quinta-feira, julho 03, 2008

Quero chorar

Quero chorar e acabar com isto! Chorar mesmo! Chorar até perder a alma, para poder renascer!
Estou farta de me queixar, de não me conseguir livrar da bagagem, do que correu mal. Quero desesperar, gritar, perder a esperança, bater no fundo, para me levantar outra vez.
Esta coisa adulta de encarar as contrariedades com um encolher de ombros está a dar cabo de mim!
Não quero que a dor me seja indiferente! Não quero aceitar e andar para frente, assim, sem o reflectir, sem o perceber, sem fazer as pazes com o destino…
Não chorei ainda as maldades que vida me fez nas últimas semanas. Não consigo respirar fundo e passar à frente.
Foi isto que os 30 anos me trouxeram: uma profunda incapacidade de chorar. E, por consequência, uma postura de velha chata a queixar-se de tudo e de todos. Uma costela portuguesa elevada ao extremo pela fadiga e pelo cansaço.
Quero chorar. Chorar desesperadamente. Porque o sol brilha lá fora e o mundo está cheio de possibilidades que eu não vejo, por ter a vista turva de lascas de tragédias passadas. Quero livrar-me delas. Bate-las. Derrota-las. Esquecê-las. De vez.

P.S. – Enquanto escrevia este texto, bateram à porta do meu escritório com vista para o rio. Disseram que um cão se estava a afogar no lodo do Mondego. Liguei para os bombeiros que não sabem bem se a questão é da jurisdição deles. Na margem, ouviam-se apenas latidos desesperados, vindos do meio das canas e do lodo. Enquanto os bombeiros cruzam burocracias, corri para a outra margem para pedir ajuda ao Clube de Canoagem. No tempo que demorei a atravessar a ponte, o cão deixou de ganir. A canoagem desistiu porque nada viu nem ouviu. Aguarda-se agora um barco de um particular e uma foice para cortar as canas. O cão já não responde. E eu voltei ao escritório para não ficar na agonia da espera… E para não perder a esperança... Nem imaginar um dos companheiros, que me cumprimentam todos os dias no parque e me lambem as mãos, a sair do lodo sem vida.

13 comentários:

Anónimo disse...

Até parece que é de propósito, as crueldades que acontecem, que estão ali, quase, nas nossas mãos resolver, mas, por muito que queiramos e tentamos, não conseguimos, por-lhes um fim, ou salvar o cão.
Mas,Tentaste. O que se pode pedir mais?
Gosto do teu blog.Tenho-o linkado, espero que não te importes.
Abraço.

GK disse...

SALVOU-SE!
Era uma coisinha pequenina, meiguinha, toda suja, com o pelo encaraculado...
Levei-o para casa.
É mais um enjeitado que por lá fica. Ao menos terá carinho.

Rafeiro Perfumado disse...

Ânimo, GK, ânimo! Pelo pouco que te conheço não és mulher de te ir abaixo! Mete o CD dos Bon Jovi na aparelhagem, grita, chora mas sai dessa letargia!

Gi disse...

Já choraste?
Muitas vezes não é preciso; o que Portugal precisa é de quem arregace as mangas e faça alguma coisa porque chora por dentro com tudo o que vê de errado; se cada um fizer alguma coisa no seu pequeno mundinho, já faz muito.

Canephora disse...

Chorar nem sempre é fácil, mas nem sempre tem de ser pela razão certa... se calhar se chorasses pelo cão que se perdeu, quem sabe se a tua "alma" não soltava as lágrimas que prendes.

The Star disse...

Já te sinto assim há algum tempo, já nem sei o que mais te diga, pois as minhas palavras nunca conseguiriam resolver o que quer que seja.
Resta-me desejar e torcer com todas as minhas forças que tudo mude rapidamente...
Tu és forte, eu sei que sim.
"I Believe" you'll "Always" "Keep The Faith". ;)

Nilson Barcelli disse...

Nem sei quete diga depois de ler este post e o anterior...
Sei que te é difícil chorar. És demasiado orgulhosa... talvez... mas és uma durona com um coração de manteiga...
Boa sorte para o cão... e para ti que, pelos vistos, bem precisas... mesmo que haja vida para além da morte... não ligues, esta ideia veio-me do meu último poema. Espero que desta vez não gostes... rsrs...

Bfs, beijinhos.

Pepe Luigi disse...

O que interessa e mais real valor têm são os nossos intuitos cujas intenções nos vanglorie sobretudo a pureza dos sentimentos.

Kalua disse...

chora, grita, esperneia... por vezes faz bem libertar esses sentimentos maus que nos esmagam a alma... a vida é mesmo assim linda... remar, remar... forçar a corrente... nem sempre fácil, mas quando se consegue algo por que tanto lutámos tudo valeu a pena... :)
força! não desanimes...
não tenho andado muito por aqui, mas sabes onde me encontrar se precisares... ;)
bjs

Anónimo disse...

Então salvou-se! Excelente!E terá carinho que é o que todos precisamos, cães e pessoas!

Musicology disse...

O que não nos derruba, só nos pode fortalecer!!!
A um novo começo, pleno de alegria para le petit chien e sua nova dona!!! tra lala "have a nice day" :)

Carracinha Linda! disse...

Sabes GK... a chegada dos 30 anos para uma mulher não é fácil. Parece que é quando tomas consciência do mundo real em que vives. E vives e sentes tudo intensamente. Parece que é a altura de se ver que rumo está a nossa vida a levar, se é esse rumo que queremos seguir ou se precisamos de mudar alguma coisa. Os meus 30 anos foram uma volta de 180º na minha vida... Ainda hoje ando a pensar em coisas que se passaram e se tudo não poderia ter sido diferente. Mas o certo é que o tempo passou e não podemos passar a vida a pensar nos "ses"... Enxuga as lágrimas e ergue a cabeça.

O final do post deixou-me triste, mas já passou! Fico contente que o cão se tenha salvo e que seja mais uma das tuas companhias lá por casa!

Beijocas

SoNosCredita disse...

"Estou farta de me queixar, de não me conseguir livrar da bagagem, do que correu mal."

ñ queria, mas tenho-o sentido...


(salvou?! weeee! tens q mo apresentar!!!)