fio, a colocar gesso naquelas paredes e a pintá-lo, ainda fresco, a cravar-lhe traços, intenções e emoções. Sem borrachas ou decalques. E pensar que dentro daquelas quatro paredes são eleitos os Papas. Arrepia. Completamente.
Pronto, confesso!, assim que entrei, desatei a fotografar tudo! SEM FLASH! Obviamente. Só depois vi os sinais de proibido e ouvi a gravação que exigia que ninguém fotografasse e que se fizesse silêncio…
Estivemos cerca de uma hora na Capela. Nessa hora, ela esteve sempre cheia de gente a entrar e a sair, ao ponto de não ser possível dar um passo sem tocar em alguém. Mesmo assim, ouvimos todas – a longuíssima – descrição de todos os quadros representados nas paredes e a do Juízo Final mais do que uma vez. Aquilo é verdadeiramente extraordinário! Saímos do Vaticano pela famosa espiral. Estávamos exaustos!
Precisávamos urgentemente de comida! Por isso, às 18H30 da tarde estávamos a deliciar-nos com uma lasagna na Piazza del Risorgimento! Depois apanhámos um autocarro. A ideia era ir até á Piazza di Spagna, mas antes parámos no Termini para apreciar a estação. E ela, claro!, é colossal! Parece um terminal de aeroporto! Fotografámos, apreciámos a fila do shuttle para o aeroporto, percorremos os corredores cheios de lojas fashion. Percebemos que, por dentro, o Termini é bem moderno e funcional.
Na Praça de Espanha – a tal da escadaria que Claudia Shiffer descia na Moda Roma –, ia haver um espectáculo, portanto, as escadas estavam cobertas por centenas de turistas. Parecia que todos eles já tinham ido aos respectivos hotéis tomar o seu banhinho e só nós é que continuávamos imundo e suados. Exaustos, abancámos na famosa escadaria e esperámos pelo que ia acontecer…
…Mas uma hora depois ainda nada tinha acontecido e as costas, os pés, o cansaço estavam a chegar ao limite, despertando um mau humor difícil de contornar… Só quando nos levantámos, desistindo do espectáculo, e descíamos já a enorme escadaria, pedindo perdão a cada passo por incomodar os espectadores, é que começámos a ver os artistas a entrar em cena junto à fonte. Ficámos mais um pouco. O suficiente para vermos – mal! e trás de não sei quantas pessoas! - uma coreografia do filme West Side Story. Depois um tenor, acompanhado de um pianista, a cantar uma versão – digamos – alternativa do Sole Mio. Seguiram-se outras canções folclóricas italianas e, apesar de o meu gajo ser maestro de um coro, eu fui horrível e expliquei-lhe que estava demasiado cansada para continuar ali, em pé, desconfortável e sacrificada.
Ainda tentámos jantar por ali, mas tudo parecia demasiado agreste – em termos de preço, barulho e conforto. “Façamos o que fizermos, tu falas com os empregados! Se alguém for mau para mim hoje, eu vou-lhe à tromba!”, expliquei ao meu gajo. Felizmente, a caminho do Metro havia uma pizzaria take away. Compramos umas generosas fatias de pizza e fizemos um delicioso piquenique no hotel. No final, de banho tomado, adormecemos, de comando na mão, a ver o canal Live, que passa 24 horas de concertos ao vivo.

sexta-feira, setembro 11, 2009

Roma 2009 (2)








Depois de um belo pequeno-almoço (de pão rijo! O pão do dia italiano é rijo!), dirigimo-nos a todo o gás ao Coliseu! Sair da estação de Metro e dar imediatamente de caras com aquele colosso é impressionante! Mas mais impressionante é o facto de os italianos permitirem que passem três filas de trânsito encostadinhas a um monumento com 2000 anos! Isso é verdadeiramente inacreditável!
A zona estava “a bombar”. Ali acontece TUDO. Além das centenas de carros, passam dezenas de autocarros, os habituais Hop On – Hop Off e outros autocarros turísticos e até ali param as charretes que dão a volta romântica à cidade eterna. À volta do edifício, enegrecido pela poluição, milhares de turistas descansavam, faziam filas ou aguardavam guias. Parecia a reinstalação da Torre de Babel!
Antes de chegarmos às paredes do colosso, parámos para comprar um monte de postais a um vendedor ambulante de souvenirs - italiano, mas simpático (para variar!) -, que ficou muito desiludido connosco por sendo “portogheses” termos falado inglês com ele. “Ma como?” Lá nos desculpámos, dizendo que ninguém nos percebia. Mas ele parecia ser a excepção e por isso não se conformou com a resposta. E na despedida, soltou o tradicional “Mourinho! Mourinho è portoghese, no?”
Ainda a rir e mesmo antes de descobrirmos o final da fila para os bilhetes (que se revelava bem extensa àquela hora), fomos abordados por uma inglesa despachada (e sexy! A porra das inglesas são em geral sexys! Mesmo que não sejam o modelo da perfeição, como era o caso!) que nos perguntou se falávamos inglês. Ao dizermos que sim, disparou sem hesitar, com um sotaque britânico, todas as vantagens de fazermos a visita ao coliseu com um guia, sendo a maior delas o facto de escaparmos à fila. “The ticket is 12 euros. We ask you for anather 10 for the guide, but you will know everything there is to know about the coliseum. I guarantee you, you won’t regret it!” …and we didn’t!
O guia era um italiano giríssimo que falava um inglês mafioso. Parecia que estávamos a ver um filme do padrinho! Mas falava-o correctamente, tinha a lição estudada, materiais de apoio e parecia saber MUITO sobre o assunto a avaliar pelas respostas a perguntas que não constavam no programa. Pela maneira como explicou factos e curiosidades, dir-se-ia que o Coliseu ou Roma em geral era, de facto, uma das suas paixões. Por isso, a visita foi fantástica (como também o é a história do monumento em si: http://pt.wikipedia.org/wiki/Coliseu_de_Roma). Valeu totalmente a pena, até porque, à tarde, tínhamos a parte 2, com outro guia que nos levaria ao Palatino.
Sem almoçar e conscientes de que estávamos em risco de apanhar um escaldão (o protector solar foi na mala, mas não saiu dela no primeiro dia), subimos a colina do Palatino atrás de um novo guia (giríssimo também, embora num estilo mais boyish) desta vez nascido na América, mas que era um cidadão do mundo que apreciava “o regime socialista” de Itália, “um sítio fantástico, onde tudo é possível”. “There’s a holiday for everything!”, garantia sempre sorrindo.
Palácio de César, Palácio de Augusto e, o único ainda totalmente de pé (também é incomparavelmente mais recente!), o Palácio de Mussolini desfilaram diante dos nossos olhos enquanto os nossos ouvidos captavam, em pormenor, a história da cidade e os hábitos dos seus habitantes. Refrescámo-nos nas muitas fontes da colina que foi o berço de Roma, demos mimo a um gato que habitava a Casa de Augusto, percorremos o criptopórtico que Nero mandou construir para ligar os palácios ao fórum romano e descansámos à sombra da colina antes de nos dirigirmos ao Fórum.
Visto de cima, o Fórum não impressiona. Ruínas romanas há em Conímbriga, até mais bem conservadas. Mas descendo do Palatino para o Fórum e desfolhando guias para saber a que cada ruína corresponde, começam a bailar-nos na cabeça cenas do “Ben Hur” e do “Gladiador”, com as colunas dos templos e as largas vias a comporem-se em vidas reais e projectos colossais. Impressionante! A porta do templo de Romúlo está intacta, o templo de César continua a receber flores de quem o visita, as colunas do Templo de Saturno ainda impõem humildade a quem passa… Incrível.
Depois de cerca de 3 horas debaixo de sol pesado, saímos do Fórum Romano directamente para a Piazza Veneza. Imponente, o elefante branco de Roma lá estava à nossa espera. Os romanos chamam “elefante branco” ao Monumento Vittorio Emanuele II, não só porque ele é, de facto branco, mas porque o acham pomposo e demasiado grande e, para ser construído, destruíram um bairro medieval inteiro. Apesar da má impressão que o edifício construído em honra do primeiro rei da Itália unificada deixou no romano, eu, como turista e inicialmente desconhecedora da sua história, não consegui deixar de admirar a sua inigualável beleza.
Foi sentada num café, bem em frente ao referido Monumento, a ler a sua história que eu fui violentamente roubada. Ainda sem almoço, a julgar pelas fotos da ementa, escolhi uma bela sandwish de fiambre, queijo e tomate (uma coisa assinalada como típica) e um “suco” (atenção ao “suco”, que em qualquer lado quer dizer NATURAL!) de laranja. Mas paguei ONZE EUROS E NOVENTA, por uma mini-sandwish de Panrico e por um copo de tang lanranja! E com fome fiquei! Filhos da p***! Mas não vale a pena reclamar. O erro foi meu. Devia ter desconfiado. Os italianos são vigaristas!!! É IMPOSSÍVEL fazer uma previsão orçamental, porque NADA é exactamente o que parece… Enfim… Perdoem-me os italianos que são honestos, mas, pelo menos em Roma, são uma excepção DE CERTEZA!
Estafados e esfomeados (ainda!) achámos que aguentávamos mais umas voltas pela cidade e apanhámos um autocarro em direcção ao Circo Maximo. Ora bem… O Circo Máximo pode ser impressionante. Pode… se o turista tiver a capacidade de imaginar o que ele já foi. Consulte o guia da cidade e fica a saber que o Circo Máximo foi o maior estádio alguma vez construído. Eram aqui que se realizavam as corridas de charretes que aparecem no “Bem Hur” e outras atrocidades. Fica situado num vale bem ao lado do palatino, para que os imperadores tivessem nos seus palácios uma espécie de varanda sobre o local.
O problema é que o Circo Máximo já não é mais do que uma enorme extensão relvada. Os italianos, mesmo com a sua inata capacidade de ganhar dinheiro de forma duvidosa (digo isto pela amostra que tive… Again: perdoem-me os honestos!…), não conseguiram ainda “dinamizar” o local. Podiam, sei lá, colocar umas gravuras do que se imagina que era o Circo Maximo no seu auge. Podiam contar as histórias do que se lá passou, em texto, em imagens ou de forma encenada, grupos de teatro a encenar a Roma Antiga. Até podiam colocar lá charretes para os turistas darem uma volta a peso de ouro. Mas não. Nada…
Comi uma fatia de melancia sentada no passeio que ladeava o Circo Maximo. Uma coisa óptima acerca de Roma é que há montes de banquinhas de fruta na rua. Em quase qualquer local se pode comprar fruta fresca, descascada e fresquinha, pela módica quantia de um ou dois euros. Não é mais caro do que uma sobremesa em Portugal e sabe MUITO bem no meio daquele calor todo!
Retemperada as forças com a frutinha, apanhámos mais um autocarro para nos dirigirmos à Pirâmide Cestia. Ao que consta um tipo importante, chamado Caio Cestio Epulone, que viveu por volta do século 12 A.C, deixou em testamento que devia ser sepultado numa pirâmide… e fizeram-lhe a vontade! E, se Roma é a cidade do mundo com mais obeliscos egípcios, passou a ter também a sua própria pirâmide.
Achámos que ainda precisávamos de ser deslumbrados, já que a pirâmide era menos impressionante do que parecia ao ler o guia, por isso rumámos para as Termas de Caracala!
Mais uma viagemzita de autocarro e fomos dar com as termas… fechadas. Dentro das grades que circundavam parte do recinto viam-se tendas e parafernália de espectáculos, mas não se via quase ninguém. Deduzimos que havia espectáculos naquele local, quem sabe à noite… E devia ser um cenário fabuloso. É que, apesar de não termos entrado, o tamanho do edifício chegou para nos impressionar! Construídas entre 212 e 217, as Termas de Caracala podiam acolher mais de 1 500 pessoas num edifício que media 337 metros por 328 e grande parte de sua estrutura, pelos vistos, ainda se encontra conservada, sem qualquer interferência de edifícios modernos. MUITO bonito.
Completamente derreados e a duvidar se conseguíamos chegar a uma paragem de autocarro que nos levasse “a casa”, decidimos voltar ao hotel. Mas tínhamos de jantar… Cheio de medo de enjoar a pasta e o molho de tomate (acontece a TODOS os turistas ao fim de três dias), o meu gajo sugeriu uma viagem ao MacDonald’s da Praça da República, onde eu haveria de ser maltratada pela empregada (Usual!).
Mais uma piazza impressionante! A Piazza della Repubblica em Roma é preciosa. Ladeada por edifícios altos e cuidados (um dos quais é um hotel de cinco estrelas), por outras termas (estas só levavam 700 pessoas nos tempos áureos…) e com a Fontana delle Niadi (ninfas) no centro, parece um retiro. Jantámos na rua com os olhos, cansados, poisados nas ninfas de Mario Rutelli e, apesar do barulho do trânsito, a paisagem fez-nos guardar o som das águas a borbulharem na fonte. Um retiro espiritual antes de chegarmos ao santuário do nosso quarto.

quinta-feira, setembro 03, 2009

Roma 2009 (1)






Não me apaixonei ao primeiro olhar. Não fiquei estarrecida pela beleza da cidade eterna assim que lhe senti as entranhas. Pelo contrário. Os locais de turismo massivo (como o Coliseu ou o Vaticano), começaram por me chatear solenemente, talvez porque os italianos são… hum… ESTÚPIDOS para os turistas. Sim, posso dizê-lo: são ESTÚPIDOS que nem uma porta!
Para os italianos, os turistas parecem ser um incómodo dificilmente tolerável e, portanto, não há sorrisos nem palavras amáveis. Quem trabalha na hotelaria em geral, fala MAL aos estrangeiros, chegando alguns a serem, menos do que solícitos, mal-educados mesmo! E parecem achar-se no direito de o ser.
Esta foi a Roma que me apanhou desprevenida. Mesmo com os alertas dos guias turísticos, não imaginei que fosse assim… Não imaginei que me apetecesse, em férias, ir à tromba de um empregado qualquer… Mas adiante…
Roma não é isto. Roma cresce em nós. Roma desafia-nos intelectualmente de forma tão absoluta, que, ao fim de uns dias, estamos sentados na esplanada de uma qualquer piazza e apercebemo-nos de que será depois, quando o avião já nos tiver levado a casa, quando estivermos com a cabeça deitada na nossa almofada, quando já pensarmos em encarar a rotina de trabalho que se aproxima, que a boca se vai abrir de espanto, que vamos sentir a emoção de ter visto a história da humanidade diante dos nossos olhos, que vamos sentir falta – falta palpável! – do calor, das esplanadas, das fontes, das flores e até do canto da língua que se lá fala.
Roma é colossal em todos os sentidos! Absolutamente colossal. Grande. E maior se torna com as intelectualizações do que lá há para ver… Um teatro com dois mil anos?! A sede do império Romano?!! O coração da Igreja Católica?!!! UAU! Como vivi até agora sem entender nada da História do Homem…?
Nada disto me passava ainda pela cabeça, quando aterrei no Aeroporto Leonardo da Vinci, no dia 12 de Agosto de 2009. Eram cerca das 19h locais e nós fazíamos o trajecto estudado para os “trenos” quando fomos interpelados por um italiano com uma proposta irrecusável: por 20 euros iam-nos pôr ao hotel (a Este da Citá Vaticano, LONGE, portanto) sem os “stresses” das mudanças de comboios… Conscientes de que o homem tinha exagerado na descrição dos desses “stresses”, mas sem vontade nenhuma de carregar malas através da cidade, aceitamos a oferta.
Sentados numa carrinha de nove lugares, cheia de turistas incautos e malas de todas as cores, colocámos a hipótese de termos embarcado numa cena à Luís Miguel Militão. Mas acabou por correr tudo bem… se excluirmos quarenta minutos de trajecto “a abrir” por auto-estradas com uma condução tipicamente italiana…
E atenção à expressão “condução tipicamente italiana”. Como cultura geral, talvez seja útil explicar que em Itália – pelo menos em Roma! - as regras de trânsito são um tanto ou quanto “diferentes”. Por exemplo: a buzina serve para abrir caminho; os semáforos têm, não duas, mas três hipóteses para peões (a saber: “Andar”, “Não andar”, “Andar se puder”), as cedências de prioridade e os stops são meramente indicativos e passa quem for mais corajoso; e ou se anda depressa ou se está parado. Este foi o meu primeiro “choque cultural”. ;)
Chegados ao hotel (in a flash!), fomos recebidos, sem sorrisos, por um jovem recepcionista que lá fez o enorme frete de nos fazer o check in e não nos dar as boas-vindas. Ainda assim, ficámos deslumbrados com as condições do local. Diziam-nos que, em Itália, nunca se sabe se um hotel de quatro estrelas é mesmo de quatro estrelas. Aquele era. E ao preço de um de três. O Hotel Grand Tiberio tinha-nos reservado um quarto espaçoso e muito bem decorado no seu último andar, com ar condicionado, chuveiro de massagem, chinelinhos, roupões, cremes, geles e shampoos, varanda com espreguiçadeiras e vista sobre a cidade. Um luxo! :)
Apreciada a vista e arrumadas as malas, achámos boa ideia não demorarmos muito para ir jantar, uma vez não conhecíamos a área e não podíamos correr o rico de ficarmos sem comer. Apesar de nos terem informado de que havia um autocarro que passava quase á porta do hotel, achámos melhor esperar até ao dia seguinte para comprar de manhãzinha o bilhete dos transportes válido para sete dias e ir dar uma volta a pé para conhecer o bairro.
Segundo o meu gajo: “O Vaticano é logo ali! Basta descer a rua e damos com os c***** no muro da cidade!” De facto, lá ao fundo, a cúpula de São Pedro dominava a paisagem. E então descemos. Já perto da estação de metro de Cipro (10 a 15 minutos a andar), encontrámos, aquele que passou a ser “o nosso” restaurante. Prato a 6 ou 7 euros! Um achado!
Comidos a lasagna e o tagliateli, lá fomos de encontro ao muro do Vaticano. Só faltava contorná-lo… Mais 10 minutos a andar e lá demos com a entrada dos Museus do Vaticano, mas, para achar a Praça de são Pedro, tínhamos de continuar a contornar o maldito muro.
Entrámos em São Pedro pela Via di Porta Angélica, vindos da Piazza di Resurgimiento. Estava noite escura e a Guarda Suíça, abria a cancela das traseiras dos museus pelas últimas vezes. Como nós, outras dezenas de turistas fotografavam ainda a icónica praça. Seria sempre assim que a veríamos: cheia de turistas.
São Pedro é arejado. Ao contrário do que o filme 2Anjos & demónios” dá a entender, não há muito de secreto ou fechado naquele local, nem sequer de devoto ou beato… pelo menos em Agosto. O ambiente na praça, como em toda a Roma, era leve e livre e o calor torna-a irremediavelmente informal. Os turistas sentavam-se em todas as escadas e parapeitos. Toda a gente fotografava tudo, enchiam-se garrafas de água e molhava-se a cara e o corpo com a água das fontes. A Polícia do Vaticano tinha vários carros dentro da praça, em constantes rondas, mas nunca interagiu com quem quer que fosse.
À noite, a praça pareceu-me tímida, despretensiosa, mas impressionante. As estátuas dos apóstolos no cimo da Basílica, juntamente com as dezenas de estátuas que encimam as colunas da praça a tornam São Pedro belíssima. Tudo parece harmonioso e cuidado e a Basílica, colossal no topo das escadas, é a cereja em cima do bolo. Não é Fátima em dimensão, mas também tem ecrãs gigantes. Não havia fiéis ajoelhados ou beatas de preto, mas eu também não o esperava. Aqui, o cristianismo parece sóbrio, ecléctico e de bom gosto. Discreto, subtil. Bonito.
Dez minutos antes das 11h da noite, a Polícia do Vaticano começou a fechar a praça. Fechar, quer dizer… a encerrar os pequeníssimos portões que a cercam. Não se dirigiram aos turistas, mas todos nós, ordeira e calmamente, decidimos sair do Vaticano. A visita tinha sido muitíssimo agradável. Até as regas eram subtis e perceptíveis sem qualquer esforço. E, apesar de ter passado em São Pedro quase todos os dias, esta óptima primeira impressão ficou comigo o resto da viagem.
Voltar ao hotel pelo mesmo caminho e sem a opção dos transportes públicos foi duro. O corpo dava os primeiros sinais do cansaço acumulado desde as 7h da manhã e os pés começaram a doer irremediavelmente. Pelos vistos, o nosso hotel não era assim tão perto ou então nós estávamos mesmo em má forma física. Era muito cedo para estar tão dorida… mas estava-o, de facto…