Suponho que sou o que muitos têm apelidado de "patriota primária". Afinal trago um cachecol de Portugal preso à mala e poria a bandeira na janela ou no estendal, se a janela ou o estendal dessem para algum sítio onde passa o povo.
É curioso que, tal como a maioria dos
tugas da minha geração, antes de 2004, eu nem sabia que se podiam “usar” os símbolos nacionais. É que “eu ainda sou do tempo” em que uma banda rock foi a tribunal por fazer uma versão do hino… (Agora o Expresso distribui bandeiras com uma faixa verde florescente na parte vermelha… Enfim, adiante…)
O primeiro “item” nacional que tive foi oferta de uma agência de publicidade com a qual trabalhei. No Natal de 2003, a FCB ofereceu a alguns clientes uma prenda muito especial: um cachecol de Portugal. O “embrulho” era em forma de grande postal e dizia: “2004. Europeu de Futebol, Eleições Europeias, Olimpíadas, Retoma da Economia. Se há uma coisa que Portugal vai precisar em 2004 é do seu apoio. E do apoio de todos nós. Vai precisar de toda a nossa claque para incentivar, gritar, saltar, para não deixar ninguém pensar que o jogo possa estar perdido.”
Achei genial! Se tivermos em conta que os anúncios e outras iniciativas publicitárias naquela altura ainda nada tinham a ver com patriotismo ou futebol, aquilo era brilhante!
Jurei usar aquele cachecol (o mesmo que anda preso a minha mala de mão agora) durante o Euro 2004. Como é óbvio, muita mais gente teve a mesma ideia. (Em futebol, não é inédito…)
Foi também nesse bem-dito Euro que alguém se lembrou de pedir aos portugueses para colocarem bandeiras nas janelas em sinal de apoio à selecção. (A discussão continua sobre se foi Scolari ou Marcelo Rebelo de Sousa. Anyway, o brasileiro ganhou a responsabilidade do apelo.)
Desde aí, os símbolos nacionais tornaram-se moda. Mas uma moda duradoura e que nos orgulha!
Em terras de Sua Majestade, onde estive recentemente, foi com enorme prazer que vi uma bandeira portuguesa numa mota. Claro que, ao atravessar a rua, tive de largar um “Então, boa tarde!” bem português. Foi
tão bom ouvir a resposta e ver o sorriso largo!
Transbordei de orgulho quando num concerto, com mais 70 mil pessoas, em terras estrangeiras, se reuniu, pelo menos, uma dezena de bandeiras portuguesas. E mais ainda quando alguém, no palco, as aponta porque já as reconhece!
Tenho a certeza que nada disto se teria passado se Scolari não tivesse exaltado o hábito das bandeiras nas janelas e das bancadas vestidas de vermelho e verde.
As bandeiras não viajariam connosco. E não haveria uma na mota que vi nas ruas de Londres, porque exibi-la ainda seria considerado fascista. E eu não falaria com compatriotas nas ruas de um país estrangeiro, porque não saberia se os meus cumprimentos seriam bem recebidos.
Hoje sei que serão sempre bem recebidos, porque hoje os portugueses partilham um sentimento inequívoco de confiança, de orgulho nacional onde quer que se encontrem!
… E tudo isto graças a… um brasileiro!!! LOL
(FORÇA, PORTUGAL! Lá estarei, na rua, com o cachecol e a bandeira, a torcer por os nossos bravos. No entanto, mesmo que não ganhemos, desta vez, acho que não vou chorar. É que, antes, era sempre "agora ou nunca". Agora, no entanto, eu sei que se não for agora... um dia será!)