sexta-feira, maio 22, 2009

Uma noite no cinema

INT. - Cinemas Dolce Vita Coimbra - NOITE

A plateia assiste, concentrada, ao tenso filme “Sinais do Futuro”. Os espectadores estão fechados dentro da sala escura há cerca de 30 minutos. Na tela, a personagem de Nicholas Cage, o protagonista, vive o Plot Point 1 (momento chave do filme em que a história está finalmente esplanada e algo acontece para fazer a personagem começar a agir). Nick, no ecrã, enfrenta uma tempestade no meio de uma auto-estrada. Parado no asfalto, descobre que a estrada está cortada pela polícia e saí do seu enorme jeep para ver o que se passa, sempre debaixo de uma chuva intensa e dramática. À frente dos olhos surge-lhe um enorme acidente - um auto-tanque tombado na auto-estrada - enquanto um polícia mal humorado lhe ordena que regresse ao seu carro. A banda sonora sugere o perigo em que a personagem se encontra. Atrás de Nick a ameaça surge inesperada. Um boing desce dos céus, descontrolado, a uma velocidade estonteante. Inclinado, a cair irremediavelmente, deixa que, com aparato, uma das asas abalroe as linhas de alta tensão que atravessam a via e vários carros parados na auto-estrada, que se incendeiam entre os gritos de quem sobrevive. No segundo seguinte, despenha-se numa bola de fogo. Neste exacto momento, a sala de cinema fica às escuras. As luzes de presença acendem-se timidamente. A plateia entreolha-se com surpresa. O silêncio, de início, é absoluto. Depois ouvem-se risadas nervosas. Por fim, alguém decide levantar-se para ir descobrir o que se passa. Antes do espectador fazer todo o caminho até ao fundo da sala, surge uma funcionária do cinema. O espectador fica a meio da escadaria, em suspenso.

FUNCIONÁRIA (Muito nervosa): Pedimos desculpa por este incidente. Houve um corte geral de electricidade na cidade de Coimbra. …Mas nós já estamos a tratar de normalizar a situação!

Silêncio de novo. Depois a plateia larga uma gargalhada em uníssono. A funcionária percebe “o erro” e retira-se…

FUNCIONÁRIA (Timidamente): …Com licença…

A jovem sai da sala apressada e os espectadores trocam piadas acerca das capacidades dos funcionários do cinema.

ESPECTADOR 1: Devem achar que são o James Bond… Vão resolver o blackout.

ESPECTADOR 2: O MacGyver! Pensam é que são o MacGyver…

E a plateia volta a rir. Mas há um nervosismo a pairar na sala.

ESPECTADOR 3 (Baixinho): Olha que o momento em que o blackout aconteceu foi bem bizarro… Fogo…

Momentos depois, a tela volta a iluminar-se para deixar ver o Nicholas Cage a correr para salvar os acidentados e as luzes de presença apagam-se. A normalidade é restaurada. Só no final do filme se voltam a ouvir comentários jocosos…

ESPECTADOR 4: Espero que da próxima vez o avião não corte as linhas de alta tensão. O pessoal que estava a ver os “Anjos & Demónios” nem deve ter percebido a causa do blackout!

Mais uma gargalhada geral e a plateia sai do cinema com um sorriso nos lábios e uma história inocente para contar aos amigos.

quarta-feira, maio 13, 2009

Preciso de FÉRIAS!!!

A dormir ou acordada, o meu cérebro anda a pregar-me partidas. Deitada na minha cama, ao acordar, ainda com a cabeça na minha doce almofada de penas, dou por mim nas Ramblas, em plena noite agitada, com ofertas de bebidas enlatas em saldos e travestis em festa. Ao acordar, os meus olhos vislumbram no tecto o Thames e a Tower Bridge. E continua. Lavo os dentes e, da noite para o dia, surge-me o odor primaveril das flores expostas debaixo do sol nas inúmeras bancas da icónica calle de Barcelona. E a sair de casa, a caminho do carro, de chave na mão, ouço o metro mais antigo do mundo e sinto o seu inconfundível tremor enquanto, na linha azul, ele pára em Piccadilly Circus. Sentada no quente dos estofos, com os sons da rua abafados, chamam-me a atenção as inúmeras vozes do Barri Gótic, dos comerciante que chamam clientes ingénuos com o engodo do desconto à Torre de Babel que são as línguas dos inúmeros turistas que por lá se passeiam à hora que devia ser da siesta. Se desvio o olhar para o céu azul, surge-me na mente a praia quase privada de Santa Cruz, na Corunha, ou a areia branca de Benidorm. Chego a sentir o calor do Mar Mediterrâneo nos pés e penso fugir da medusas. Demoro muito tempo a livrar-me destas lembranças enquanto faço o duro caminho para o escritório…
Em suma: preciso de férias!!!

quinta-feira, maio 07, 2009

Homenagem a Maria Gracinda Pechincha (Versão Editada)

Cara Prof. Maria Gracinda Pechincha,

Eu sou uma das MUITAS alunas que frequentaram as aulas de Português da Prof.. Chamo-me GK, era uma aluna pouco interessante (penso que nunca cheguei a ter mais de 13) e, olhando para trás, assumo que era também pouco ambiciosa.

Na minha turma – uma turminha “decente”, que ainda hoje deixa saudades – eu era, talvez, a menos auspiciosa no que diz respeito ao bom uso da Língua de Camões… Lembro-me até de ter tido um “Mau” num mini TPC. Recordo-me muito bem de chorar na casa de banho cheia de vergonha, mais pela mácula no meu CV sem história (boa ou má) do que por achar que isso teria alguma repercussão no meu futuro.

Mas esse tal futuro é, sem dúvida, um diabrete e quis o destino (ou a minha indecisão) que eu me tornasse numa das muitas jornalistas miseráveis desta cidade, sendo a minha ocupação diária… escrever.

No curso de Comunicação Social, professores e colegas eram unânimes ao afirmar que eu “escrevia bem”. Não era um grande elogio. Eu não “escrevia bem” como a Isabel Allende ou o Eça. Eu escrevia bem porque não punha vírgulas entre o sujeito e o predicado e não trocava as concordâncias... Era clean e eficaz. Escrevia qualquer coisinha sem hesitar. …Foi a primeira vez que percebi que os textinhos de 8 linhas que a Prof. nos obrigou a escrever todos os dias durante 3 anos serviam para mais do que desabafar sentimentos no papel (função já de si muito útil para uma adolescente)…

Fui jornalista. Pelo meio terminei o curso de Comunicação Organizacional. Entre o jornalismo e as Relações Públicas, consegui estar, ao todo, dois anos desempregada (em períodos distintos). Não parei. Escrevi um filme, alinhavei uma peça de teatro e, além dos cinco blogs de que sou autora, estou actualmente a terminar um livro. Nada disto são grandes obras. São antes brincadeirinhas de quem não consegue… não escrever! PRAGA pela qual responsabilizo a Prof..

Sou o que se pode chamar de uma pessoa sem qualquer tipo de talento, mas com uma enorme capacidade de trabalho. Não desperdiço NADA do que a vida me ensina e, talvez por isso, sou aquela que, volvidos 13 nos anos desde que nos despedimos, continua a achar que a Prof. Gracinda Pechincha foi das melhores coisas que nos aconteceu na vida. …E está na altura de o agradecer.

A “Stôra” Pechincha tentou ensinar-nos cultura geral numa altura em que já não se trabalhava para saber, mas para passar em exames. OBRIGADA. A “Stôra” Pechincha ensinou-nos a ler em vez de passar os olhos pelas histórias sem querer medir o peso das palavras. OBRIGADA. A “Stôra” Pechincha ensinou-nos a tirar o significado das palavras que são ditas e das que não são ditas num texto ou num discurso ou numa conversa. OBRIGADA. A “Stôra” Pechincha ensinou-nos a escrever com o seu TPC fetiche (textos diários de 8 linhas). OBRIGADA! A “Stôra” Pechincha ensinou-nos a PENSAR sem medo e sem censura! MUITO, MUITO, MUITO OBRIGADA!

Acredito que aprendi muito, muito, muito do que me tentou ensinar e que a minha vida foi TOTALMENTE alterada por isso. Não tenho dúvidas de que ainda hoje continuo a aprender com as lições que me deixou entranhadas na pele. E por isso agradeço e agradecerei SEMPRE.

Despeço-me, prometendo que se algum dia alguma coisa minha for publicada farei questão de a dedicar “À minha extraordinária professora de Português, Maria Gracinda Pechincha, que me ensinou a escrever e, principalmente, a pensar”.

Um beijinho MUITO, MUITO, MUITO grande,

GK