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Toda a vida me rebelei contra os ginásios. Detestava-os. Perdoem-me a franqueza, mas, para mim, salvo raríssimas excepções, eram armazéns de pedaços de chicha mais preocupados com a estética do que com a saúde, onde se juntavam um monte de máquinas inúteis que serviam para reproduzir “in vitro” tudo aquilo que se podia fazer no mundo, caso estas pessoas de palas nos olhos decidissem explorá-lo. Mas, claro, no mundo real, a arte do engate é bem mais complicada, até porque as vítimas se espalham mais, em vez de ficarem ali à espera das abordagens alheias.
Claro que esta minha forma de ver as coisas foi sujeita a enormes evoluções. À medida que a vida adulta ia tomando conta do pessoal que anteriormente fazia piqueniques no Choupal ou marcava tardes na piscina municipal, tornei-me menos radical e percebi que tinha de existir um lugar, concentrado, onde os workaholics, normalmente pessoal sedentário com vidas feitas em escritórios, se pudessem mexer um bocado. Mas eu não queria fazer parte desse mundo. Para mim, mexer era lá fora e sem rotina!
Pela boca morre o peixe e chegou a altura da minha vida em que tenho um emprego fixo e em que me sento ao computador sete ou oito horas por dia. Quando levanto o rabo da cadeira do escritório, sento o rabo no carro para conduzir até algum sítio onde o meu rabo se volta a sentar, seja no auditório do cinema, nas cadeiras do restaurante ou no sofá de casa. As tardes na piscina deixaram de existir, bem como os piqueniques no Choupal e até as maratonas de compras na Baixinha ou os passeios à Mata de Vale de Canas. Ao fim de semana, em vez de correr na praia, ou fazer caminhadas em centro históricos, a maior parte dos programas incluem apenas pôr-do-sol, jantar e café.
Ora, o meu rabo começou a refilar quando o enfiava dentro das calças habituais, os espelhos da lojas de roupa já se riam de mim quando era obrigada a mostrar-lhes as pelezitas caídas dos braços, barriga e outros sítios mais emblemáticos. E eu comecei a não gostar nada de mim. Não comer e não dormir também não me pareceu natural. Não o fazia por querer, mas como não gastava energia NENHUMA, simplesmente não tinha apetite e rebolava na cama à noite. E não vale a pena falar dos problemas acrescidos que a falta de auto-estima traz às pessoas…
Rendi-me.
Máquinas, cardio funks, racings e aeróbicas não fazem o meu género. Eu não preciso de me cansar ou de me desafiar. Eu preciso de me mexer, de respirar e de ter tempo para me encontrar. Por isso, dei Graças a Deus pela moda do Pilates e do Corpo & Mente. São coisas que sempre fizeram sentido para mim e só lamento estarem associadas ao espaço confinado e culturalmente questionável do ginásio…
Inscrevi-me.
E depois chorei.
Chorei que me matei. Porquê? Porque apesar de saber que os benefícios serão imensos e mesmo conseguindo passar por cima das desvantagens de andar a correr para o outro lado da cidade duas vezes por semana, com horários e saídas apressadas, e embora até consiga encarar com coragem o facto de esta ser mais uma merda que exige disciplina (é que eu tenho disciplina DE SOBRA, não pedi - nem queria - TANTA DISCIPLINA na minha vida!), não consigo apagar a ideia de que esta é mais uma daquelas situações que me obriga a admitir que sei exactamente onde vou estar semana após semana após semana após semana... E essa é maior sensação de fracasso que tenho memória.