No Sábado, logo de manhã, arrastámo-nos até ao Coliseu, onde tínhamos combinado comprar bilhetes para dois dias do Hop On Hop Off, um dos muitos autocarros que fazem a visita guiada a Roma. E no Coliseu estava a acontecer uma cena surreal.
Quando saímos do metro estava tudo normal, ou seja, montes de turistada dispersa e nas filas para entrar para o monumento e as habituais filas de trânsito na rua. Atravessámos a estrada, de três faixas, e, de repente, uma multidão vinha na nossa direcção, deixando uma clareira em torno do colosso, polícias deslocavam-se com espalhafato e a rua foi cortada ao trânsito. Ao olhar melhor, reparámos que junto às paredes do edifício, estavam várias unidades de carabinieri e algumas ambulâncias…
Sem que ninguém no impedisse, continuámos a andar em direcção á zona mais deserta, onde umas poucas pessoas se juntavam com bandeiras vermelhas. Parecia que aguardavam um um comício político! Mas, no topo do edifício, bem nas últimas janelas, viam-se outras bandeiras semelhantes...
O que é que tinha acontecido?
O Coliseu tinha sido ocupado durante a noite por um grupo rebelde!
Que grupo? Pois… Nada de sanguinário!
Ao que parece (lemos isto no jornal do dia seguinte!), uma empresa recentemente privatizada que trabalhava para o Ministério da Defesa italiano começou a ter dificuldades e foi investigada pelas autoridades... Ao verificarem as continhas, as autoridades italianas concluíram que tinha havido um desfalque de alguns milhares de euros. Ora, a empresa abriu falência e os trabalhadores, revoltados com a situação e garantindo que a empresa tinha trabalho e que a falência se deveu exclusivamente às falcatruas do administrador, ocuparam o Coliseu e exigiram que o Governo tomasse providências para não a deixar cair.
Até ao dia em que viemos embora, os desgraçados continuavam no topo do Coliseu e juravam que não sairiam até terem de volta os postos de trabalho! E o mais bonito é que, além do trânsito cortado (que o Coliseu e quem o ama agradecem!), a vida em Roma era de absoluta normalidade. Até as visitas ao monumento continuaram como se nada fosse.
Apreciado o espectáculo, mas ainda sem estar na posse de todas estas informações, lá apanhámos o Hop On Hop Off. A ideia era fazer uma volta completa antes do almoço... Assim, em estilo fast food, passámos sobre rodas no Termini, na Praça da República, na Via Venetto, na Vila Borghese, na Piazza del Popolo e… a fome venceu-nos no Vaticano!
Decidimos almoçar em terreno familiar, por isso, contentámo-nos com um almoço estilo fast food numas barraquinhas de feira ao lado do Castel Sant’Angelo, onde aproveitamos para provar uma das especialidades locais: um granita! Basicamente, naquele local e porque era feito por uma máquina refrigeradora, o granita era gelo picado e xarope de frutas. Mas depois descobrimos que a versão caseira da mesma coisa é a fruta moída e gelada. Seja como for, no calor romano, soube que nem gingas!
Terminado o almoço, fomos até São Pedro apanhar novamente o autocarro. Contornado são Pedro e o Castel Sant’Angelo, passámos pela Piazza Augusto Imperatore, ao lado da Piazza Navona, Largo Argentino, Piazza Venezia, Teatro Marcello (cuja arquitectura é do mesmo género que a do Coliseu. São irmãos!), Circo Maximo e vimos a bela Isola Tiberina ao longe! A aventura continuou até à Piazza Barberini, Lei Quatro Fontane, Santa Maria Magiore e de regresso ao Coliseu. Mas decidimos continuar até ao Vaticano – novamente através do Termini, Praça da República, Via Venetto, Vila Borghese, Piazza del Popolo, Vaticano - para tentar entrar na Basílica de São Pedro.
Conseguimos. E ficámos pasmados com tanta beleza.
A Basílica de São Pedro é inacreditavelmente bonita. É rica. É deslumbrante. E não me refiro a uma beleza espiritual ou recatada. A Basílica de São Pedro é mundanamente deslumbrante. De cair o queixo. TUDO o que lá está dentro é soberbo e de bom gosto. É claríssimo que tudo foi uma escolha de homens que tinham o desejo de se rodear de beleza e riqueza e sabiam fazê-lo. Nota-se esse desejo a cada passo. Deslumbra qualquer um!
Já ouvi relatos de pessoas que dizem ter deixado definitivamente de ser católicas depois de terem entrado em São Pedro. A folha de ouro junto ao tecto ofende-as. A finura dos tectos desafia-as. O mármore de várias cores que cobre o chão contrasta com a ideia dos esfomeados que a Igreja alimenta. As estátuas dos grandes artistas, a imponência do baldaquino papal de Bernini, e delicadeza das cadeiras, das portas, das vedações… Tudo isso as fez guardar ressentimento à Igreja Católica. Para elas, aquela ostentação não combina com o propósito da instituição. É contrastante, excessiva e, por isso, ofensiva.
Mas o meu gajo via aquela magnificência de maneira diferente. E convenceu-me - a verdade é que eu queria ser convencida! Estava a simpatizar cada vez mais com o Vaticano! - de que, para algo ser eterno, tinha de ser feito com o melhor que havia no mundo. E São Pedro tinha de ser eterna e tinha de ser exemplo, ou não guardasse nas suas entranhas o túmulo do primeiro papa, discípulo de Cristo: Pedro. (O meu gajo é católico… Não é um chato católico, mas é católico… Eu não sou.)
Eu fiquei convencida. Apesar de não conseguir olhar para toda aquela riqueza de forma pacífica, de perceber que aquilo não é necessário, nem os fiéis o exigem ou sequer o percebem, eu gosto da ideia de existir uma Basílica de São Pedro, esse santuário de beleza mundana. E gosto que ela esteja nas mãos do Vaticano, porque percebo que aquelas serão, talvez, as melhores mãos para a compor e para a fazer eterna…
Acho que não vale a pena descrever a Pietà ou o baldaquino, os tectos ou a entrada do túmulo de São Pedro. Para quem não está lá, as descrições seriam só palavras…
Sair de São Pedro foi muito difícil, porque apetece ficar lá.
Quando saímos do metro estava tudo normal, ou seja, montes de turistada dispersa e nas filas para entrar para o monumento e as habituais filas de trânsito na rua. Atravessámos a estrada, de três faixas, e, de repente, uma multidão vinha na nossa direcção, deixando uma clareira em torno do colosso, polícias deslocavam-se com espalhafato e a rua foi cortada ao trânsito. Ao olhar melhor, reparámos que junto às paredes do edifício, estavam várias unidades de carabinieri e algumas ambulâncias…
Sem que ninguém no impedisse, continuámos a andar em direcção á zona mais deserta, onde umas poucas pessoas se juntavam com bandeiras vermelhas. Parecia que aguardavam um um comício político! Mas, no topo do edifício, bem nas últimas janelas, viam-se outras bandeiras semelhantes...
O que é que tinha acontecido?
O Coliseu tinha sido ocupado durante a noite por um grupo rebelde!
Que grupo? Pois… Nada de sanguinário!
Ao que parece (lemos isto no jornal do dia seguinte!), uma empresa recentemente privatizada que trabalhava para o Ministério da Defesa italiano começou a ter dificuldades e foi investigada pelas autoridades... Ao verificarem as continhas, as autoridades italianas concluíram que tinha havido um desfalque de alguns milhares de euros. Ora, a empresa abriu falência e os trabalhadores, revoltados com a situação e garantindo que a empresa tinha trabalho e que a falência se deveu exclusivamente às falcatruas do administrador, ocuparam o Coliseu e exigiram que o Governo tomasse providências para não a deixar cair.
Até ao dia em que viemos embora, os desgraçados continuavam no topo do Coliseu e juravam que não sairiam até terem de volta os postos de trabalho! E o mais bonito é que, além do trânsito cortado (que o Coliseu e quem o ama agradecem!), a vida em Roma era de absoluta normalidade. Até as visitas ao monumento continuaram como se nada fosse.
Apreciado o espectáculo, mas ainda sem estar na posse de todas estas informações, lá apanhámos o Hop On Hop Off. A ideia era fazer uma volta completa antes do almoço... Assim, em estilo fast food, passámos sobre rodas no Termini, na Praça da República, na Via Venetto, na Vila Borghese, na Piazza del Popolo e… a fome venceu-nos no Vaticano!
Decidimos almoçar em terreno familiar, por isso, contentámo-nos com um almoço estilo fast food numas barraquinhas de feira ao lado do Castel Sant’Angelo, onde aproveitamos para provar uma das especialidades locais: um granita! Basicamente, naquele local e porque era feito por uma máquina refrigeradora, o granita era gelo picado e xarope de frutas. Mas depois descobrimos que a versão caseira da mesma coisa é a fruta moída e gelada. Seja como for, no calor romano, soube que nem gingas!
Terminado o almoço, fomos até São Pedro apanhar novamente o autocarro. Contornado são Pedro e o Castel Sant’Angelo, passámos pela Piazza Augusto Imperatore, ao lado da Piazza Navona, Largo Argentino, Piazza Venezia, Teatro Marcello (cuja arquitectura é do mesmo género que a do Coliseu. São irmãos!), Circo Maximo e vimos a bela Isola Tiberina ao longe! A aventura continuou até à Piazza Barberini, Lei Quatro Fontane, Santa Maria Magiore e de regresso ao Coliseu. Mas decidimos continuar até ao Vaticano – novamente através do Termini, Praça da República, Via Venetto, Vila Borghese, Piazza del Popolo, Vaticano - para tentar entrar na Basílica de São Pedro.
Conseguimos. E ficámos pasmados com tanta beleza.
A Basílica de São Pedro é inacreditavelmente bonita. É rica. É deslumbrante. E não me refiro a uma beleza espiritual ou recatada. A Basílica de São Pedro é mundanamente deslumbrante. De cair o queixo. TUDO o que lá está dentro é soberbo e de bom gosto. É claríssimo que tudo foi uma escolha de homens que tinham o desejo de se rodear de beleza e riqueza e sabiam fazê-lo. Nota-se esse desejo a cada passo. Deslumbra qualquer um!
Já ouvi relatos de pessoas que dizem ter deixado definitivamente de ser católicas depois de terem entrado em São Pedro. A folha de ouro junto ao tecto ofende-as. A finura dos tectos desafia-as. O mármore de várias cores que cobre o chão contrasta com a ideia dos esfomeados que a Igreja alimenta. As estátuas dos grandes artistas, a imponência do baldaquino papal de Bernini, e delicadeza das cadeiras, das portas, das vedações… Tudo isso as fez guardar ressentimento à Igreja Católica. Para elas, aquela ostentação não combina com o propósito da instituição. É contrastante, excessiva e, por isso, ofensiva.
Mas o meu gajo via aquela magnificência de maneira diferente. E convenceu-me - a verdade é que eu queria ser convencida! Estava a simpatizar cada vez mais com o Vaticano! - de que, para algo ser eterno, tinha de ser feito com o melhor que havia no mundo. E São Pedro tinha de ser eterna e tinha de ser exemplo, ou não guardasse nas suas entranhas o túmulo do primeiro papa, discípulo de Cristo: Pedro. (O meu gajo é católico… Não é um chato católico, mas é católico… Eu não sou.)
Eu fiquei convencida. Apesar de não conseguir olhar para toda aquela riqueza de forma pacífica, de perceber que aquilo não é necessário, nem os fiéis o exigem ou sequer o percebem, eu gosto da ideia de existir uma Basílica de São Pedro, esse santuário de beleza mundana. E gosto que ela esteja nas mãos do Vaticano, porque percebo que aquelas serão, talvez, as melhores mãos para a compor e para a fazer eterna…
Acho que não vale a pena descrever a Pietà ou o baldaquino, os tectos ou a entrada do túmulo de São Pedro. Para quem não está lá, as descrições seriam só palavras…
Sair de São Pedro foi muito difícil, porque apetece ficar lá.
...Prometemos voltar.
2 comentários:
Hmmm... sou a primeira a escrever um comentário neste post, que privilégio! :o)
O único comentário que eu tenho a fazer é que tenho imensa inveja dessa vossa viagem... :o|
Um beijinho grande,
Pisces Girl.
É um dos meus sonhos, visitar o Vaticano!
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