quarta-feira, maio 24, 2006

A Loja dos Sonhos

Três e meia da manhã! Tenho de me despachar! Senão a loja fecha. E depois? Onde vou encontrar a prenda adequada se não for na loja dos sonhos? Lá há sempre a prenda ideal para todos! Parece que os sonhos saltam das prateleiras quando falamos de alguém. Tem de ser lá. E tenho de me despachar!
Será que eu ainda sei ir à loja dos sonhos? Já lá não vou há tanto tempo... E o caminho não é fácil!... Mas há quem diga que é como andar de bicicleta: se soubemos um dia, saberemos sempre, basta querermos mesmo lembrar!
E será que eu quero mesmo lembrar?... É que eu já fui viciada em sonhos... E custou-me tanto parar de ir lá... Comprei tantos, tantos sonhos que já não sabia o que fazer com eles... E o pior é que desvalorizam muito! Ah, pois é! Comprei-os caríssimos e agora não valem nada! É que os sonhos não se trocam com ninguém! Ninguém sonha o mesmo sonho! E, na loja, não mos aceitam de volta. Dizem que fui eu que os fiz desvalorizar! Dizem que a culpa é minha e não me deixam trocar de sonho!
Então, houve uma altura em que era a senhora da loja que me dava lições de moral! Quando eu lá ia, dizia-me que eu não podia andar sempre a comprar sonhos... que os que eu já tinha eram suficientes... que não podia andar a dar cabo da minha vida daquela maneira... que tinha de dar atenção aos meus sonhos... tinha de lutar para eles não desvalorizarem, etc. Foi por isso que eu deixei de lá ir. Se fosse pelos sonhos, eu ia voltar sempre!
É que eles são muito bons quando são novos. Há quem diga que mesmo quando são velhos são bons! Mas os meus nunca chegaram a velhos sem desvalorizarem. Talvez o mercado um dia mude... Talvez um dia eles voltem a valorizar...
Posso sempre comprar mais... Mas depois a Senhora Consciência, a dona da loja, dá-me lições de moral... Não sei...
Bom, mas hoje vou lá, porque o sonho não é para mim! É uma prenda. A melhor prenda! Agora que penso nisso… nunca ninguém me ofereceu um sonho... Que estranho. Toda a gente sabe que eu gosto tanto...
Bom, vou lá ver o que há.
Olha, lá está a Consciência à porta. É uma chata!
...Não, não venho comprar para mim! Não, é claro que estou a falar verdade! Como é que eu hei-de saber porque é que eles não saltam das prateleiras com o nome da minha amiga?
Porque é que eles chamam tanto por mim?! Eu não vim cá para mim! Consciência, ajuda-me! Eu quero resistir, mas não sei se consigo! Não me digas que saio daqui sem prenda para a minha amiga e um monte de sonhos novos para mim?!
Não me venhas com esses sermões, Consciência, tu é que és a dona da loja! Se calhar têm defeito! A tua sorte é que o produto é tão exclusivo que não tens concorrência, se não, não voltava cá! És uma chata! É claro que têm defeito! Deviam dizer o nome da minha amiga e não o meu! Eu vim cá por ela! Não por mim! Não quero mais sonhos! Estou farta deles!
O que é que queres dizer com não se oferecem sonhos? É claro que eu não sabia... Ou tu achas que vim cá por mim...?

3 comentários:

Carla disse...

os sonhos não se podem devolver, nem se desvalorizam, apenas alguns se perdem no tempo... lamentavelmente...
Beijos

Anónimo disse...

E quem é a amiga? ;-)

Anónimo disse...

Hi! Just want to say what a nice site. Bye, see you soon.
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