
Uma amiga minha vai casar. Suponho que é normal numa idade em que o casamento é uma espécie de ponto intransponível de uma longa lista de tarefas obrigatórias.
Esta amiga é uma daquelas amigas com quem se partilhavam segredos antes de eles existirem e bem antes de se saber ser um ser humano completo. Uma amiga amiga, portanto.
Esta amiga amiga convidou-me para ser a sua madrinha de casamento.
Fê-lo mesmo sabendo que eu sou a pessoa que mais odeia casamentos no planeta. Fê-lo conhecendo a minha absoluta falta de vocação para ser competente no papel. Fê-lo mesmo tendo como certo o risco de decidir tudo sozinha, recebendo apenas os ocasionais telefonemas ou e-mails de cuidado e controlo.
E fê-lo com lágrimas nos olhos. E eu não soube e não quis recusar.
Não me arrependo. Mesmo sentindo-me culpada até à estupidez por não lhe segurar na mão a cada passo. Não me posso arrepender, porque quero estar com ela naquele momento… Apenas por não ter estado em tantos outros.
Não mereço a honra. Menos mereço as constantes declarações de que sou “uma boa amiga”, já que as regras da nossa amizade foram estabelecidas antes de eu sequer saber sê-lo e é tão difícil quebrar padrões com tantos anos.
Não somos as típicas amigas das confidências cabeludas e dos cuidados excessivos. Não éramos assim. Não precisávamos de ser. E se agora precisamos, outras pessoas ocuparam esses papéis. Sabemos, no entanto, que, se existir uma chamada a meio da noite, nenhuma de nós falhará.
Foi isso mais ou menos isso que eu sinto que aconteceu quando ela me fixou com os olhos húmidos: uma chamada a meio da noite que muito me lisonjeia e mais me atemoriza.
Mas cá estou. Bem ou mal, cá estarei sempre.