sexta-feira, dezembro 26, 2008
Natal
Detesto as prendas só porque sim, sem terem em atenção a quem se destinam. Mas também odeio que alguém se esqueça que, neste dia, embrulhe-se o que se embrulhe, convém estar algo debaixo da árvore de Natal, para que todos saibam que foram lembrados. Já não encontro significado nos cinco milhões de e-mails que recebi, mais as oito mil mensagens, não as distingo umas das outras, não sei a quem escrevi ou quem me escreveu. E, mesmo assim, prefiro esta balbúrdia ao esquecimento. Odeio as lojas e os shoppings e os cafés da esquina fechados no dia de Natal, porque não deixam outra alternativa a quem quer/precisa por todos os meios ignorar que é Natal para não cortar os pulsos. Mas, ao mesmo tempo, comove-me este tentativa geral de sossegar, de recolhimento, de silêncio, esta grande pausa universal que todos os anos somos obrigados a abraçar e que é tão marcante que, mesmo que se tente, não se consegue fugir de se sentir alguma coisa.
Detestei o meu Natal, na sua rotina idiota e embrutecedora, igual aos outros dias, mas com pausa para pensar nela. Odiei não ter comprado prendas para a minha verdadeira família, composta por seis ou sete mulheres minhas amigas que significam mais para mim do que elas sequer imaginam. Cortou-me o coração ficar em casa, sentada, dormente, em frente à televisão, sem um telefonema, uma mensagem, um encontro com qualquer delas, porque os telefonemas nestas datas fazem-se para a família-família, as mensagens mandam-se enquanto as operadoras não as taxam e os encontros com “os amigos” guardam-se para os dias em que não é Natal.
Sinto-me dormente. Tenho vontade de odiar o Natal e as suas luzes e os seus sentimentos genuínos e os seus presentes e as suas campanhas, mais o homem de vermelho e o próprio Menino Jesus, as suas obrigações e obrigatoriedades não negociáveis. E, mesmo assim, por momentos, ocorre-me o pensamento de que, na verdade, sou eu, de todos os que conheço, quem deposita mais esperanças nestes dias de pausa da humanidade, quem mais procura a perfeição dos pensamentos e as mãos dadas, quem mais espera a ternura e o carinho prometidos que insistem em escapar-me (escapar-nos…?) por entre os dedos…
segunda-feira, dezembro 22, 2008
BOAS FESTAS
CARTA AO PAI NATAL
Original: All I Want For Christmas is You
Letra: Vasco Palmeirim, el Maestro
Escrevo-te mais uma vez
Meu querido Pai Natal
Este ano portei-me bem
Nao tenho registo criminal
E há uma coisa que não esqueço
e é isso mesmo que te peço
Quero um Natal
Com a Rádio Comercial!
Quero ver o Natal nas ruas
Faça frio ou faça sol
Quero encher-me de rabanadas
Sem afectar o colestrol
Quero conhecer o Obama
e cantar com a Lenita Gentil
Quero ver a selecção
a não levar seis do Brasil
E há uma coisa que não esqueço
e é isso mesmo que te peço
Quero um Natal
Com a Rádio Comercial!
Quero sonhos e azevias
E bacalhau com pouco sal
Quero ver a Heidi Klum
Vestida de Mãe Natal
Quero a família reunida
E os presentes do costume
As peúgas, as cuecas, as meias, as agendas
E o belo do perfume
E há uma coisa que não esqueço
e é isso mesmo que te peço
Quero um Natal
Com a Rádio Comercial!
Quero visitar os meus primos de França
E eu não quero saber o quanto marca a balança
E por todo o Portugal
Ouve-se a Comercial
Não há outro som que seja mais bonito
Bonito, bonito... são as canções do Tozé Brito
Desejo sorte e saudinha
Para si e para os seus
Pra mim, quero discos de platina
E tocar nos Coliseus
E há uma coisa que não esqueço
e é isso mesmo que te peço
Quero um Natal
Com a Rádio... Comercial!!!
Bom Natal com a Comercial!!!
PS - Ouço-os todas as manhãs. Achei que era uma boa forma de desejar umas BOAS FESTAS a todos. :)
quinta-feira, dezembro 18, 2008
Síndrome do Patinho Feio
Chorava compulsivamente, sozinha no escritório, enquanto falava com ele pelo Skype.
“Você tem a síndrome do Patinho Feio!”, escreveu por fim. E depois tentou convencer-me de que eu via o mundo sempre nos meus ombros e as coisas não eram bem assim. Disse-me que eu tinha de parar de assumir culpas que não eram minhas ou que, no mínimo, eram partilhadas e que tinha de deixar de ser tão dramática. Garantiu que aquela era a última vez que me ia dizer que confiava em mim e que eu tinha de arranjar maneira de ter mais confiança em mim própria. “Confiança é tudo!”, reforçou, “Olhe para mim!”.
O meu chefe é uma espécie de Mourinho, mas em afável. Um tipo cheio de genica, que pinta sempre quem é, o que faz e aqueles com quem trabalha com uns pozinhos de optimismo a mais do que a realidade. E a verdade é que resulta. As pessoas tornam-se aquilo que ele espera, os acontecimentos quase sempre acabam por lhe ser benéficos e aos quarenta e poucos é uma das pessoas mais conceituadas da área em que trabalha NO MUNDO! E garante-me que só chegou onde chegou porque NUNCA duvida dele próprio.
Na altura acho que acabei por não lhe responder. Ou, se respondi, foi com algum smiley banal. Ontem voltei a lembrar-me do que ele me disse....
A verdade é que, sim!, eu tenho a Síndrome do Patinho Feio. Na vida profissional, na vida pessoal e na vida amorosa. Assumo as culpas de tudo o que corre mal. Não raras vezes, analiso algo que correu bem de forma enviesada e imagino que, na verdade, não foi perfeito e assumo que é culpa minha! É esse o meu padrão.
Analiso e analiso-me tentando encontrar formas de fazer com que não se repita. Sinto que as pessoas todas me julgam no mau sentido, quando, na maior parte das vezes, esse julgamento só existe na minha cabeça. Sinto inúmeras vezes que falhei ou que não estive à altura e preparo-me para as consequências… que raramente chegam. E, como não chegam, ponho os espinhos de fora. Desmotivo-me. Imagino que estão à espera de um momento mais oportuno para me dizerem o que pensam. Ou, pior, nunca o dirão. Mas acredito que a minha falha foi notada e anotada e, por isso, aguardo o dia do “julgamento final” com impaciência.
A minha relação com o meu namorado também é assim. Sinto que o negligencio, embora ele não se queixe. Prometo mudar, embora ele não mo peça. Juro que serei melhor, embora ele garanta que existe em mim algum tipo de perfeição idílica que eu não identifico nem nunca vi existir.
Ontem, após mais uma mensagem com todos estes juramentos, lembrei-me das palavras do meu chefe...
Será que é tudo ilusão da minha cabecinha? Será que eu sou boa namorada? Boa profissional? Boa amiga? Será? Não sei porquê, por mais respirações zen e sessões de relaxamento em que participe, acho que vai ser preciso o mundo virar do avesso para que eu acredite nisto. Eu, para já, só consigo acreditar que tento, que me dedico-me, que invisto, às vezes demais, já que me consome de self pity por sentir que nunca chego onde quero ou a ser quem quero… É tudo uma questão de objectivos, ou não?
Deus, se existes, que tal uma formatação nova aqui ao cérebro da menina como prenda de Natal…?
quarta-feira, dezembro 10, 2008
Programa de ontem...
CANTORA DE COIMBRA ACTUA EM NOME PRÓPRIO*
Aos 29 anos, Ana Sofia Gonçalves vê cumprido um sonho antigo: cantar, em nome próprio, para uma plateia do seu distrito. Já com um vasto currículo na área e uma carreira construída maioritariamente na zona de Lisboa, esta noite, Ana Sofia actua no Casino da Figueira da Foz, juntando-se, na agenda de Dezembro, a nomes como Vânia Fernandes ou Denisa, conhecidas pela participação no programa televisivo “Operação Triunfo.
Foi a ver os grupos juvenis como os “Onda Choc”, os “Ministars” ou os “Malta Pop” que Ana Sofia Gonçalves decidiu que ia ser cantora. A determinação era tal que os pais acabaram por se render e deslocaram-se a Lisboa frequentemente para que a menina participasse em castings da área. O esforço valeu-lhe a primeira oportunidade: conseguiu entrar nos “Malta Pop”.
Este foi o primeiro passo de um longo caminho. Determinada a ser cada vez melhor, a jovem cantora de Coimbra nunca virou as costas a um desafio, nem perdeu qualquer oportunidade para aprender. Terminado o curso de Comunicação Social na Escola Superior de Educação Coimbra e após uma passagem pelo curso de Canto no Conservatório de Coimbra, Ana Sofia tomou a difícil decisão de se mudar para Lisboa. Acreditava que era lá que iria encontrar novas oportunidades. Para trás ficavam muitas actuações, em nome próprio e em grupo, em festas de rádios, galas e espectáculos de solidariedade.
“Trabalhar, trabalhar, trabalhar" era o seu lema. E o caminho foi-se fazendo… Entre 2001 e 2003, foi vocalista do grupo de Dance Music “TWT”, com um álbum editado em 2002 e actuações ao vivo por todo o país, rádios e TV. Foi um dos elementos do coro do espectáculo do cantor Luís Filipe Reis, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, em Fevereiro de 2005, que teve uma edição em DVD. Em 2004 e 2005, foi a voz feminina dos “FEEL”, actuando em bares da zona de Lisboa, actividade que passou a desempenhar um pouco por todo o país desde Março de 2006. É, desde 2005, um dos elementos do coro da banda do cantor Marco Paulo, tendo actuado ao vivo por todo o país e em inúmeros programas de TV. Foi também elemento do coro da canção vencedora do Festival RTP da Canção 2007, “Dança Comigo (Vem Ser Feliz)”, que representou Portugal em Helsínquia, na semi-final do Festival Eurovisão da Canção 2007. Teve ainda uma breve passagem pela banda Hip Hop/R&B “Soulmates”, de Março a Agosto de 2007. Actualmente, além dos espectáculos de Marco Paulo, integra dois projectos musicais, os “32Be” (http://www.myspace.com/32be) e os “Feel It” (http://www.myspace.com/feelit2008),%20formações com músicos experientes que começam agora a introduzir alguns originais nos espectáculos ao vivo que fazem em festas e bares um pouco por todo o país.
Durante este percurso, Ana Sofia Gonçalves nunca deixou de apostar na formação, quer como cantora, quer como actriz, actividade que mantém em paralelo com as cantigas. Frequentando sucessivamente cursos e workshops, teve a oportunidade de participar em dois musicais - “Peter Pan” (no qual desempenhou a personagem de “Wendy”) e “High School Musical” -, que estiveram em cena, em Lisboa e no Porto, durante os anos de 2007 e 2008. Conseguiu ainda dar vida à personagem “Odete” em “Fascínios”, a recente novela da TVI.
No Casino da Figueira da Foz, Ana Sofia Gonçalves (http://anasofiagon.hi5.com/) é acompanhada por Pedro Brito (http://www.myspace.com/peterbrite), na guitarra, e Luís Runa (http://www.myspace.com/lruna), nos teclados, músicos que integram os “32Be” e os “Feel It”. De entre o vasto reportório preparado pelo grupo (que vai do Hip Hop ao Rock, da Pop aos grandes clássicos da música portuguesa), a escolha para esta noite caiu sobre temas românticos e velhos êxitos, quer da música portuguesa quer da anglo-saxónica. Uma aposta sóbria para o ambiente requintado do Casino da Figueira da Foz, local onde actuam hoje, pela segunda noite consecutiva.
quinta-feira, dezembro 04, 2008
quinta-feira, novembro 27, 2008
Pressa de viver
Admito que andei aí uns tempos em me era difícil parar para respirar sem sentir as lágrimas à espreita. Mas já não chamo a isso “andar deprimida”. É a vida. A minha, pelo menos. Ciclicamente é simplesmente assim.
Agora ando impaciente. Deve ser este sol fresco de Inverno que me ilumina a alma com promessas ténues que tenho de correr para agarrar. E hoje corro.
Ando cheia de vontade de mudar de objectivos. Pouco a pouco, tenho concretizado aquilo a que – agora sem pressas – me proponho e isso tem sido, na verdade, uma surpresa. Sabe bem ser “certinha”, quer em tarefas a terminar, quer em dívidas a saldar. Agora anseio por outras tarefas e outras dívidas. Tenho pressa em chegar ao fim destas obrigações e arranjar novos desafios. Preciso de novidades. E, ao contrário do habitual, acredito merecê-las. Acredito que posso tê-las.
Aguardo o novo ano com expectativa. Algo está a mudar.
Mal posso esperar para poder começar a poder gastar dinheiro em mim. Para sentir que estou a tornar-me aquilo que quero ser. Por chegar ao computador e escolher um destino longínquo e ir… Preciso de ir. E, desta vez, sinto que posso ir…
And now for something completely different… Aqui fica um desafio que fui convidada a aceitar. :)
Desafio da Isa e da Yargo
1 - O desafio consiste no seguinte:
1º temos que mencionar as regras,
2º escrever uma lista de 8 coisas que sonhamos fazer,
3º desafiar 8 cobaias para responder ao desafio,
4º fazer um comentário no Blog que nos desafiou,
5º e último avisar os desafiados para que saibam que foram desafiados...
O primeiro ponto cá está, mas aviso já que não vou cumprir as regras todas!!! :)
2 - Ora, então… Oito coisas que queira fazer? Hum…
1. Viajar para um país diferente a cada dois anos, give or take, até chegar a Vancouver, no Canadá;
2. Descobrir a minha vocação e ser feliz perseguindo-a;
3. Ter um ninho próprio. A casa dos pais já não chega;
4. Publicar qualquer coisa em nome próprio (e não me refiro a notícias de jornal ou blogs. Had enough of those!);
5. Continuar a ir a MUITOS concertos, em Portugal e no estrangeiro;
6. Fazer os possíveis por me manter saudável física e emocionalmente, melhorando de dia para dia;
7. Lutar por ter sempre estabilidade financeira;
8. Saber amar quem me ama (Podia ter posto o ponto final em "Saber amar.").
Nota de rodapé - Aqui diz coisas que queremos fazer. Deduzi que são coisas que dependem de nós… Eu também gostava de ganhar o Euromilhões, mas, apesar de meter o boletim de vez em quando, isso não depende de mim…
3 – Não vou desafiar oito cobaias! Sou sempre a favor da liberdade. Quem quiser aceitar o desafio, pode fazê-lo! ;)
4 - O resto já fiz antes de escrever isto… :)
quinta-feira, novembro 20, 2008
Tanto e tão pouco
Não sei o que tenho hoje. Não me apetece pensar.
Apetece-me escrever palavras sem nexo e sem alma, para que não me conheçam mais do que eu conheço a mim própria.
E o que sei, afinal?
Sei que espero. Espero sempre. Dia após dia. Semana após semana. Espero. Espero pelo fim ou pelo princípio? Não sei. Aguardo sabê-lo também.
Não sei em que acredito nem se quero acreditar. Sei que estou cansada e que queria arrancar esta frustração de dentro de mim. Esta sombra permanente que me espreita como se eu não pudesse ter nada sem duvidar. Canso-me e luto ou penso que luto por algo melhor. Mas a sombra não me deixa. Dá-me tempo para me entusiasmar e depois volta e arranca-me a vida pela base. Volta sempre. Negra.
Canso-me de chorar e para não chorar deixo de dormir para continuar dormente. Canso-me de me queixar e quando me calo rebento de solidão. Canso-me de viver e morrer. E canso-me de esperar. De esperar sempre.
quinta-feira, novembro 13, 2008
O legado
Entreguei a carteira profissional de jornalista e virei-me para as Relações Públicas / Assessoria de Imprensa. Não me arrependo. Mas também é verdade que, ao fim de um ano, já não acordo todos os dias à espera de desafios. E, ontem, já à tardinha, depois de um dia de sol simpático que se pôr bem em frente à vidraça da porta do meu escritório junto ao rio Mondego e deu lugar à escuridão, tive uma conversa com o meu chefe pelo Skype.
Voltámos a digladiar-nos sobre coisas básicas. Aparentemente, encaramos o meu trabalho de forma diferente: ele acha que a minha função é tráfico de influências (não é surpreendente, eu própria temi que fosse esse o dever de um RP); eu, ingénua, acho que é tornar o projecto interessante o suficiente para não ter de mover influência nenhuma. Tenho-o conseguido… Até porque não tenho influência nenhuma sobre ninguém e não quero ter. Aí reside a minha ingenuidade.
Por isso, vou ter de mudar de profissão yet again. Porque deixar de ser ingénua não quero, nem consigo.
Na mesma conversa, por brincadeira e a propósito de um evento que estamos a organizar e que envolve aviões, falámos da possibilidade de eu, um dia, vir a ter um avião. Eu, meia a brincar, meia a sério, disse-lhe que me desse 15 anos e eu teria um avião! Para o meu chefe, se isso um dia acontecesse, seria porque eu daqui a 15 anos estaria a dirigir um grande grupo de media. Para mim… A verdade é que não sei porque seria.
O que é que, na realidade, eu estou a fazer para ter um avião daqui a 15 anos?
Já cheguei à conclusão que esta profissão também não é para mim (atenção ao “também”!). Não estou a fazer nada em paralelo que me faça subir a escada social e económica… Ou antes, até estou. Mas se nessas “coisinhas” existisse talento, já alguém teria tido interesse nelas. Não lhes dedico sequer tempo suficiente (não o tenho!) para que melhorem, para que se “refinem” ou para que me dêem a satisfação que procuro.
Os arquitectos, os escritores, os músicos, os académicos… Esses deixam legado. É garantido! Com ou sem aviões ao fim de 15 anos, ficará na Terra a prova de que existiram. Perdoem-me a imodéstia, mas também eu procuro uma forma de cá ficar, de dar significado à minha vida, de deixar algo que produza um efeito no mundo ou apenas em parte dele. Não a achei ainda.
Não acredito já que o meu trabalho diário, o filme que escrevi, o livro que esbocei, ou a peça que planeio me dêem a imortalidade. Nem os cursos de teatro e de fotografia ou os de ciências forenses… Nem sequer as viagens e loucuras que faço todos os anos… Duvido vir a ter coragem de efectuar uma mudança verdadeiramente drástica de rumo e começar tudo de novo. Já não tenho fé para isso. Farto-me de lutar, recuso resignar-me, mas não tenho ainda resposta para a amiga que me pergunta incessantemente: “Estamos a ficar cotas, quando é que fazemos alguma coisa pela nossa vida?”…
…É que houve alturas em que eu tinha a certeza que estava fazer exactamente isso: algo pela minha vida!… Afinal…
quinta-feira, novembro 06, 2008
Remains
A minha história está discutida, analisada, assumida. Não há muito mais a fazer a não ser enfrentá-la e esperar que algo mude, uma vez que eu já mudei. O meu pai já não me intimida, já não me assusta, já não me consegue humilhar… Mas consegue ainda magoar. E muito.
Mesmo com as coisas “resolvidas” dentro de mim (ou talvez exactamente por isso!), há uma verdade à qual eu não posso fugir: TUDO o que eu sou vem dali. TUDO.
Eu sou agressiva quando estou a defender as minhas ideias, porque só na base do conflito é que eu conseguia levar a melhor. (“A melhor” sendo fazer o que me apetece. Mas sem apoio de ninguém…)
Eu não acredito no casamento, porque nunca o vi funcionar.
Eu não quero ter filhos porque não quero dar cabo da vida de ninguém, como deram cabo da minha. E porque há sempre algo que os filhos não perdoam aos pais. E eu não conseguiria viver com isso. Muito menos com o facto de um dia de mais stress, inevitavelmente, tratar o meu puto como o meu pai me tratou a mim.
Eu sou independente, porque nunca contei com a verdadeira ajuda dos meus pais para nada.
Eu sou solitária e tenho dificuldade em pedir ajuda pelo mesmo motivo.
Eu sou desconfiada, descrente e cínica perante as coisas boas da vida, porque o meu pai me ensinou que este mundo existe para te lixar e provou-o.
Eu oscilo entre a humildade excessiva e o orgulho e a auto-confiança, porque vivi sempre com medo e, por fim, tive de aprender a reagir sozinha e conseguir coisas sozinha a acreditar que “sim, é possível” sozinha… E a ter vitórias sozinha. Isso torna-nos estupidamente orgulhosos, porque nos tornamos sólidos. Mas acabamos por não aprender a partilhar tristezas ou vitórias. E não há forma maior de solidão nem maior castigo do que não saber partilhar vitórias.
Eu, bem no fundo, acho que nunca vou ser mais do que uma miserável que nunca vai conseguir nada de bom na vida, porque o meu pai me ensinou a olhar para mim assim e acredita que quando olhamos para nós próprios e achamos que merecemos mais do que o que temos é soberba.
Quando tudo está mal, eu não penso em matar-me. Penso em fazer a mala e partir. Porque sempre sonhei desaparecer da vista do meu pai para sempre, não castigar-me sem retorno.
Claro que ele também me conseguiu transmitir bons valores.
Eu já referi que o meu pai é um bom homem. Humilde, trabalhador, moral. Sou tudo isto. E mais.
quinta-feira, outubro 30, 2008
O meu pai - The sequel
Eu não suporto o meu pai. E, sobre isto, disseram-me: “tenta”, “se queres fazer algo sobre o assunto, é agora que tens de o fazer”, “eu não conseguia viver assim” e até houve uma amiga que me perguntou se isto era mesmo verdade...
Pois bem, são 30 anos de tentativas falhadas. O que é que é suposto eu fazer? Humilhar-me? Suplicar? Auto flagelar-me? Digam-me por favor, se é que conhecem soluções mágicas. Porque francamente, ao ponto a que as coisas chegaram, a minha luta é por não lhe dar importância o suficiente para que continue a conseguir magoar-me. Esta é a MINHA solução. E já sei que, desta forma, se houver uma próxima vida (porque nesta já não se resolve nada, trust me!), vou “levar com ele” outra vez. Eu sei disso!
Quanto a “não conseguir viver assim” é bonito. Mas digam-me, o que fariam então? Sairiam de casa? Com que dinheiro? Lembrem-se que o papá não vai ajudar! Deixavam a vossa mãe de 74 anos à mercê da estupidez do marido? Ou obrigavam-na agora a sair também? Vá! Digam lá, por favor.
Quanto a perguntarem-me se é verdade… Sim, é verdade. É verdade desde que me lembro. Desde que me lembro o meu pai confunde o conceito de respeito com o de medo. Só que agora EU já não os confundo.
Diz-me, Ka, tu que duvidaste, porque é que achas que eu não procuro ninguém quando preciso de ajuda? Eu tenho uma teoria... Quando era miúda e procurava os meus pais com um problema próprio da idade tinha duas respostas possíveis: 1. Uma ameaça. 2. “Shhh! Não digas isso que o teu pai pode ouvir!”. É isto que eu sempre tive. E, portanto, habituei-me a resolver tudo sozinha.
Um exemplo? Tinha 11 anos no dia em que pela primeira vez confessei à minha mãe que sentia algo mais do que amizade por um colega. Tive a infelicidade de o meu pai ouvir. Antes de a minha mãe me responder, o meu pai disse-me que eu tivesse juízo, porque se eu me transformasse numa puta, punha-me na rua e eu teria de trabalhar para viver em vez de viver no bem bom às custas dele e andar a estudar. Vou repetir: eu tinha 11 anos. Nem sequer conhecia muito bem o conceito de sexo…
Mas não me interpretem mal. O meu pai é um bom homem. Um homem trabalhador e honesto e moral. Muito moral. Com uma moralidade à prova de bala. Tão à prova de bala que confunde sentimentos com depravações. E não sabe amar. Amar, para ele, é manter sob controlo. Quem não lhe obedece, não o ama. E, por isso, uma ou outra ameaça física ou uma ou outra surra ao longo da vida não foi culpa dele. Foi nossa.
Ora, uma criança não sabe que nas outras casas é diferente. Mas uma adolescente começa a perceber que sim. E uma mulher adulta não tem dúvidas.
Portanto, por favor – e mais uma vez, PERDOEM-ME a agressividade – não me dêem lições se não passaram pelo mesmo, OK? Não tenham ideias românticas de que com uma conversa séria tudo se resolve, se nunca se ajoelharam em frente ao V. pai a pedir, por amor de Deus, uma consulta de terapia familiar e receberam um empurrão trocista e uma ameaça em troca, OK? Não me digam o que fazer, se nunca viram a vossa mãe levar um estalo à vossa frente, OK?
Ah! Desculpem. Isto também foi culpa minha. Quando eu era miúda, o meu pai mandava-me sempre sair da sala quando ia… hum… chatear-se (?) com na minha mãe. Eu é que, dessa vez, por acaso, voltei para lhe pedir desculpa por qualquer coisa que tenha feito. Afinal, a culpa de ele estar tão zangado era seguramente minha. Logo, eu é que tinha colocado a minha mãe em maus lençóis, como sempre. Eu tentei pedir desculpa para o evitar… Parece que não cheguei a tempo…
Na verdade, não sei quantas vezes não pedi desculpa nem quantas vezes eles me mandou sair da sala. Demorei um bocado a perceber o que se passava quando eu saía da sala. Esse é um dos meus fantasmas… Quantas vezes? Era frequente? Não era? Eu podia tê-lo evitado…?
Sei que, agora, não saio da sala nem ele me manda sair. Mas dou graças a Deus por sair todas as manhãs de casa. Porque estive desempregada um ano e meio e perdi a conta às vezes em que acordava com o meu pai a insultar a minha mãe. Mas não interpretem mal, por favor! Não são cenas desagradáveis. Não. Ele CONVERSA com a minha mãe. Muito. Ele conversa dando-lhe ordens e dizendo que ela é estúpida e inútil e gorda e etc. Nada de gritos. Até porque a minha mãe não responde. Não há motivos para gritar. E também não há motivos para eu interferir. Ele não me manda sair da sala, mas eu não sei o que se passa quando saio de casa. Por isso, não vale a pena enervá-lo mais. Bastava mostrar que estava acordada e a ouvir e ele calava-se. Até à vez seguinte. Talvez amanhã. Talvez apenas quando eu não estivesse a ouvir.
Mas digam-me, devemos sair de casa (Para onde? Para alguma instituição de acolhimento? E depois vou trabalhar para o meu emprego altamente qualificado, de gente a quem isto não acontece, no dia seguinte, certo?) e deixar um velho de 73 anos totalmente dependente a viver sozinho, inundado de merda e fome? Sim, porque ele é COMPLETAMENTE dependente da minha mãe. Não por necessidade, mas por criancice. Não conseguiria estrelar um ovo, mesmo que a vida dependesse disso. Não lavaria uma camisa, não pegaria numa vassoura. Nem tão pouco sabe que comprimidos toma e para quê! Deixariam AGORA um velho inútil, que já não tem força para concretizar as ameaças que faz, sozinho, à sua mercê? Agora?
Por favor… Não me dêem, por isso, lições. Não me façam sentir que não fiz o que podia fazer e até mais do que isso. Não me digam que algo pode mudar porque é essa merda dessa crença que me apanha desprevenida de vez em quando e me faz continuar a chorar, agora não de tristeza ou culpa, como tanta vezes em miúda, mas de raiva pura por deixar que ele ainda tenha a capacidade de me magoar. Como no dia em que deu entrada no hospital e estava um cordeirinho totalmente dependente da opinião da mulher e da filha que tanto ama…
Esse é outro fantasma. O meu pai é um senhor muito simpático para a maior parte das pessoas. As minhas amigas acham-no um porreiraço. É difícil explicar que as moedas também têm duas faces. Até eu tenho dificuldade em ver isso às vezes. E é isso que eu não me perdoo. Não sou burra. Mas às vezes pareço. Porque, como vocês, às vezes também quero acreditar…
segunda-feira, outubro 27, 2008
O meu pai
Quando era mais nova, culpava-o pela minha infelicidade. Agora que cresci… faço o mesmo! Tudo o que de mau eu herdei veio dele. Tudo o que ele me ensinou deu errado. Tudo o que me quer ainda ensinar, eu rejeito.
Detesto a forma como me ama. Odeio o que quer para mim. Não suporto os valores e princípios que tem. Não o suporto a ele.
O meu pai pôs um pacemaker a semana passada. Levá-lo ao hospital desenterrou tudo o que eu tinha conseguido esconder debaixo do tapete para conforto dos dois. Apesar de vivermos na mesma casa, ignorávamo-nos mutuamente com grande sucesso até aquele dia. Ele a fingir que se preocupa comigo, e eu a fingir que isso me enternece.
Naquele dia descobri que não consigo segurar-lhe na mão. Não tenho jeito para o confortar. Não suporto estar ao pé dele, quer esteja doente ou saudável. TUDO o que faz ou que lhe acontece irrita-me mais do que me preocupa. Não o consigo evitar. E muito menos fingir.
Também já não sinto culpa pela situação ser como é. Não a sinto porque me recuso a senti-la sozinha e com ele não posso contar para a partilhar, já que, na cabeça daquela criança de 73 anos, eu é que sou a má da fita.
Não há diálogo. Não há razoabilidade. E estou cansada de birras. Sempre as fez mais do que eu, mesmo quando eu era criança.
No dia em que regressou a casa quis-me bater, o velho! Nem para se preservar consegue estar quieto. Coitado. Não percebe que se me toca, agora, leva troco, com ou sem pacemaker. Não acreditou quando lho disse. Ainda bem que só distribuiu murros pela mobília…
…E ainda pensa que tem família. Família? Família é ter pessoas que nos amam. O que ele tem é uma ilusão. E só.
quarta-feira, outubro 15, 2008
Diferenças de género*
_Não estão na tua mala de viagem? Levaste-os para o Algarve, lembraste? – Respondeu ela prontamente sem dar demasiada atenção ao assunto. Na verdade, a hipótese era bastante remota. Já tinham passado dois meses desde as férias no Algarve...
Mas ele levanta-se de rompante e desaparece para o quarto sob o olhar admirado da rapariga.
_ESTÃO AQUI! – Grita eufórico do quarto! – Volta à sala e beija-a com ternura. Ela tinha-o salvo…
_ Bebé, preciso de um casaco de Inverno. Podias vir comigo dar umas voltinhas às lojas. Sabes que eu valorizo a tua opinião… Além disso, és o meu melhor amigo… - Ela tentava convencê-lo com aquele ar de garota traquina e olhar terno.
_Ohhhh. – Responde ele esparramado na cadeira. – Estou TÃO cansado hoje…
Ela não insiste. Não vale a pena…
Olha para ele enquanto passa nos lábios o baton de cieiro que comprou há dois ou três dias. Não é o da marca habitual, porque esse estava esgotado, mas, apesar de não ter visto o efeito ao espelho, ela acredita que este lhe dá o mesmo brilho – apenas brilho – aos lábios que o outro, um brilho simples que lhe é característico, uma vez que não costuma usar maquilhagem. No olhar tem um misto de mágoa e condescendência.
_Ohhh, não me odeies. – Diz ele adivinhando-lhe os pensamentos.
Não havia nada a fazer. A conversa ficou por ali. Sem mágoas.
Foi já em casa dela, sozinha, que finalmente se olhou ao espelho… O baton que ela acreditava dar-lhe apenas brilho aos lábios, deixava-lhe, na verdade, um rasto vermelhão vivo na boca, que lhe realçava todas as imperfeições da cara de pele branca. E, como não costuma usar maquilhagem, nunca teve a preocupação de delinear os lábios com cuidado, pelo que, a “pintura” era tosta e desmazelada. Andava nesta figura desde que comprou o baton e o enfiou, descontraída, na carteira HÁ DOIS OU TRÊS DIAS!
_Não acredito! – Disse para a palhaça que olhava para ela do espelho. – Não posso crer que NINGUÉM tenha achado estranho! Meu Deus! Não acredito que ELE não me tenha dito nada!...
Moral da história: As mulheres salvam SEMPRE o dia aos seus homens. Os homens mal olham para as suas mulheres.
* Post partilhado com o blog Cardos & Prosas.
quinta-feira, outubro 09, 2008
Longo Inverno...
Eu bem tento olhar para tudo com distanciamento, já “dando o desconto”, mas a verdade é que não tenho hipóteses nenhumas!
Não encaixo.
Ora é porque não suporto as “diferenças” entra quem chega a chefe e quem não está talhado para isso (que é o meu caso, claríssimamente!), ora é porque não suporto as superficialidades do mundo que me rodeia, ora é porque estou farta de me sentir desvalorizada, até quando tenho a certeza do que estou a fazer.
Três episódios simples…
Chove a potes. Dois guarda-chuvas descansam junto à porta de entrada da empresa. Termina uma reunião com o Presidente do Conselho de Administração. Ele chega à porta, pega indiscriminadamente num dos guarda-chuvas e pergunta:
_De quem é isto?
Uma das colaboradoras acusou-se...
Resposta do chefe:
_Bom, agora é meu. Quer dizer… Eu depois devolvo-lho… Ou antes… Na verdade, as probabilidades de lho devolver são muito escassas. …Bom, vou levá-lo.
E foi-se.
Isto é para rir? Ou para chorar?
Numa visita a uma amiga que fez uma redução de estômago, uma outra amiga esteve, como sempre, a dar-lhe dicas de dieta. É habitual. Quando alguém fica privado de comer, fala-se em comida; quando alguém fica privado de tomar banho, fala-se de higiene, etc. Mas durante toda aquela visita se falou de dicas de emagrecimento. Deram-se lições…
À noite, num jantar colectivo de gajas, a perita em dietas encheu o prato de sobremesas que eram em buffet…
Isto é para rir? Ou para chorar?
Ou devo catalogar aquilo no file “futilidades”?! …Como aquelas em que se comenta a gordura da Jennifer Lopez que está ÓPTIMA apesar de APENAS há oito meses ter tido DOIS filhos GÉMEOS! Ou como as alusões às rugas do Pierce Brosnan que eu nunca cheguei a ver, apesar de ter tido o privilégio de “conhecer” o senhor…
Talvez eu seja cega…
Eu prefiro acreditar que, em vez de ser cega, a dose normal de futilidade presente no ser humano não me foi distribuída por altura da criação!...
Mas mesmo sem a dose “regular”, queixo-me do meu rabo e dos meus dentes e recebo aplausos quando digo que quero mudar algo em mim…
Isto é para rir? Ou para chorar?
Sou RP. É o meu trabalho. E ex-jornalista. Embora por vezes duvide das minhas capacidades, sei EXACTAMENTE como funciona isto dos media e o que “vende” na Comunicação Social. Sei qual deve ser o comportamento perante quase todas as situações em que seja necessário um contacto directo com a imprensa. Em suma: é o meu trabalho. E eu SOU competente (FODA-SE!!! EU SOU competente!).
Mas o meu chefe não percebe que quando eu lhe dou um conselho que ele não segue, está a “habilitar-se”… Não percebe que, quando eu lhe digo “É assim!”, não lhe estou a dar uma opinião oca, estou a dar-lhe um conselho ESTRATÉGICO pelo o qual supostamente ele me paga um salário!
…Depois os media publicam merdas onde criticam o MEU trabalho!
Mas isso não incomoda o meu chefe, que não percebe que não é só o nome dele que está em jogo. Não percebe que o MEU nome, por pequeno que seja, também está em jogo nesta cidade que é, na verdade, uma aldeia onde ninguém se esquece dos erros dos outros.
Para o meu chefe, as críticas ao meu trabalho são fait divers. Ao passo que, quando está ele na boca do lobo, fala em processos judiciais.
Mas como todos os miseráveis deste país… Eu PRECISO do salário…
Isto é para rir? Ou para chorar?
Estou cansada.
O zen parece-me cada vez mais inalcançável.
E, batam-me, porque estou a “ser gaja” demais!
O que vale é que a maturidade nos dá para encolher os ombros em vez de chorar…
Mesmo assim… vai ser um loooooooongo Inverno….
quinta-feira, outubro 02, 2008
O stress da estrada
_Olha-me para este f**** da p***! Olha-me bem para o gajo parado com meio carro em cima de passeio e meio carro no meio da estrada depois de uma curva, hem…?! Lindo! Quem te partisse esses dentes aos pontapés levava um beijo meu, pá!
E sigo viagem. Serena. Até à próxima rua em que já sei que vou encontrar idiotas...
_ Ora, vamos lá ver hoje quem é o caramelo que decide ultrapassar-me, a mim, que vou a 50 km/h, numa rua cujo limite é… 50 Km/h! …Ora, cá está…. Lá vai ele… Quem te amassa-se essa cara toda era o meu herói, oh boi!!! Agora cá estamos nós, meu energúmeno, meu cabrão!, todos juntinhos no sinal vermelho. O que é que ganhaste com a proeza, hem?, meu estúpido?!
À hora de almoço, normalmente lá vai mais um desabafo:
_Olha, lá vem mais uma tia de BM a buzinar atrás de mim! Oh, minha p***, não vês que o limite é setenta?! Se o teu carro voa, passa por cima, oh idiota!
Olhando para mim, ninguém diria que da minha boca podem sair tanta água de esgoto. Ninguém… quer dizer… Só se forem os transeuntes que me ouvem enquanto passo de janela aberta… Às vezes, esqueço-me que ela vai aberta…
quarta-feira, setembro 24, 2008
Mini-entrevista a Pedro Tochas
“Na semana passada recebi um pedido de entrevista de um blog, ao qual respondi, mas fiquei a pensar:
Que tal dar entrevistas a todos os blogs do pessoal que lê o Tochas News?
Humm...?
Pareceu-me um pedido razoável. Portanto, mandei sete perguntinhas ao Pedro, que me respondeu de um dia para o outro.
Cá fica a mini-entrevista:
GK - De que é que te orgulhas mais nesta vida?
PT - De ter seguido os meus sonhos.
GK - Qual é a tua maior frustração enquanto profissional?
PT - Ter dificuldades em divulgar o meu trabalho, mas podia ser pior.
GK - E enquanto ser humano, qual é a tua maior frustração?
PT - Ter que perder tempo a dormir, há tanta coisa que quero ler, ver e ouvir e o tempo não dá para tudo.
GK - O que é que ainda te falta fazer, enquanto profissional e enquanto ser humano?
PT - Nem sei, gosto de deixar a vida correr e ver o que acontece.
GK - Como te imaginas com 80 anos?
PT - Sinceramente acho que não passo dos 50.
GK - O "Já tenho idade para ter juízo" é EXACTAMENTE o espectáculo que queres fazer nesta altura da vida? Descreve o conceito.
PT - Yep. Porque cheguei a uma idade em que fiz essa pergunta a mim mesmo, o espectáculo é sobre isso (e outras coisas), a resposta que encontrei está no espectáculo, por isso não faltes.
GK - Define a cidade de Coimbra em comparação com outras cidades que te tenham marcado.
PT - Foi em Coimbra que nasci como Artista, onde aprendi a ver o Mundo, onde encontrei a beleza na diferença, que mais posso dizer, é a cidade que guardo no coração.
Agora, se não se importam, vão ver um dos espectáculos do Pedro Tochas para transformar esta tour num sucesso, OK?
:)
quarta-feira, setembro 17, 2008
Adoro o Tochas
Acho que gosto ainda mais do Tochas que imagino a partir dos pedaços de alma que ele vai deixando transparecer.
Gosto do Tochas agressivo que faz piadas sexys nos espectáculos de stand up comedy. Gosto do Tochas romântico que despe a alma nos espectáculos intimistas. Gosto do Tochas que sente que tem algo a passar às pessoas, mais como ser humano do que como artista. E gosto muito particularmente do Tochas que inventa espectáculos para se dar a conhecer, mas que foge e põe os espinhos de fora quando lhe tentam fazem uma pergunta que lhe exija abrir realmente o coração para responder.
Para mim, o Tochas é um solitário, um tímido muito tímido e com um coração de manteiga. Um ser auto-suficiente que se cansa de estar sozinho, mas não sabe como largar a solidão que inconscientemente escolheu. Acho que o Tochas não se identifica com o mundo que o rodeia e percorre os seus caminhos em busca de algo que o sublime, que o preencha. Duvido que o tenha encontrado. Acredito que o vai encontrando nas palavras de um miúdo que lhe chama “palhaço cool” ou nos olhos de algum velhote que ri das malandrices dos seus espectáculos e acredito que isso o faz continuar. À procura.
O Tochas que imagino reagiria com agressividade se eu tivesse acertado no seu retrato íntimo e o tivesse revelado ao mundo. Tentaria encontrar uma forma de justificar a sua raiva pela invasão a que foi sujeito com uma frase que parecesse sincera para camuflar a verdadeira sinceridade de se ver exposto.
Adoro o Tochas… O Tochas que imagino a partir de pedaços de alma que ele vai deixando transparecer. Adorava que o Tochas encontrasse tudo o que tem coragem de procurar por esse mundo fora…
PEDRO TOCHAS: http:// http://www.pedrotochas.com
quinta-feira, setembro 11, 2008
Vou fazer publicidade descarada mais uma vez. Há gente que merece!
Assim, venho convidar-vos (aos que ainda não convidei pessoalmente) a verem o primeiro vídeo que ele colocou no YouTube:
Quem achar que ele é, de facto, virtuoso (e que me deve dar emprego como manager!) e quiser saber mais sobre o seu vasto CV, pode visitar também o MySpace dele:
http://profile.myspace.com/andrevazpereira
quinta-feira, setembro 04, 2008
Mudança... ou nem por isso
Lembram-se de quando acordaram um dia e já tinham peito (ou voz grossa) e pelos púbicos? Pois… Suponho que estou numa fase assim. O que foi não volta a ser.
Olho para tudo com impaciência e cinismo. Já conheço todos os processos que um dia chegaram para me enganar. Já sei o resultado da maior parte das minhas acções e as consequências dos meus actos. Já conheço as razões das minhas alegrias e das minhas tristezas. E, talvez por monotonia, está a apetecer-me mudar tudo.
Ah, não gosto de espinafres? Venha uma tarte verde. Chateia-me usar amarelo? Olha que t-shirt amarelo canário tão gira! Não gosto de ginásios…? Aquela aula de pilates está a parecer-me interessante...
Não se chama puberdade, mas deve ter um nome.
É a famosa fase em que as pessoas começam a querer fazer o ninho para guardar quem mais amam, em que o que queremos já não está sujeito a negociação com pais ou amigos ou portas vão acabar por ser batidas sem dó nem piedade, e em que o vazio se apodera de nós quando olhamos para o que conseguimos até aqui e damos conta de que nada ainda nos preenche verdadeiramente. Há dias em que não temos coragem para enfrentar o mundo.
É nesta altura que muitos decidem produzir um rebento na tentativa de que esse consiga melhor… "Melhor" sendo aquilo que não conseguiram eles próprios...
Não quero um rebento (ainda), mas já quero o ninho, a autodeterminação. E, apesar de nada me preencher, já não sei revoltar-me como quando tinha 16 anos.
“Ultimamente tudo me faz chorar”, disse-me uma trintona amiga, numa daquelas discussões em que se avalia a vida inteira e se chega á conclusão de que, se calhar, até aqui ainda nada valeu a pena e que “agora” é que tudo tem de mudar. Disse-mo com a serenidade de quem já nem sequer acredita em mudanças, mas se obriga a acreditar para não se perder de vez.
“Andamos todas assim…”, respondi-lhe no mesmo tom…
terça-feira, agosto 26, 2008
Querida pseudo-sogra
Escrevo para lhe agradecer as férias deste ano em Lagos. Gostei muito do V. apartamento, gostei muito da cidade e também gostei muito de estar convosco esta semana. São uma família muito alegre e funcional. Nunca conheci este tipo de ambiente familiar tão saudável, pelo que venho agradecer-lhe ter-me proporcionado tal experiência.
Sinto-me, no entanto, na obrigação de alertar a minha querida pseudo-sogra para algumas situações que a minha querida pseudo-sogra parece fazer questão de ignorar…
Em primeiro lugar, tenho de lhe dizer que o seu filho NÃO É um inútil. Ele sabe lavar a louça, consegue passar uma esfregona pelo chão e, pasme-se!, parece que cozinha melhor do que eu (o que, na verdade, não deve ser muito difícil!). Sabia que foi ele que baptizou o meu vulgar fusilli com peru e natas de “Strogonoff de peru em cama de pasta”? Diga lá se não de chef…?
O que quero dizer com isto é que a minha querida pseudo-sogra já não precisa de o tratar como um bebé, cortando-lhe a frutinha ou fazendo todas as tarefas domésticas por ele. Agradeço, aliás, que não o faça, porque a querida pseudo-sogra não deve ter percebido, mas ele já espera que o trate assim e, portanto, quando a querida pseudo-sogra está por perto o seu bebé acomoda-se. Ora, isso significa problemas entre nós os dois…
Quero deixar aqui bem claro – já o tentei fazer antes, mas talvez tenha suavizado demais as palavras, porque a querida pseudo-sogra parece-me que não percebeu – que o seu bebé não arranjou outra mãe em mim. Isto é, eu não lhe vou cortar a frutinha, nem tirar as espinhas ao peixe, não vou cozinhar para ele (quando muito cozinho para os dois), nem vou fazer a faxina enquanto ele fica no sofá a ver os Jogos Olímpicos. Por isso, agradeço que, de futuro, e sempre que eu estiver presente, a querida pseudo-sogra não o encoraje a acomodar-se, fazendo todas as tarefas que devia ser ele a fazer. A querida pseudo-sogra pode não ter reparado, mas o tempo passou e o seu bebé tem quase 30 anos.
Na mesma linha de raciocínio, agradeço muito que a querida pseudo-sogra pare de me segredar receitas e formas infalíveis de “o A. Comer tudo o que se lhe põe à frente” ou de “fazer a cama do A. bem feita”. Sugiro que lhe conte, a ele, estes segredos fantásticos. Sabe?, sou talvez uma idealista incorrigível, mas sempre acreditei que a auto-suficiência é uma coisa muito bonita…
Agradeço-lhe também – porque sei que vieram do fundo do coração, pelo menos acreditando no largo sorriso com que os disse – os “elogios” que me foi fazendo. Sei que significa muito para a minha querida pseudo-sogra chamar-me de “minha norinha” e dizer que serei “uma boa dona de casa”. Mas, sabe?, a minha intenção não é nem nunca foi tornar-me sua nora nem ser boa dona de casa. Talvez a comparação seja excessiva, mas espero que assim a minha querida pseudo-sogra perceba finalmente o que quero dizer: as palavras “nora” e “dona de casa” são pregos no meu caixão. E, como sabe, eu fujo da morte…
Com isto não quero dizer que as minhas intenções para com o seu bebé não sejam honestas. O que é que pode ser mais honesto do que encorajá-lo todos os dias a encontrar uma outra jovem qualquer que não se importe de lhe cortar a frutinha ou cujo sonho seja andar de branco até ao altar?
O que quero dizer é que, na minha cabeça, quando me imagino com 50 ou 60 anos, não me vejo a tomar conta de uma cozinha para monopolizar a confecção de uma refeição para oito enquanto me queixo do que fizeram mal todos os que foram tentando fazer o mesmo ou do quanto trabalho a mais para manter a família feliz. Não me vejo a chamar as “minhas norinhas” para ajudar enquanto os meus bebés ficam sentados ou deitados no sofá (sem um pingo de vergonha!) a ver TV ou a jogar computador... Mas suponho que isso é uma questão geracional, por isso nunca discuti com a minha querida pseudo-sogra…
Aos 50 ou 60 anos, espero que as minhas preocupações ultrapassem ainda o cotão que poderá existir debaixo da cama. Espero estar a fazer a mala – com ou sem esforço – para a próxima viagem… com ou sem companhia…
Compreendo, por isso, querida pseudo-sogra, se a querida pseudo-sogra não me quiser junto de vós nas próximas férias, uma vez que esta nunca será – assumidamente! – a rapariga que a vai substituir nos cuidados que tem para com o seu bebé. Para dizer a verdade, e apesar do prazer que foi passar férias com uma família alegre e funcional, eu própria não posso garantir que quererei voltar a jogar este jogo…
Despeço-me com carinho, desejando que a minha querida pseudo-sogra consiga sempre manter a sua família unida à sua volta.
Beijinhos,
GK
quinta-feira, agosto 14, 2008
Férias Cibernéticas
As minhas preocupações deviam centrar-se na refeição seguinte, na praia a escolher para o dia e, quando muito, nos resultados dos tugas em Pequim. Mas não…
Aqui a GK resolveu trazer o portátil e a placa Vodafone para férias… Achei que 15 dias fora do mundo eram demais…
Ora, com o portátil e a placa vieram TODAS as tarefas a que eu não consegui dar atenção em dias de stress: downloads em atraso, base de dados a preencher, fotos a arquivar, vídeos a colocar no You Tube, um manuscrito para passar para Word…
Aguentei quatro dias sem ligar o maldito. Ao fim de quatro dias o mundo voltou a entrar no meu paraíso. As noites voltaram a esticar-se até às 3h da manhã, os pequenos-almoços voltaram para a frente do ecrã e ele não voltou a desligar-se…
Os ombros subiram outra vez e a paisagem inesquecível de Lagos não consegue disfarçar os alarmes ensurdecedores do meu cérebro: ainda te falta TANTO para terminar as tarefas cibernéticas que prometeste completar no relax das férias!!!
:_(
quinta-feira, agosto 07, 2008
Assalto!!!
A Lei n.º 22A/2007 que procede à reforma global da tributação automóvel e mais exactamente ao seu “Anexo II”, que aprova o Código do Imposto Único de Circulação (IUC), é descabida, ridícula e discriminatória. Não o afirmo em nome de nenhuma associação ou instituição (ainda!), digo-o em nome próprio, por ser uma das vítimas incauta desta lei absurda.
O texto da lei refere que “O facto gerador do imposto é constituído pela propriedade do veículo”, pelo que começo por questionar, nesse caso, o seu título. Mas o que me faz dirigir a V. Ex.as é, no meu ponto de vista, bem mais grave.
Com esta lei o Governo português não distingue automóveis usados de automóveis novos no que diz respeito aos veículos importados. O que interessa é se são matrículas novas. Ou seja, todos os veículos matriculados a partir de Julho de 2007 regem-se pelos novos valores.
Exemplo concreto: Um Peugeot 206, de 2001, importado de França e matriculado em Portugal em 2008, vai pagar de IUC 125 euros. Para o Estado português trata-se de um veículo novo, uma vez que a matrícula é nova. Um Peugeot 206, de 2001, comparado usado em Portugal paga de IUC 32 euros.
A minha questão é: porquê? Qual é a justificação para esta diferença? Por acaso os dois automóveis não entraram em Portugal da mesma maneira: pagando o Imposto Sobre Veículos? Não são os dois igualmente poluentes? Da mesma idade?
Eu comprei o referido Peugeot 206 a um importador de carros que me referiu que haveria uma diferença no IUC do meu carro por ser importado, mas essa diferença “nunca seria significativa”. Para mim, pagar pelo IUC quase QUATRO VEZES MAIS do que qualquer outra pessoa que conduz o mesmo carro que eu em Portugal É SIGNIFICATIVO E ABSURDO. E, apesar de estar na lei, não o aceito pacificamente, uma vez que se trata de um encargo ANUAL e PERMANENTE. Não importei um carro de luxo. Não sou sequer coleccionadora de clássicos. Importei um carro utilitário, normalíssimo, porque gostei mais deste do que de outros que se vendiam na altura com matrícula portuguesa.
A minha luta é agora perceber melhor a razão desta injustiça e, se possível, ter uma garantia de alguém responsável de que, em breve, esta situação seja rectificada.
Por isso mesmo, enviei este meu protesto ao Parlamento Europeu, através de uma petição, à Assembleia da República – ao seu Presidente e a todos os Grupos Parlamentares -, ao Primeiro-Ministro de Portugal, ao Ministério das Finanças e à Direcção-Geral de Impostos. Aguardo feedback.
Caso V. Ex.as considerem que este assunto tem interesse para vós, estou totalmente disponível para me associar a quem queira elevar o protesto quanto a esta questão a outro nível.
Com os meus sinceros cumprimentos,
GK
quinta-feira, julho 31, 2008
Olhar altaneiro e paneleirices do género...
Chegas a algum lado e já vais com cara de mordomo inglês que tem de limpar caca do rabinho do bebé porque a ama faltou. Narizinho esticado, sobrancelhas franzidas, olhar altaneiro e de esguelha. Não é precisa nenhuma provocação para pores defeitos em TUDO. É porque está chover. É porque está frio. É porque está quente. É porque tem a cor errada. É porque não foi rápido. Ou não foi lento. Ou não esteve perfeito. Ou, basicamente, porque não está nem NUNCA estará ao teu nível!!!
E se te dá para falares de alguém? Uuuii! Isso é que é destilar veneno! E não, não é o habitual “cortar na casaca” tão necessário à sobrevivência mental e que alimenta o mundo. Não! É mauzinho. É perverso. Solemnly twisted. Cheio de palavras caras e justificativas intelectualóides que levam os outros a pensar que estás cheio de razão quando estás apenas a reagir ao garfo que tens espetado no rabo e que te obriga a andar tão direitinho e com uma terrível dor de corno por não teres coragem de fazer igual ao que criticas…
CHIÇA!!! Merda para tanta paneleirice! Fosga-se!
Estou fartinha de snobezinhos da treta! Mesmo!
E o pior? O pior é que é uma praga vastíssima. Vastíssima! Às vezes até dou por mim a fazer parte dela!!!
Cruzes canhoto! Acho que vou à Bruxa buscar uma mezinha que me livre disto de vez!...
quinta-feira, julho 24, 2008
Vermelho vivo…
Ontem chorei até adormecer, como em tantas outras noites deste que devia ser o meu ano mas que me está a beber todas as energias.
Por isso hoje vesti-me de vermelho vivo e saí de saltos altos.
Queria sentir-me bem, forte e feminina, já que por dentro perco tantas vezes este sentimento tão essencial que é estar em harmonia com a própria pele.
Não sei se resultou ou se quando tirar os olhos do computador e voltar as costas ao escritório e as tarefas do dia volto a perder o tom vermelho vivo que procurei para pintar a alma…
quinta-feira, julho 17, 2008
Às das estradas…
Já terminei as aulas de reciclagem, mas quando peguei no meu “vermelhinho”, que, ao contrário do leve Corsa da instrução é um carro nervoso a gasolina, senti-me uma perfeita idiota!
Chorei, esperneei, gritei! Pus a hipótese de não voltar a casa para não ter de responder ao “Então?” ansioso da família. Odiei o meu gajo por ter posto um ar de pânico logo na primeira vez que o carro me “fugiu” (demasiado acelerador…).
Revi a minha vida toda, desesperada!
Não há mais dinheiro. Nem para aulas, nem para paneleirices do género. Ainda tenho de pagar o que devo aos meus pais e a vida não está para covardes. Portanto, no dia a seguir ao desespero, convenci o meu gajo a voltar a entrar no carro comigo…
Passado o primeiro momento de novo pânico, a coisa deu-se...
O carro é bruto, pronto! É como eu… Tenho de ser mais bruta com ele!
Vamos dar-nos bem… Agora sei disso.
Este é o meu processo, suponho… Embarco numa aventura, cheia de coragem. Ao primeiro sinal de adversidade ponho tudo em causa, choro, esperneio, mato-me. Depois quando acredito que o mais certo é falhar e já não existe pressão para andar para a frente, avanço e cumpro objectivos!
É a história da minha vida. E cansa…!!!
quinta-feira, julho 10, 2008
Roller coaster
Ainda faltam algumas “coisicas” para chegar “ao fim”. Mas os projectos “monstruosos” estão na recta final e eu já começo a consiguir respirar…
Já chorei. Chorei muito. Deitada à beira-mar pela primeira vez este ano, libertei o que me ia na alma até começar a dizer baboseiras incompreensíveis desenterradas sabe-se lá de onde da minha alma. Fiquei com os olhos empapados e o rosto com uma nuvem de tristeza. Mas deixei de ver aquele fantasma encovado que me olhava no espelho. Agora, embora cansada, vejo-me a mim.
Sou uma sortuda. A vida dá-me coisas lindas. E eu - como gaja que sou, como portuguesa que sou, como parva que sou - estrago. Encontro pó e cinzas onde há brilho e cor.
Mas estou a começar a ver, lá bem ao fundo, no horizonte escondido pela luz intensa de um sol que nasce devagar, o tal brilho e a tal cor que procuro para a minha vida.
Será temporário, eu sei. Como tudo é temporário. Mas passada letargia do cansaço que está a cair sobre mim, eu sei que, pelo menos durante algum tempo – pouco! – vou sorrir para cada dia. E vou ver de novo o meu anjo protector negligenciado por entre a azáfama das minhas últimas semanas e vou agradecer-lhe por mais um mês carregadinho de histórias para contar. Histórias felizes.
quinta-feira, julho 03, 2008
Quero chorar
Estou farta de me queixar, de não me conseguir livrar da bagagem, do que correu mal. Quero desesperar, gritar, perder a esperança, bater no fundo, para me levantar outra vez.
Esta coisa adulta de encarar as contrariedades com um encolher de ombros está a dar cabo de mim!
Não quero que a dor me seja indiferente! Não quero aceitar e andar para frente, assim, sem o reflectir, sem o perceber, sem fazer as pazes com o destino…
Não chorei ainda as maldades que vida me fez nas últimas semanas. Não consigo respirar fundo e passar à frente.
Foi isto que os 30 anos me trouxeram: uma profunda incapacidade de chorar. E, por consequência, uma postura de velha chata a queixar-se de tudo e de todos. Uma costela portuguesa elevada ao extremo pela fadiga e pelo cansaço.
Quero chorar. Chorar desesperadamente. Porque o sol brilha lá fora e o mundo está cheio de possibilidades que eu não vejo, por ter a vista turva de lascas de tragédias passadas. Quero livrar-me delas. Bate-las. Derrota-las. Esquecê-las. De vez.
P.S. – Enquanto escrevia este texto, bateram à porta do meu escritório com vista para o rio. Disseram que um cão se estava a afogar no lodo do Mondego. Liguei para os bombeiros que não sabem bem se a questão é da jurisdição deles. Na margem, ouviam-se apenas latidos desesperados, vindos do meio das canas e do lodo. Enquanto os bombeiros cruzam burocracias, corri para a outra margem para pedir ajuda ao Clube de Canoagem. No tempo que demorei a atravessar a ponte, o cão deixou de ganir. A canoagem desistiu porque nada viu nem ouviu. Aguarda-se agora um barco de um particular e uma foice para cortar as canas. O cão já não responde. E eu voltei ao escritório para não ficar na agonia da espera… E para não perder a esperança... Nem imaginar um dos companheiros, que me cumprimentam todos os dias no parque e me lambem as mãos, a sair do lodo sem vida.
quinta-feira, junho 26, 2008
(Estou demasiado cansada para pensar num título para isto…)
Em Junho, além do Rock in Rio, fiz uma viagem a Barcelona, festejei o meu aniversário, ando em processo de legalização de um carro (importado de França) e tenho um stand da empresa aberto numa feira industrial local que acrescenta à minha equipa de três pessoas 61 horas de trabalho além do horário laboral (para não falar da montagem e desmontagem da mesma)… Mas não é tudo…
Uma das minhas melhores amigas vai casar. Ora, moi-même foi escolhida para madrinha, o que quer dizer que a festa de despedida de solteira – marcada para o próximo Sábado, bem no meio da p*** da feira – tem de ser decente! E quem é que coordena as operações nestes casos, quem é? A madrinha, ou seja, aqui a je, pois claro!
Está tudo quase pronto. Mas tal como aconteceu com Barcelona ou com o meu aniversário, a minha única dúvida é se EU estarei lá… Quer dizer, estar, estarei. Mas não sei o que vou guardar daquilo, uma vez que eu ando praticamente de rastos e cada vez que me sento numa cadeira o meu corpo desiste.
Foi, aliás, isso que descobri com os meus 30 anos… Com a idade o corpo deixa de conseguir fazer loucuras. O cérebro diz que tu podes fazer dois dias non-stop na boa, mas o corpo começa a revoltar-se e deixa-te a braços com um mau humor desgraçado devido ao cansaço. E quando olhas para o espelho perguntas quem é aquele fantasma cheio de olheiras que se parece contigo… Enfim…
No fim do mês, desmaio! …Ou talvez não… Devo andar a meio das aulas de reciclagem de condução… E depois é o casamento… E, espera!, depois ainda tenho de tirar umas (curtíssimas!) férias e estar pronta para viajar e curtir…
F***-**! Se isto é vida, corto os pulsos!
quinta-feira, junho 19, 2008
Hoje faço trinta anos...
Esta foi a minha prenda...
Mas o ponto alto da minha semana, foi ver este vídeo...
Isto foi gravado 10 dias DEPOIS do Rock in Rio. Aos 45 segundos, vejam o que está dentro da caixa de guitarras da mega-estrela...
Já sei que pode ser um açoreano que toma conta das guitarras... Ou um madeirense que lhes serve as refeições... Mas eu ESCOLHO acreditar que é dele! E, mesmo que não seja, é um pedaço de Portugal que lá permanece com carinho depois daquelas 2 horas mágicas em que eu participei...
quinta-feira, junho 12, 2008
Como nota positiva…
Frustração
Foi isso que me aconteceu.
Rock in Rio. Barcelona. Foi tudo INCRÍVEL!... Eu é que não estive à altura.
Suponho que as expectativas eram tão grandes que não podiam ser concretizadas. Ou antes, pela primeira vez, eu não tive medo de criar expectativas (achava que já tinha conquistado o direito de as ter e de as ver superadas), mas a vida – mais uma vez e como sempre – deu-me uma bofetada! Ou duas… E pôs-me no meu lugar!
Não digo que tenha corrido MAL. Eu ainda prefiro ter ido. O concerto dos Bon Jovi no Rock in Rio foi MÁGICO! (Estou TÃO orgulhosa da minha banda e do meu país!) Barcelona é uma cidade fantástica. E a companhia foi impecável. Não teria ficado bem comigo própria se não o tivesse vivido presencialmente. No entanto, TODOS os pormenores falharam. TODOS sem excepção. Eu falhei.
Acabei por ter uma experiência banal, sem grandes entusiasmos pessoais, como quem passa um fim-de-semana na praia sem ter direito a mais do que o (sim!) maravilhoso som do mar e o (sim!) doce calor do sol, (mas) que já conhece, já viveu, já não aquece o coração nem faz sonhar.
Não era isto que eu queria para a minha viagem. Eu queria mais. Muito mais.
Eu queria histórias para contar aos netos. Queria desafiar-me. Queria emocionar-me. Queria abrir a boca de espanto. Queria que os meus olhos brilhassem. Queria que o meu coração falhasse algumas batidas.
Não consigo descrever o nível de frustração em que vivo. Não consigo explicar o que falhou. Não consigo tirar lições para o futuro.
Sou uma privilegiada. Uma miúda sortuda que viaja e vê concertos e não se priva de nada do que ama. Ou antes, que luta afincadamente para não se privar de nada do que ama. Que abdica de coisas importantes por outras mais importantes. Que sabe fazer escolhas, mas que acaba por percorrer o caminho mais difícil para obter o que pretende e tirar (tão raramente!) partido da vida.
Ainda assim, não sei se tenho verdadeiros motivos para me queixar. Não sei se devo sequer pensar ou referir a minha frustração. Se tenho esse direito. Se vale a pena fazê-lo. Se encontrarei uma explicação.
Mas não consigo deixar de o fazer.
Sinto-me um lixo. Sem objectivos. Sem certezas. Sem paixões. Sem saber que caminho percorrer para atingir o perdido conforto emocional.
Sou uma privilegiada que se queixa por perceber que lutar não chega. Que sonhar não chega. Que viver não chega. É preciso ESTAR, SENTIR, AMAR. E para isso não há fórmula. Ou acontece ou não.
E eu pergunto-me… Valerá a pena procurá-lo incessantemente? Ou os custos são maiores do que os ganhos? Vale a pena repetir? Ou desisto sem olhar para trás…?
sexta-feira, junho 06, 2008
Vida adiada
Acabou. O que quer que seja que me estava reservado passou. Desapareceu sem eu o sentir, sem o viver, sem a intensidade que pedi.
Passou e deixou-me aqui, assim, despida, sem alma, sem corpo, sem vida. A desejar algo diferente em que eu tivesse conseguido participar.
Não digo que não valeu a pena. Valeu. De alguma forma, valeu. Apenas ficou um qualquer sonho adiado que nem sei definir. Adiado. Como sempre. Eternamente adiado.
quinta-feira, maio 29, 2008
Friozinho na barriga
Mal posso esperar para estar com o gang outra vez. Apesar de não nos vermos há dois anos, fazemos parte da mesma família, uma família que conversa e partilha sentimentos todos os dias. Além disso, viajar e conhecer estrelas de rock são coisas que deixam marcas indeléveis, coisas que unem um grupo…
Estou louca por voltar a vê-los e por voltar a sentir agitação da chegada ao recinto, o nervoso miudinho das horas que antecedem um concerto, a azáfama natural de quem prepara um grande espectáculo…
E desta vez estamos preparados. A “nossa” banda vem a Portugal ao fim de 13 anos e vai sentir que esperámos por ela! Vai sentir-se em casa. Fizemos por isso. Estamos mais unidos do que nunca com um único objectivo em mente: fazer daquela noite especial.
Vamos conseguir.
E por isso ando com os passos uns três centímetros acima do chão. Adoro este sentimento: o de regressar a casa ao fim de um longo período de luta intensa.
sexta-feira, maio 23, 2008
Numa manhã rotineira...
Numa das ruas mais movimentadas da cidade, no passeio, com a sua tradicional bicicleta, seguia o vulto sempre íntimo de um amolador.
Olhei-o, subitamente feliz, até o autocarro me fazer perder no trânsito daquela artéria, àquela hora sempre caótico. Mas, mesmo depois de os meus olhos o perderem, consegui continuar a ouvir as notas mágicas que ecoam eternamente à passagem do homem que afia facas e tesouras de porta em porta.
Não sei porque é que aquela melodia me leva directamente para um lugarzinho quente e familiar. A minha infância já não coincide com a época destes profissionais. Mas sempre que ele aparecia na minha rua, eu pedia por favor à minha mãe que arranjasse uma qualquer faca moribunda para ele afiar e para eu poder ir ter com ele e vê-lo tocar aquele estranho e aconchegante instrumento. E não era a única. Toda a rua se encontrava no largo, com facas e tesouras que já não usavam nem usariam, nos já raros dias em que por lá passava o amolador.
Não sei se será o mesmo. Não sei quantos existem em Coimbra. Julgava que nenhum. Não sei se foi necessidade ou nostalgia que o fez sair à rua naquela manhã rotineira de Terça-feira. Sei que, apesar da loucura dos dias, amanhã e depois ainda o vou recordar. E todas as vezes que passar na dita rua... Todos os dias, portanto…
quinta-feira, maio 15, 2008
Countdown
Tenho cinco dias de idílio planeados. Rock in Rio… Avião… Barcelona… Outro concerto... E mais três dias de ócio e aventura na cidade de Gaudí!
Nem acredito!
Claro que vou andar ROTA de cansaço. Sexta trabalho. Sábado Rock in Rio. Directa na noite de Sábado para Domingo. Mais um concerto. E depois três dias de visitas e descobertas. Avião a chegar a Lisboa na noite de Quarta-feira. Trabalho às 9h da manhã de Quinta. Puff! Puff!!
…Mas vai valer a pena. I’m sure.
Objectivamente, não tenho grandes expectativas. Subjectivamente, elas são ENORMES como sempre… Essencialmente, acho que quero bom tempo, uma recordação memorável e um final para o livro que ando a escrever.
(Destaque, se calhar, para a parte do BOM TEMPOOOO!!!)
:)
quarta-feira, maio 07, 2008
Liberdade ou a falta dela
Não me refiro à falta de liberdade dos tempos de ditadura. Não a vivi, mas sei que estou a experimentar algo novo. Algo mais complexo do que o objectivo impedimento a uma identidade, à liberdade de expressão. É algo mais subtil e talvez mais perverso, por não ser geralmente consciente. O que faz com que à frustração dessa falta, se junte uma enorme solidão.
O meu sufoco surge do assumir da minha identidade quando analisada juntamente com a falta de possibilidades de autodeterminação. Isto é, existo, sou, penso, sonho, ambiciono e faço. Tudo me é possível. Tudo me está ao alcance… Teoricamente.
Na realidade vejo-me a assumir quem sou, mas a não ter autonomia nas atitudes, por falta de oportunidades… financeiras, sociais, pessoais. Não sei.
Sinto-me sufocar. Quero e não posso. Sonho e não voo. Projecto e não concretizo.
Não por falta de emprenho ou vontade. Falta tudo o resto.
Não me consigo livrar desta bola de trapos que trago dentro do peito.
domingo, maio 04, 2008
História DeVida
O actor Miguel Guilherme lerá o texto "O meu companheirinho deixou-me..." às 17h20, às 21h20 e às 00H20.
Mais tarde será possível fazer o download do programa no podcast da RTP.
Esta é a segunda vez que tenho a honra de ver um texto escolhido para ser lido neste programa. A primeira vez aconteceu em Junho de 2006.
:)
quinta-feira, abril 24, 2008
Vou auto flagelar-me!
É assustador.
Eu, GK, faço 30 anos em Junho e, aqui, perante vós, declaro: Não quero nada dessas merdas para mim! Pela menos para já!
Há TANTOS sítios onde ainda não fui, TANTAS pessoas que ainda não conheci, TANTAS coisas que não experienciei… Vou lá assumir compromissos do tamanho de camiões TIR?! Como posso garantir que isto que decido agora é o que quero PARA SEMPRE?! Ainda não vi NADA da vida. Ela ainda está só a começar!
Cruzes, credo!
Eu vejo estas pessoas todas, corajosas, à minha volta, a lançarem-se em coisas que julgam definitivas e seguras com um sorriso nos lábios e fico espantada! Olho-os e vejo gente de olhos vendados! Gente que julga ter descoberto o sumo da vida e ainda nem foi à esquina, mas acredita, de punhos serrados, que vai ficar naquele sítio, com aquela pessoa e fazer o que faz hoje para o resto da vida! Será?!
É verdadeiramente inacreditável!
Mas, claro, como sempre, a inadaptada sou eu. Pelo que, depois deste sentido desabafo, me remeterei ao silêncio e, cada vez que sentir o meu cérebro a congeminar questões ao ter perante si estes seres inconscientemente felizes, vou censurar-me e auto flagelar-me até sentir que tudo isto é normal!
quinta-feira, abril 17, 2008
Main-stream…
Ao mesmo tempo que a liberdade, na privacidade das nossas casas, cresce - acompanhando o acesso a nichos de produtos que outrora não estavam disponíveis e que agora o estão à distância de um clique -, nas “coisas públicas” a pressão é para a uniformização.
Ai do homem que usar meia branca. Ai da mulher que não usar fio dental. Coitada daquela que procura calças SEM cintura descaída. Pobre daquele que ousa vestir o fato de treino dos anos 90…
Estes assuntos discutem-se, mas o vencedor já está definido: é como a sociedade quer. E existem cinco mil razões formatadas para nos pressionarem a ser como todos os outros.
A minha constatação deste facto surgiu porque eu quero comprar uma mochila.
Uma mochila. Uma coisa simples, pequena, digna de ser usada todos os dias. Passo o dia sentada e as minhas costas não gostam que eu coloque todo o peso da minha “mala de gaja” apenas num dos ombros. Decidi por isso ir comprar uma mochilita.
Parece simples, não?
Pois não é. Porque NÃO HÁ! Nem na Internet!
TODAS as lojas decentes vendem, neste momento, malas GRANDES de senhora (ou bolsas ou carteiras ou como lhes quiserem chamar). TODAS sem excepção.
Claro que posso ir correr a Baixa da minha cidade e ver se, naquelas lojas em que a “modernidade” é um termo estranho, há uma mochila que me agrade. Mas para isso, tenho de me desviar do meu caminho normal e iniciar uma busca assumida. Uma missão.
Isto está a tornar-se verdadeiramente um problema…
Os shoppings e a maior parte das lojas “in” SÓ vendem produtos giríssimos e formatados aos gostos das massas. É o estilo main-stream...
O problema é que as unanimidades sempre me enervaram…