Olho em volta e está tudo louco. Deve ser da idade. Está toda a gente a casar-se, a comprar casas… De grávidas então parece que existe uma verdadeira epidemia.
É assustador.
Eu, GK, faço 30 anos em Junho e, aqui, perante vós, declaro: Não quero nada dessas merdas para mim! Pela menos para já!
Há TANTOS sítios onde ainda não fui, TANTAS pessoas que ainda não conheci, TANTAS coisas que não experienciei… Vou lá assumir compromissos do tamanho de camiões TIR?! Como posso garantir que isto que decido agora é o que quero PARA SEMPRE?! Ainda não vi NADA da vida. Ela ainda está só a começar!
Cruzes, credo!
Eu vejo estas pessoas todas, corajosas, à minha volta, a lançarem-se em coisas que julgam definitivas e seguras com um sorriso nos lábios e fico espantada! Olho-os e vejo gente de olhos vendados! Gente que julga ter descoberto o sumo da vida e ainda nem foi à esquina, mas acredita, de punhos serrados, que vai ficar naquele sítio, com aquela pessoa e fazer o que faz hoje para o resto da vida! Será?!
É verdadeiramente inacreditável!
Mas, claro, como sempre, a inadaptada sou eu. Pelo que, depois deste sentido desabafo, me remeterei ao silêncio e, cada vez que sentir o meu cérebro a congeminar questões ao ter perante si estes seres inconscientemente felizes, vou censurar-me e auto flagelar-me até sentir que tudo isto é normal!
quinta-feira, abril 24, 2008
quinta-feira, abril 17, 2008
Main-stream…
Não se pode ser diferente. Não se pode, mesmo! É um imperativo social. A diferença está em vias de extinção!
Ao mesmo tempo que a liberdade, na privacidade das nossas casas, cresce - acompanhando o acesso a nichos de produtos que outrora não estavam disponíveis e que agora o estão à distância de um clique -, nas “coisas públicas” a pressão é para a uniformização.
Ai do homem que usar meia branca. Ai da mulher que não usar fio dental. Coitada daquela que procura calças SEM cintura descaída. Pobre daquele que ousa vestir o fato de treino dos anos 90…
Estes assuntos discutem-se, mas o vencedor já está definido: é como a sociedade quer. E existem cinco mil razões formatadas para nos pressionarem a ser como todos os outros.
A minha constatação deste facto surgiu porque eu quero comprar uma mochila.
Uma mochila. Uma coisa simples, pequena, digna de ser usada todos os dias. Passo o dia sentada e as minhas costas não gostam que eu coloque todo o peso da minha “mala de gaja” apenas num dos ombros. Decidi por isso ir comprar uma mochilita.
Parece simples, não?
Pois não é. Porque NÃO HÁ! Nem na Internet!
TODAS as lojas decentes vendem, neste momento, malas GRANDES de senhora (ou bolsas ou carteiras ou como lhes quiserem chamar). TODAS sem excepção.
Claro que posso ir correr a Baixa da minha cidade e ver se, naquelas lojas em que a “modernidade” é um termo estranho, há uma mochila que me agrade. Mas para isso, tenho de me desviar do meu caminho normal e iniciar uma busca assumida. Uma missão.
Isto está a tornar-se verdadeiramente um problema…
Os shoppings e a maior parte das lojas “in” SÓ vendem produtos giríssimos e formatados aos gostos das massas. É o estilo main-stream...
O problema é que as unanimidades sempre me enervaram…
Ao mesmo tempo que a liberdade, na privacidade das nossas casas, cresce - acompanhando o acesso a nichos de produtos que outrora não estavam disponíveis e que agora o estão à distância de um clique -, nas “coisas públicas” a pressão é para a uniformização.
Ai do homem que usar meia branca. Ai da mulher que não usar fio dental. Coitada daquela que procura calças SEM cintura descaída. Pobre daquele que ousa vestir o fato de treino dos anos 90…
Estes assuntos discutem-se, mas o vencedor já está definido: é como a sociedade quer. E existem cinco mil razões formatadas para nos pressionarem a ser como todos os outros.
A minha constatação deste facto surgiu porque eu quero comprar uma mochila.
Uma mochila. Uma coisa simples, pequena, digna de ser usada todos os dias. Passo o dia sentada e as minhas costas não gostam que eu coloque todo o peso da minha “mala de gaja” apenas num dos ombros. Decidi por isso ir comprar uma mochilita.
Parece simples, não?
Pois não é. Porque NÃO HÁ! Nem na Internet!
TODAS as lojas decentes vendem, neste momento, malas GRANDES de senhora (ou bolsas ou carteiras ou como lhes quiserem chamar). TODAS sem excepção.
Claro que posso ir correr a Baixa da minha cidade e ver se, naquelas lojas em que a “modernidade” é um termo estranho, há uma mochila que me agrade. Mas para isso, tenho de me desviar do meu caminho normal e iniciar uma busca assumida. Uma missão.
Isto está a tornar-se verdadeiramente um problema…
Os shoppings e a maior parte das lojas “in” SÓ vendem produtos giríssimos e formatados aos gostos das massas. É o estilo main-stream...
O problema é que as unanimidades sempre me enervaram…
quinta-feira, abril 10, 2008
Vidas bonitas
Até aqui, eu olhava à minha volta e, na sua maioria, via vidas “sujas”, como a minha. Vidas cheias de adversidades e batalhas e inseguranças sobre o futuro. Vidas “sujas”, mas funcionais.
Agora, fruto talvez da experiência e da capacidade de lidar com o desconhecido, que chega com a maturidade, tenho-me dado conta de que há para aí muitas vidas “bonitinhas”, daquelas de poster de cinema (ou nem isso, por serem isentas de percalços…).
Nasces numa família abastada. Cresces a estudar nas boas escolas. Fazes Erasmus e o estágio do ICEP no estrangeiro. Apaixonas-te pela única pessoa saída da faculdade de um daqueles cursos de cães danados que arranja emprego à primeira na melhor firma do ramo e que – surpresa! – fica logo com um lugar efectivo. Trabalhas toda a vida em empresas privadas que fazem questão de nunca te pagar menos do que os 1000 euros da praxe (e tu queixas-te, claro!). Tens o carro, a casita (pequena, mas cuja renda não se atrasa!) partilhada com o amor da tua vida e esperas a tua oportunidade - que já asseguraste – de fazer as malas e ir viver para um país melhor, trabalhando no topo do mundo da tua profissão…
Que lindinho!
…Descobri que as vidas “bonitinhas” me fazem vomitar.
Podia ser inveja. Fazia até sentido que fosse. Mas não é.
Eu já não poderia ter uma vida “bonitinha”. Não posso apagar o que vi e o que já vivi, portanto sei que este percurso “limpo” nunca poderia ser meu. Até por não ter chama.
Não digo que não exista sofrimento numa vida assim. Claro que existirá. Mas também existe uma certa ingenuidade, com a qual eu definitivamente não sei lidar e me enerva solenemente…
Eu evacuo para as vidas “bonitinhas”. E desejo muita sorte aos que as têm. Espero que a vida os mantenha de olhos fechados por muitos e longos anos.
Agora, fruto talvez da experiência e da capacidade de lidar com o desconhecido, que chega com a maturidade, tenho-me dado conta de que há para aí muitas vidas “bonitinhas”, daquelas de poster de cinema (ou nem isso, por serem isentas de percalços…).
Nasces numa família abastada. Cresces a estudar nas boas escolas. Fazes Erasmus e o estágio do ICEP no estrangeiro. Apaixonas-te pela única pessoa saída da faculdade de um daqueles cursos de cães danados que arranja emprego à primeira na melhor firma do ramo e que – surpresa! – fica logo com um lugar efectivo. Trabalhas toda a vida em empresas privadas que fazem questão de nunca te pagar menos do que os 1000 euros da praxe (e tu queixas-te, claro!). Tens o carro, a casita (pequena, mas cuja renda não se atrasa!) partilhada com o amor da tua vida e esperas a tua oportunidade - que já asseguraste – de fazer as malas e ir viver para um país melhor, trabalhando no topo do mundo da tua profissão…
Que lindinho!
…Descobri que as vidas “bonitinhas” me fazem vomitar.
Podia ser inveja. Fazia até sentido que fosse. Mas não é.
Eu já não poderia ter uma vida “bonitinha”. Não posso apagar o que vi e o que já vivi, portanto sei que este percurso “limpo” nunca poderia ser meu. Até por não ter chama.
Não digo que não exista sofrimento numa vida assim. Claro que existirá. Mas também existe uma certa ingenuidade, com a qual eu definitivamente não sei lidar e me enerva solenemente…
Eu evacuo para as vidas “bonitinhas”. E desejo muita sorte aos que as têm. Espero que a vida os mantenha de olhos fechados por muitos e longos anos.
quinta-feira, abril 03, 2008
Os portugueses estão a tornar-se europeus
Calor. Primeiros dias de Primavera a sério. Anoitece às 20h. E a malta está “em pulgas” para sair do trabalho e curtir o sol.
Foi isso que aconteceu ontem. 18h30 e um sol radioso. Saí do meu posto de trabalho, situado estrategicamente à beira rio, dentro de um parque emblemático da cidade, e dirigi-me, como é óbvio, à margem do “meu” rio para sentir a calma do cair do dia, em vez de fazer o caminho pelos parques de estacionamento junto à estrada.
A calma existia de facto. Sentia-se, no ar, uma atmosfera plácida, serena, de comunhão com a natureza. Mas o parque estava CHEIO de gente.
Estendidos no chão, sentado à beira rio, abraçados ou displicentes, grupos e grupos de gente jovem enchiam o relvado. Conversavam, namoravam, liam. Molhavam os pés nas margens do rio. Corriam atrás de cães simpáticos. Trocavam ideias de forma pacífica. Olhavam o sol do fim da tarde, com aquele sentimento familiar de querer para o tempo.
Ao passar, absorvi aquele cenário, algo cinematográfico, com um misto de surpresa e alegria. Dantes era tão raro ver um português pisar a relva! E agora, ali estavam, junto aos alunos de Erasmus, estendidos na relva a desfrutar da proximidade da água e a palrar calmamente em várias línguas, como de se tratasse do St. James ou do Hyde Park.
Adorei este fim de tarde, doce e tranquilo na minha cidade. Um fim de tarde em que percebi que os portugueses se estão a tornar europeus.
Foi isso que aconteceu ontem. 18h30 e um sol radioso. Saí do meu posto de trabalho, situado estrategicamente à beira rio, dentro de um parque emblemático da cidade, e dirigi-me, como é óbvio, à margem do “meu” rio para sentir a calma do cair do dia, em vez de fazer o caminho pelos parques de estacionamento junto à estrada.
A calma existia de facto. Sentia-se, no ar, uma atmosfera plácida, serena, de comunhão com a natureza. Mas o parque estava CHEIO de gente.
Estendidos no chão, sentado à beira rio, abraçados ou displicentes, grupos e grupos de gente jovem enchiam o relvado. Conversavam, namoravam, liam. Molhavam os pés nas margens do rio. Corriam atrás de cães simpáticos. Trocavam ideias de forma pacífica. Olhavam o sol do fim da tarde, com aquele sentimento familiar de querer para o tempo.
Ao passar, absorvi aquele cenário, algo cinematográfico, com um misto de surpresa e alegria. Dantes era tão raro ver um português pisar a relva! E agora, ali estavam, junto aos alunos de Erasmus, estendidos na relva a desfrutar da proximidade da água e a palrar calmamente em várias línguas, como de se tratasse do St. James ou do Hyde Park.
Adorei este fim de tarde, doce e tranquilo na minha cidade. Um fim de tarde em que percebi que os portugueses se estão a tornar europeus.
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