segunda-feira, dezembro 21, 2009

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Love's The Only Rule

I don't give a damn
How it's supposed to be
That might work for you
It don't work for me


You write your truth
And I’ll write mine
One man's ceiling's
Another man's sky high


Flying like an aero plane
Crying like the lonely whistle of a long black train
Dance in the pouring rain
Spit in the eye of a hurricane
Who said life has got to be so cruel
Love's the only rule


It's written in the scars
Where I fit in
It's going to hurt sometimes
You got to lose to win

You've got your sins
And I got mine
Sell your secrets
Kiss them all goodbye


Flying like an aero plane
Alive like a lonely note from John Coltrane
Run like it's a getaway
Say those things that you shouldn't say
Think about it wouldn't that be cool?
Love's the only rule


Might be a wrecking ball
Or just a wake up call
Don't matter where the pieces fall


I'm gonna fly like an aero plane
Cry like the whistle of a long black train
Dance in the pouring rain
I'm alive like a lonely not from John Coltrane
Run like it's a getaway
Say those things that you shouldn’t say
Love, love's the only rule

quinta-feira, dezembro 03, 2009

Fâs dos Bon Jovi em Portugal fazem festa em Lisboa

Foi em ambiente de festa que os fãs portugueses dos Bon Jovi responderam ao apelo da Universal e da FNAC Colombo e compareceram, no passado Domingo, dia 29 de Novembro de 2009, ao lançamento do DVD “Live at Madison Square Garden”. Sempre animados, viram o concerto em primeira-mão na referida loja e, à meia-noite, hora do lançamento oficial em Portugal, adicionaram o precioso item à sua colecção privada.

O ano é especial para os Bon Jovi. Além de “The Circle”, o 11.º álbum de originais (que estreou no top americano em 1.º lugar e no top português em 5.º) e do livro “When We Were Beautiful” - a primeira biografia autorizada do grupo -, a banda lança para o mercado internacional o DVD “Live At Madison Square Garden”. Com um alinhamento que faz as delícias dos fãs (Lost Highway, Born To Be My Baby, Blaze Of Glory, It’s My Life, Keep The Faith, Raise Your Hands, Living In Sin/Chapel Of Love, Always Whole Lot Of Lovin’, In These Arms, We Got It Going On, I ’ll Be There For You, (You Want To) Make A Memory, Blood On Blood, Dry County, Have A Nice Day, Who Says You Can’t Go Home, Hallelujah, Wanted Dead Or Alive, Livin’ On A Prayer, You Give Love A Bad Name, Runaway e Bed Of Roses), este registo a vivo é o culminar da “Lost highway World Tour” e foi filmado em alta definição e surround.

Em Portugal, o lançamento estava marcado para a FNAC do Colombo. O acontecimento exigia a presença dos fãs e eles não se fizeram rogados.

Às 20h reuniram-se numa das praças do centro comercial e às 21h jantavam, unidos e ruidosos, na praça da alimentação. Entre fotos e risos, a animação continuou enquanto tomavam de assalto o auditório da FNAC para uma sessão de fotos pré-visualização do DVD.

Começado o espectáculo, por volta das 23h, o grupo fez questão de acompanhar cada canção com muitas palmas, alguns assobios e coreografias e, claro, cantando cada uma das canções que compõem o conhecido reportório da banda de New Jersey. Durante cerca de uma hora, o seu entusiasmo chamou a atenção de quem fazia compras àquela hora tardia. Sempre ordeiros e bem-dispostos, os fãs exigiram apenas que, na impossibilidade de ver o DVD inteiro, a apresentação terminasse com o mega êxito “Livin’ On A Payer”. Aos primeiros acordes, largaram as cadeiras e alinharam-se em frente ao ecrã para cantarem em uníssono a icónica canção, como se de um concerto ao vivo se tratasse.

A noite de festa terminou com um verdadeiro saque aos expositores da loja que, providencialmente, disponibilizavam todos os registos comercializados da banda.

Este foi apenas o início da loucura Bon Jovi para os fãs portugueses. A banda estará em digressão durante os próximos dois anos e os fãs preparam-se para os acompanhar… Seja onde for!

Para mais informações sobre o Clube de Fãs dos Bon Jovi em Portugal: http://www.bonjoviportugal.com/.

quarta-feira, novembro 25, 2009

Late Night - Especial - Bon Jovi fãs


Apresentação do DVD "LIVE AT MADISON SQUARE GARDEN”
Dia 29 de Novembro - 23H
FNAC Colombo

A Fnac Colombo e a Universal Music Portugal prepararam uma noite especial para os fãs dos Bon Jovi:

Visionamento exclusivo do DVD “LIVE AT MADISON SQUARE GARDEN” e a possibilidade de o adquirirem em primeira-mão, logo a partir da meia-noite.

“Live at the Madison Square Garden” é o culminar da digressão 2008 Lost Highway World Tour. Perante uma audiência extasiada a banda executou alguns dos maiores êxitos da sua carreira como “Have A Nice Day”, “Always”, “Wanted Dead Or Alive” ou “Livin’ On A Prayer”. O concerto é filmado em alta definição e surround.

Dia 29 de Novembro, 23h00, Fnac Colombo, esperamos por ti!

Sabe mais sobre o Clube de Fãs dos Bon Jovi em Portugal e as suas iniciativas em: http://www.bonjovi.web.pt.

ALINHAMENTO:
1. Lost Highway
2. Born To Be My Baby
3. Blaze Of Glory
4. It’s My Life
5. Keep The Faith
6. Raise Your Hands
7. Living In Sin/Chapel Of Love
8. Always
9. Whole Lot Of Lovin’
10. In These Arms
11. We Got It Going On
12. I’ll Be There For You
13. (You Want To) Make A Memory
14. Blood On Blood 15. Dry County
16. Have A Nice Day
17. Who Says You Can’t Go Home
18. Hallelujah
19. Wanted Dead Or Alive
20. Livin’ On A Prayer

TEMAS EXTRA
i. You Give Love A Bad Name
ii. Runaway
iii. Bed Of Roses
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quinta-feira, novembro 19, 2009

Roma 2009 (9)






O último dia na cidade eterna não teve sabor a despedida. Roma parecia-nos incontornável e, portanto, iríamos, sem dúvida, voltar. A nossa juventude garante-o e, na dúvida, garante-o também as moedas que atirámos à Fontana di Trevi.
E foi à Fontana di Trevi que nos dirigimos assim que concluímos o check out. O meu gajo queria porque queria voltar ao restaurante onde tínhamos almoçado no célebre dia em que dei cabo dos meus óculos de sol e, portanto, foi lá que fomos almoçar na nossa última refeição pelas terras dos imperadores. “L’Allegro Pachino” deve ter o melhor serviço da cidade eterna, já que, mais uma vez, fomos recebidos com sorrisos e a comida demorou pouco a chegar à mesa. Delicioso o meu ravioli com spinaci e ricotta.
Depois de almoço fizemos o périplo dos souvenirs. Aquela é a zona ideal para encontrar copos com a cara do Papa, porta-chaves com o Coliseu ou aventais com estátuas romanas de nus. Eu, fazendo jus à fama das mulheres, já tinha comprado imensas coisas. Mas o meu gajo deixou tudo para o último dia. E não acredita que poupei mais ao comprar com calma…
Não resistimos a voltar à Piazza di Spagna, ali tão perto, e, estando lá, exigi percorrer novamente a Via Condotti, de cujas fotos tinham sido escassas.
Sempre a correr (o meu gajo é um stressado), apanhámos o metro de volta à zona do Vaticano e depois o autocarro até ao hotel. Pedimos as malas e tentámos encaixar as novas aquisições na bagagem já apertada. Foi difícil, mas aconteceu…
Despedimo-nos do hotel e ainda tivemos tempo para ir beber um café no botequim do lado enquanto esperávamos pelo nosso chiquíssimo serviço transfer VIP. Sim, porque pagámos 50 euros por um transporte privado para o aeroporto! E porquê? Porque os transferes do hotel estavam esgotados. Aparentemente tínhamos de os ter reservado logo à chegada. Obviamente, havia um outro serviço recomendado pelo Grand Hotel Tibério, mas o recepcionista da noite anterior “esqueceu-se” de o referir proporcionando ao meu gajo uma noite em claro!
Era quase meia-noite do dia anterior e nós estávamos a ligar a todos os serviços de táxis que havia nos guias. Nenhum atendeu. O meu gajo, passado, não acreditava que o hotel pudesse resolver o nosso problema. Eu, mau feitio, garantia-lhe que num hotel de quatro estrelas, aquele problema iria ficar resolvido na manhã seguinte. E assim foi. O hotel recomendou-nos um serviço. O serviço “de limusinas” (como lhe chamavam) custava 50 euros para transportar alguém para o aeroporto, quer leva-se duas pessoas ou cinco. Levava duas. Fomos de Mercedes para o aeroporto. Mas no banco de trás e com motorista privado!
O motorista - vestido de fatinho cinza e sapato preto pontiagudo - era suíço! Quando ouviu dizer que éramos de Portugal começou logo a falar de todos os amigos portugueses que tinha na Suiça! “Os Oliveira. Os Martins. O José. Há sempre um José!”, tagarelava. Demos-lhe corda, mais para esquecer a estrada – ele conduzi como um italiano! – do que por acharmos a conversa interessante. Com telefonemas e algumas apitadelas pelo meio, o homem fez questão de nos levar à porta de embarque da TAP e lá nos deixou, sãos e salvos, no Leonardo DaVinci.
Seguiram-se cerca de três horas de espera (da próxima vez mato o meu gajo e o seu medo de perder o voo!). Dramas de aeroporto, portas de embarque, terminal minúsculo e um voo fabuloso até Lisboa, coroado com uma aterragem ao cair da noite. Estava tudo a correr bem até o piloto resolver fazer corta mato até ao aeroporto e, em vez de vermos o Cristo Rei do lado certo, mergulhámos na cidade de supetão. Correu tudo bem, mas não desejo aquela aterragem atrevida a ninguém!
Malas, táxi, Expresso, Coimbra, cama. THE END!

quarta-feira, novembro 11, 2009

Roma 2009 (8)








No penúltimo dia que passámos em Roma, já não tínhamos imaginação para muita coisa… Ou antes, o que ficava por ver era ainda TANTO, que onde íamos naquele dia não tinha grande relevância. O meu gajo já não falava de tanto cansaço e arrastava-se pelas ruas e eu estava a entrar num perigoso período de mau feitio. (Nota para o futuro: Lembrar que a exaustão me leva ao delírio!)
Arrastei o meu gajo até à Basílica de San Giovanni in Laterano (http://en.wikipedia.org/wiki/Basilica_of_St._John_Lateran) basicamente porque o bilhete do Vaticano nos dava direito a visitar o museu lá existente, que tem um famosíssimo baptistério, onde, conta a lenda, o imperador Constantino foi baptizado… Ele parece que não foi baptizado ali, mas aquele foi durante muito tempo o único baptistério de Roma e modelo para muitos outros. Só que os horários do museu são bastante estranhos e, portanto, acabámos por não ver baptistério nenhum! Mas vimos a basílica! E que basílica!
A Basílica de San Giovanni in Laterano é a catedral de Roma, ou seja, é a “casa” do Bispo de Roma… que é o Papa! Confusos? Então lembrem-se de que o Vaticano é um Estado independente. Assim, já dá para perceber que, lá por estar tão perto de São Pedro, uma coisa não anula a outra… Embora nesta igreja também seja o Papa que dá a missa... Mas adiante!
A Basílica de San Giovanni in Laterano é absolutamente colossal (onde é que eu já ouvi isto…?). Os tectos, as estátuas, as enormes capelas, o órgão de tubos e, claro, o trono papal em destaque no fundo da nave principal… tudo é digno de monarcas! Só ficar junto à porta faz-nos sentir formiguinhas pequeninas. Tem estátuas gigantes dos 12 apóstolos esculpidas por alguns dos escultores mais importantes da época barroca e vários túmulos papais. Tudo, como é habitual em Roma, com a marca de obra de arte extraordinária!
Foi durante o período do Papado de Avignon que a Basílica de San Giovanni in Laterano e o palácio com o mesmo nome entraram em declínio. Tendo funcionado como residência de papas até àquela época, a mudança para França, deixou o património à sua sorte. E, no regresso do papado a Roma, o local foi considerado indigno para acolher o chefe máximo da Igreja Católica devido aos estragos acumulados. Até à construção do Palácio do Vaticano, os papas viveram nas Basílicas de Santa Maria in Transtevere e di Santa Maria Maggiore. A reconstrução foi finalizada em 1735.
Ao lado da basílica está uma atracção turística ainda maior… Embora nós não a tenhamos conseguido achar… achámos o edifício, mas não a famosa “Escada Santa”! Diz-se que, naquele local, estão as escadas de mármore do palácio de Pôncio Pilates que Jesus Cristo terá pisado em Jerusalém aquando da sua Paixão. A transladação da escadaria para Roma terá sido da responsabilidade da mãe do Imperador Constantino I. Na Páscoa, o Papa celebra a missa na Basílica e os fiéis sobem as escadas de joelhos.
Já com umas 60 fotos da Igreja e arredores e cheios de mau humor, almoçámos (mal!) numa pizzaria take away. Depois, a custo, apanhámos um autocarro para um dos sítios que o meu gajo queria ver desde início: o Estádio Olímpico de Roma!
O guia nada dizia sobre aquele que, sabemos agora, é chamado de Stadio dei Marmi. Inaugurado em 1932, fica situado no Foro Italico, um complexo desportivo construído entre 1928 e 1938 e inspirado pelos fóruns romanos. O seu desenho é apontado como uma das primeiras marcas da arquitectura fascista instituída por Benito Mussolini.
De facto, foi com a marca do Duce em paredes e passeios que fizemos o caminho desde a estrada onde o autocarro nos deixou, até ao arvoredo que cerca o estádio novo, inaugurado em 1990, para o Campeonato mundial de Futebol. Aí, depois de fotografado o estádio (com algumas semelhanças aos novo Wembley), que parecia abandonado, deitámos a descansar nos bancos de jardim. Terminado o descanso e, sem dúvida, com um humor mais consentâneo com a época de férias, aventurámo-nos a explorar as redondezas. E, ao lado do novo, lá estava ele: o Stadio dei Marmi.
Incrível! Vazio e imponente. À frente dos nossos olhos tínhamos um relvado enorme, com bancadas em volta e, no topo das bancadas, a toda a volta, dezenas de estátuas em mármore! Cada uma (são 59) foi, pelos vistos, oferecida por uma província italiana. E umas tinham sido mutiladas, outras não… Ou seja, umas eram nus e tinham os pénis intactos, outras tinham os membros coberto com parras… Vá-se lá saber qual o motivo da descriminação!
Passámos bastante tempo no Stadio dei Marmi. Parecia-nos difícil imaginar que, em pleno século XX, alguém tinha conseguido reproduzir um pouco da grandeza do império romano! Sentámo-nos nas bancadas, explorámos a tribuna de honra - onde vimos, fechados, os túneis que levariam Mussolini ao interior de algum edifício – descemos até à pista de tartan, percorremos o túnel de entrada e, à despedida, fotografámos mais um pouco.
Era ainda cedo, quando saímos do Foro Italico. Por isso, apesar de o cansaço nos aconselhar a ir simplesmente dormir, rumámos a outra parte da cidade ainda inexplorada: o Campo di Fiori. Em caminho (é perto da Piazza Navona), admirámos finalmente de perto o Largo Argentina (http://en.wikipedia.org/wiki/Largo_di_Torre_Argentina), que alberga os restos de quatro templos romanos e do Teatro de Pompeia, em cujos degraus Júlio César foi morto. Outra curiosidade acerca do Largo Argentina é que é um santuário de gatos abandonados. Nas ruínas, é possível ver dezenas de gatos de todas as raças. Lindos!
O Campo di Fiori é o local onde se realiza, todas as manhãs, desde 1869 um mercado de frescos. Vegetais, flores e peixe fresco vendem-se ali para gáudio dos turistas. Obviamente, nós chagámos ao fim da tarde… quando já não havia mercado. Mas os cafés, as esplanadas e as fontes estavam cheios de gente na mesma.
Logo ao lado, na Piazza Farnese, aparece-nos um edifício imponente chamado Palazzo Farnese (http://en.wikipedia.org/wiki/Palazzo_Farnese,_Rome), que funciona como embaixada da França em Itália. Ora, contava o guia (e contavam também os mostradores que estavam junto à porta da embaixada) que o palácio data de 1515 e foi mandado construir por Alessandro Farnese, um cardial ordenado aos 25 anos - graças à sua irmã, amante oficial do Papa Alexandre VI (Borgia) – que veio a tornar-se o Papa Paul III. E contava o guia (e os mostradores que estavam à porta da embaixada) que Michelangelo redesenhou todo o terceiro andar do edifício. Lá dentro, há frescos do famoso pintor, escultor, arquitecto, poeta e engenheiro renascentista.
Foi sentados nos bancos de pedra que ladeiam a fachada do palácio que ligámos á família a dizer a que horas chegaríamos a casa no dia seguinte. E foi lá, que, já o sol se tinha posto, decidimos dar o dia por terminado e regressar à zona do Vaticano para jantar e ir dormir.

sexta-feira, novembro 06, 2009

Roma 2009 (7)









Naquela Terça-feira, o plano primordial era encontrar o Pontifico Instituto de Música Sacra. O meu gajo estava a trabalhar para o Mestrado em Música, que girava em torno do compositor português Manuel Faria. Ora, Manuel Faria, nos tempo idos, estudou em Roma… no Pontifico Instituto de Música Sacra!
Cheios de coragem, enfrentámos o calor abrasador e dispusemo-nos a fazer uma caminhada logo de manhã. O meu gajo tinha na cabeça o mapa do local exacto onde a sede do instituto se encontrava sabíamos que íamos ter de andar um bom pedaço, já fora do centro da cidade eterna.
Foi fácil encontrar o Instituto. No entanto, como estava em período de pausa lectiva, os enormes portões estavam fechados a sete chaves. As poucas pessoas que foram aparecendo, não tinham autoridade para nos deixar entrar e, portanto, restou-nos deambular um pouco por ali e fotografar o edifício de todos os ângulos possíveis debaixo de um sol opressivo. Ao fim de uma hora e qualquer coisa, a escorrer suor e sem coragem para fazer o caminho de volta, a pé, até à estação de metro, aguardámos um autocarro em sofrimento. A custo, encontrámos o caminho de volta “à cidade”.
Foi a São Pedro que nos dirigimos. Sempre São Pedro. Ainda não tínhamos visto as criptas nem a cúpula e, definitivamente, se há sítio que vale a pena explorar em Roma é aquela fabulosa Basílica.
Comprámos bilhetes para as criptas e, solenemente, fizemos o curto caminho até às grutas do Vaticano. Lá em baixo, cheirava a suor e humidade. Mas à medida que os túmulos e outros vestígios do Cristianismo antigo apareciam, a sensação de desconforto ia dando lugar a admiração. Um após outros, sem ordem cronológica definida, mas bem identificados com a foto e descrição do “reinado” do seu habitante, as criptas iam desfilando em frente aos nossos olhos, algumas fabulosas, algumas despidas e simples.
João Paulo II. Dizem que será canonizado em breve. Não sou católica. Não rezo junto de túmulos por acreditar que falar com os mortos, onde quer que se sinta a falta deles, é uma solução mais apropriada. Mas João Paulo II estava lá. Não o túmulo – em pedra branca, sóbrio, com linhas duras e simples e três rosas em metal precioso depositadas na pedra nua, que, embora fossem deslumbrantes, pareciam não pertencer àquele lugar humilde, ornamentado de origem apenas com uma cruz de metal austera. O túmulo servia para o achar digno de mais. Era João Paulo II estava lá. Sentia-se nos arrepios da pele.
Não sou católica. Não rezo. E mesmo assim ali parei, como a multidão que, de olhos húmidos, murmurava suplícios e lhe atirava flores e bilhetes perante o olhar inflexível dos guardas. Era o único túmulo com direito a vigilância. Nenhum outro a pedia. Nenhum outro tinha uma multidão à frente a rezar de olhos húmidos. Nenhum outro se sentia assim. Ali fiquei, tentada a contrariar o sinal de “Fotos Proibidas”, mais para guardar a ideia do momento do que a sua imagem. Fiquei lá, também eu de olhos húmidos, a rezar sem o saber fazer e sem saber porquê. Uma oração por João Paulo II. …Tenho a certeza que será canonizado em breve.
Comprámos, depois, bilhetes para visitar a cúpula da Basílica de São Pedro. “Tens a certeza que consegues ir lá?”, perguntava o meu gajo, conhecedor da ansiedade que me surge nas grandes alturas. “Não sei.” – Dizia-lhe. – “Mas vou tentar.”
Começámos a subir. Primeiro de elevador até ao topo da igreja, bem atrás dos apóstolos que se vêem no topo da fachada a partir da Praça de São Pedro, depois por escada, até ao interior da cúpula. No pátio por cima da igreja, tirámos fotos á Capela Sistina vista de fora, discreta, no seu tijolinho castanho. Dentro da cúpula, observámos a nave da igreja, o baldaquino visto de cima e deslumbrámo-nos com a folha de ouro bem à frente dos nossos olhos. Causava vertigens olhar lá de cima…
Eu continuei a subir. O meu gajo, nauseado, ficou-se pelo interior da cúpula.
Continuei a subir, cheia de coragem e confiança. Mas, á medida que o caminho se tornava mais tortuoso e menos amplo, a minha bravura foi-se desvanecendo. Em breve, era eu que seguir nauseada atrás e à frente de uma fila interminável de pessoas. Escadas tortas e altas, corredores inclinados, túneis em escadaria de caracol. MEDO!
Várias vezes tentei parar. Mas não havia como. Se parasse, ninguém mais passava. Lutando contra o pânico que me trazia a sensação de estar fechada, no escuro, a centenas de metros do chão firme e a ser “empurrada” para a frente por dezenas de pessoas fui avançando com passos inseguros. Falhei ao encontrar mais uma escada em caracol mais estreia, mais escura, mais íngreme e com uma corda no meio que ajudava a subida. Recuei. Enfiei-me no único espaço livre ao lado a boca escura da passagem. Não saber onde estava, se faltava muito ou pouco, se o restante caminho ia ser mais fácil ou mais difícil, ou se ia haver chão debaixo dos pés suficiente para albergar toda aquela gente estava a deixar-me fraca.
Um grupo de rapazes parou atrás de mim, gentilmente dando-me passagem. Falaram-me em italiano. Em inglês meio soluçado tentei explicar que talvez não fosse mais longe. “I’m not sure I can do this!” – Disse-lhes. Com um ar brincalhão, todos puseram uma cara triste. E se uns passaram por mim escada acima, outros ficaram para trás e, de mãos esticadas para o escuro, insistiram para que eu continuasse. Respirei fundo e subi.
Subi. Subi. Subi. E cheguei ao topo. Antes de sair para a paisagem, agradeci a quem me obrigou a subir... Depois, já com a luz do dia a inundar-me os sentidos, fiquei, a tremer, encostada à parede interior da cúpula. Estive lá até a respiração se tornar menos ofegante. Não sei se era cansaço da subida ou puro pânico, eu estava de rastos!
Não parei de tremer. A altura. A quantidade de gente enfiada num varandim minúsculo que circundava o topo da velha cúpula. O movimento constante das pessoas. Estava tonta. De olhos fechados, lá recuperei a compostura e, passados uns minutos, tive coragem de me aproximar da grade do varandim minúsculo.
A paisagem era deslumbrante. Roma aos nossos pés. O Tibre. O Monumento Victorio Emanuelle. A Praça de São Pedro com as formigas que por lá deambulavam. Que espectáculo incrível deve ser vê-la cheia dali!
Fotografei. Filmei. Admirei.
Quando seria normal eu ir embora?
As pessoas circulavam em torno da cúpula de máquinas na mão. Famílias inteiras sorriam para a câmara. Miúdos de 5 ou 6 anos inclinavam-se sobre a frágil estrutura de metal. E eu virava a cara para não ver. Concentrava-me na paisagem. Tremia ainda. Ganhei coragem e pedi a um francês, pai de família, que me tirasse uma foto com a praça de São Pedro lá em baixo. Na posse da prova de que tinha estado no topo do mundo, corri pelas escadas abaixo à procura dos braços do meu gajo! Descer foi infinitamente mais fácil. Já conhecia os caminhos tortuosos e corria em direcção ao chão firme.
Encontrei-me com o meu gajo junto aos apóstolos, no terraço da Igreja. Fotografámos as costas de pedra dos homens santos e descemos até à nave. Voltámos a deslumbrar-nos com o interior da Basílica de São Pedro. E depois com a Praça de são Pedro.
Exausta, decidi que ainda conseguia ir até Transtevere (traduzindo, o nome do bairro quer dizer “para além do Tibre” e, atravessando o rio Tibre, fica do lado oposto ao Vaticano). Ansiava por esse passeio. Desconfiava que era no bairro daqueles que se auto-intitulam “os romanos autênticos” que ia encontrar a Itália dos filmes e não me enganei.
Plantas a cair das janelas, scooters encostadas às paredes, raios de sol a banharem as ruas empedradas. Transdevere é doce, boémio e melancólico. É um cenário de um filme antigo. A alguns pode impressionar um certa pobreza que paira nas ruas que não vêm no mapa. Mas é também fora das ruas assinaladas nos mapas que está a autêntica Roma. Aliás, em Transteve não há nada para ver. Não há grandes monumentos com nomes conhecidos (exceptuando Santa Maria de Transtevere onde não chegámos air), nem piazzas memoráveis. São as ruas, é o próprio bairro que vale a pena sentir. Delicioso.
Passeámos pelo bairro mais romano de Roma até o cansaço nos vencer. Depois, atravessámos a Ponte Cestio até à Isola Tiberina, onde fotografámos o Convento de São Bartolomeo, e atravessámos novamente o Tibre, pela Ponte Fabricio, para Lungotevere de Cenci, onde queríamos ver a Sinagoga de Roma.
Depois de um passeio arrastado em torno da Sinagoga, decidimos arrastar-nos até Teatro Marcello – o teatro inaugurado por Augusto em 12 a.C, com uma que construção muito semelhante ao Coliseu e que ao longo dos séculos chegou a ser transformado por Baldassare Peruzzi em residência da família Orsini - onde esperávamos encontrar um bom espectáculo de música clássica, que faz as delícias do meu gajo. E havia, efectivamente um espectáculo. No entanto, a olhar para as pessoas fantásticas que desciam a rampa até ao local do concerto, esmorecemos e desistimos. Tínhamos meia hora para jantar e estávamos imundos e exaustos. Não havia ânimo para uma hora de piano. Eu, sem dúvida, teria adormecido nos primeiros dois minutos da performance.
Jantámos uma deliciosa lasagna na Piazza del Risorgimento a muito custo – o ar quente de Roma estava sufocante depois de terem alcatroado toda a zona – e voltámos ao hotel, onde desmaiámos de cansaço.

sexta-feira, outubro 16, 2009

Roma 2009 (6)








Naquela Segunda-feira, o cansaço falou mais alto… A caminha estava tão boa que ficámos a dormir até à hora de almoço. Estávamos a precisar!
Depois de um almocinho calminho no restaurante do nosso bairro, rumámos, de metro, até à Piazza del Popolo. Mas, antes de entrarmos na famosa praça e porque ela é bem pertinho da saída mais célebre da Vila Borghese onde há uma feira, fomos às compras! Procurávamos óculos de sol! O meu gajo tinha-se esquecido dos dele em Portugal e eu tinha espatifado uma lente quando deixei cair os meus na Fontana di Trevi (pelo menos tiveram a sepultura num sítio icónico!).
Como qualquer turista, o que nós procurávamos não eram uns óculos de sol quaisquer! Não! Estávamos em Itália, paraíso das marcas e dos artigos caídos do camião de entregas… Como não podíamos chegar às primeiras, procurámos os segundos… na feira. E achámos! Pela módica quantia de 10 euros eu sou a orgulhosa proprietária de uns óculos PRADA último modelo. E digo “PRADA”, porque é o que está lá escrito! Não Pradá, nem Proda, nem Preda! PRADA! Já vi óculos iguais aos meus em caras que os podem pagar autênticos! E já vi o preço deles: 240 euros… MEDO!
Ora, o ritual de comprar contrafacção em Itália era-nos totalmente desconhecido e, talvez por isso, tenhamos conseguido um desconto… Apesar da venda destes artigos duvidosos estar presente em TODO o lado (mesmo para quem “era contra”, acaba por ser encarada como “normal”), não tínhamos percebido, por exemplo, que NUNCA há um vendedor perto da banca de produtos contra-faccionados. Começámos a perceber depois que está sempre imensa gente por ali, mas nunca ninguém junto à banquinha. Também não nos lembrámos que não devíamos levar meia hora a escolher. E, especialmente, não percebemos como é possível aquela gente não ser presa assim que recebe dinheiro de alguém se a Guardia Finanza anda sempre pelas ruas (a comer gelados e a cantar, é verdade!… mas anda sempre por perto…).
Obviamente, o nosso vendedor não estava junto à banca, mas quando nos aproximámos surgiu de lado nenhum com um auricular na orelha. Durante as “cinco horas” que demorámos a escolher, ele foi prestativo e motivador, mas nunca tirou o auricular da orelha, nunca parou de olhar em volta e nunca largou o ar displicente de turista. E no fim já pedia uns preços ridículos pelos óculos Versace, Gucci , D&G… Uma maravilha! …Mas parece que sou uma Prada Girl…
Orgulhosos e fashion com as nossas pindéricas aquisições, dirigimo-nos à famosa Piazza del Popolo (http://pt.wikipedia.org/wiki/Piazza_del_Popolo) ali ao lado através da Porta Flamina ou Porta del Popolo. A Piazza del Popolo é famosa por ser o sítio onde mais barbaridades se cometeram em Roma, desde enforcamentos públicos a corridas de cavalos com explosivos nas patas e cinturões com pregos para correrem mais depressa. A praça tem uma aura antiga, madura, como se já tivesse visto o suficiente para não se importar com nada. Mesmo com toda a boa disposição e cabeça no ar de turista, é impossível não parar e sentir, com respeito, a respiração daquele local. É grande em todos os sentidos.
De um lado fica a Porta Flamina e, ao lado da porta, a Igreja de Santa Maria del Popolo (erigida no séc. XI no local onde Nero morreu e foi sepultado e conhecida agora por ser mais um cenário marcante do livro/filme “Anjos & Demónios” ). Do outro da praça, fica o Tridente, nome dados ao conjunto das três ruas que ali desembocam (a Via di Ripetta, a Via del Corso e a Via del Babuino). Entre as saídas dessas ruas encontram-se duas igrejas gémeas, chamadas Santa Maria in Montesanto e Santa Maria dei Miracoli ou dos Milagres. No meio da praça, encontra-se um obelisco de 24 metros - construído no templo dos faraós Ramsés II e Mineptah (1232-1220 a.C.) e levado para Roma por Augusto e anteriormente colocado no Circo Maximo – ladeado por fontes e esculturas de leões e, de um dos lados, uma outra fonte impressionante com uma representação da loba que fundou Roma. Ali respira-se a Itália tradicional.
Entrámos, claro, na Igreja de Santa Maria del Popolo. Estivemos lá dentro algum tempo, tanto para fugir ao calor intenso, como para admirar as múltiplas obras que lá encontraram casa. A mais impressionante? Um quadro de Caravaggio: a Crucificação de São Pedro (http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Caravaggio-Crucifixion_of_Peter.jpg). Não só era possível admirá-lo de perto (ao ponto de conseguir ver as pinceladas de tinta), como se podia fotografar… E, apesar de não vir referido em qualquer guia, a mim impressionou-me particularmente um crucifixo de um Cristo raquítico que, em vez de estar no altar junto à parede, assombrava os fiéis no início da plateia. Em vez de pregado numa cruz, o enfezado Messias estava agarrado a uma vara pela cintura e, numa posição semelhante à crucifixação, erguia os braços com uma expressão de pânico e horror. Aflitivo.
Saídos da mítica Igreja tivemos de enfrentar um vendedor de flores insistente e depois, seguimos, a pé e já de rosa na mão, pela Via Babuino até à Piazza di Spagna. E a primeira visão da zona nobre da cidade, à saída da Via Bebuino, foi um conjunto de carrões pretos, de vidros fumados e motoristas, que esperavam, seguramente, as madames e monsieurs que faziam compras na Via Condoti (http://en.wikipedia.org/wiki/Via_Condotti). Muito, muuuuuito chique.
A Piazza di Spagna estava, como sempre, apinhada de gente. Fotografei-a o melhor que podia, desta vez de dia, e depois de dar destino à rosa que tínhamos adquirido à força na Piazza del Popolo, decidimos fazer o mesmo que o resto da turistada: abancar na escadaria a ver as vistas. E, desta vez, estávamos todos em igualdade de circunstâncias: cansados e suados! Um mimo!
Azucrinados durante toda a estadia em Roma pela febre dos gelati de locais e turistas, achámos que aquele momento de ronha era o ideal para provar a iguaria. Desta vez, nada de granitás, tinha de ser o produto autêntico e cremoso! Desci a enorme escadaria de novo e, no meu italiano fanhoso, consegui trazer dois gelati com três sabores cada (Uiii!, a dificuldade que foi explicar que eram DOIS gelati com TRÊS sabores cada…). O esforço valeu a pena. Vendo-nos lambuzados e satisfeitos - os gelati italianos são TUDO aquilo que dizem deles!!! -, o resto dos turistas começou a fazer o mesmo… Tudo a descer a escadaria para ir comprar gelati cremosos!
Terminada a guloseima, fomos passear para a Via Condotti. E ali só dá mesmo para passear, pelo menos para uma pindérica como eu! Gucci, Prada, Valentino, Bulgari, Perla … Loja sim, loja sim… Nem teria coragem de entrar numa daquelas lojas frescas e perfumadas! Foi a primeira vez na vida que vi lojas de roupa com porteiros!!! E que porteiros! Pareciam modelos saídos dos catálogos da Armani!!! E vestiam Armani!!! Um luxo! Só desejo ter dinheiro um dia para ir lá às compras e depois esquecer que aquilo existe. Uma vez só. Para deixar de ter importância…
Bom, pronto, OK, ainda entrámos numa lojite… Mas já nem era bem na Via Condotti. Era logo a seguir… A pedido do meu gajo, entrámos na Ferrari, onde até era possível fazer compras se eu me passasse completamente. Mas o que é que eu ia fazer com uma mini-saia ou um top, de algodão normalíssmo, vermelho ou amarelo, a 150 euros…?!
Já que estávamos naquela zona ao fim da tarde, resolvemos ir novamente até à Fontana di Trevi, na esperança de àquela hora estar menos gente no local. Mentira. Estava à pinha na mesma. Mas voltar a Trevi vale sempre a pena…
Com um jantarzito de Burguer King de Barberini engolido no meio de suspiros de cansaço, ainda tivemos coragem para fazer uma última excursão. Conseguimos finalmente achar a chiquésima Via Vittorio Venetto (http://en.wikipedia.org/wiki/Via_Veneto), cenário de filmes de Fellini e berço do Hard Rock Café Roma, e passeámos calmamente para cima e para baixo.
Que cenário deslumbrante ao anoitecer! Passeios largos, ladeados de grandes árvores, com esplanadas cobertas, espreguiçadeiras, sofás de tecido, e velas a ornamentar as mesas decoradas com simplicidade e bom gosto. Porta sim, porta sim, deparamo-nos com os melhores hotéis da cidade. Eram verdadeiros paraísos que existiam para lá das enormes portas. Halls de mármore, elevadores cromados, porteiros impecáveis na sua farda de cores vivas. Um sonho! A Via Venetto é um mundo à parte, mesmo em Roma. Mostra o melhor que a vida tem para oferecer. E, mesmo sentindo-me completamente deslocada, nas minhas roupas suadas e havianas no pés, não pude deixar de me confortar com a ideia de existir um lugar assim. Fazíamos… abrandar. Respirar fundo. Pensar que a vida não é correria e tristeza. É conforto. É calma. É beleza. E a seguir apetecia chorar… porque éramos apenas espectadores da vida…
Senti-me tão deslocada e coitadinha que nem tive coragem para entrar no fabuloso Hard Rock romano. Não sei o que tinha por dentro, mas por fora tinha uns vitrais (vitrais! Como nas basílicas!) lindíssimos com os Beatles, o Elvis, etc. Fotografei a entrada (onde estava uma t-shirt Bon Jovi associada a uma causa humanitária) e os vitrais e voltámos ao metro, dando o dia por terminado.

quarta-feira, outubro 07, 2009

Roma 2009 (5) – Parte II









O Tibre estava lindo naquele fim de tarde. A luz plástica do anoitecer deitava sobre o Vaticano uma aura de ternura e mistério. O ar quente de Verão e a quantidade de gente que se via ainda nas ruas largas em torno do Castel Sant’Angelo davam à subida lua no céu uma qualidade lânguida e eterna. Fotografar São Pedro àquela era delicioso. E por isso passámos largos minutos na Ponte de Sant’Angelo de máquina na mão.
Depois descemos as escadas até às margens do Tibre, onde se animavam barraquinhas de comes e bebes e artesanato, com a intenção de jantar. Mas, após um longo passeio, voltámos a subir as escadas e jantámos um hambúrguer na barraquinha já nossa conhecida ao lado do castelo. Todos suados e cansadíssimos, observámos a fila que se formava à porta do Castelo. Lá de dentro, começavam a surgir sons de espectáculos e animação.
Arrastámo-nos até à fila a amaldiçoar aquela gente de banho tomado e perfumada que nos rodeava. Pelos vistos, éramos os únicos que não tínhamos conseguido ir ao hotel refrescar-nos… Enquanto centenas de pessoas entravam no castelo, nós perguntávamo-nos se íamos mesmo andar pelo Passetto di Borgo ou se, á boa maneira italiana, prometiam a abertura do dito, mas só nos iam deixar espreitar por uma frincha de uma porta…
Foi com excitação que descobrimos uma significativa parte dos 800 metros do Passetto estava, efectivamente, aberta! Cortado o bilhete, entrámos no misterioso corredor que liga o Castel Sant’Angelo ao Palácio do Vaticano, eternizado pelo livro/filme “Anjos & Demónios” e que o Papa Clemente VII usou para escapar ao saque de Roma de 1527, quando dezoito mil soldados do exército Imperial deCarlos V e mercenários alemães comandados por Jorge de Frundsberg, ao serviço do Condestável de Bourbon tomaram de assalto a Cidade Eterna.
Ora bem… O Passetto, it self, não tem nada de especial. Percorremos cerca de 300 metros de um longo corredor, primeiro aberto por cima, mas com paredes altas o suficiente para ninguém de fora ver quem o percorre, depois totalmente coberto, com respiradores de ambos os lados, e finalmente, o percurso marcado obrigou-nos a subir umas escadas que nos levaram à parte de cima do Passetto. O restante caminho foi feito com o ar quente da noite romana a envolver-nos em vez do ar cansado e poluído do interior do Passetto. Sempre em direcção a São Pedro, que, com a iluminação cénica, se torna fabuloso contra a escuridão.
O especial daquele caminho não tem nada a ver com os passos percorridos ou com as suas paredes altas e despidas, mas sim com o que imaginamos que ali se passou, a quantidade de segredos que encerra, os pés ilustres que já o percorreram. E, claro, com a vista nocturna de Roma. Breathtaking. Doce. Deliciosa.
Estivemos muito tempo no Passetto. Fotografámos. Cochichámos. Imaginámos. E não fomos os únicos. Cada vez mais turistas – italianos e estrangeiros – percorriam aqueles metros enterrados em betão e depois subiam as escadas e não voltavam. Era difícil virar as costas a São Pedro. (Pelos visto, é sempre difícil virar as costas a são Pedro, literal e figurativamente…)
Quando relutantemente saímos do Passetto – e apesar de ter sido apenas aquele o motivo da visita – decidimos explorar o castelo a fundo. Os bilhetes que tínhamos comprado davam direito a desfrutar dos espectáculos de animação (havia world music, stand up comedy e cabaré em pontos distintos do castelo), da mini feira de artesanato (uma coisa chiquíssima, com peças lindas, mas caríssimas e de autor, desde jóias a quadros e fotografias), dos espaços comuns (incluindo o terraço com o fabuloso anjo que coroa o castelo) e ainda dava direito a uma visita às catacumbas, que serviam de prisão para muitos patriotas, na época dos movimentos de unificação da Itália ocorridos no século XIX. Ignorando o grupo de world music (os Fimm) que se preparava para iniciar o show de meia-hora, seguimos directamente para as catacumbas.
Que visão aterradora! Que coisa absolutamente claustrofóbica! Quem ia preso tinha, de certeza, a sensação de ser enterrado vivo. As prisões ficavam no interior do castelo, enterradas no chão. Para entrar nas celas era necessário descer uma enorme quantidade de degraus estreitos e, passado o mini-corredor para onde davam as sucessivas portas, agachar para as transpor. Lá dentro, não haveria nada. E o ar era escasso. Para fazerem as suas necessidades fisiológicas, existiam filas e filas de uma espécie de potes sem fundo numa sala contígua, mas o mais normal seria fazê-la na cela, cujo chão era terra. Enfim… uma visão do inferno…
Era altura de procurar o terraço. Mas, até lá, estavam guardadas algumas surpresas: os aposentos dos papas. Salas cheias de tesouros. Desde mobília da época a frescos incríveis onde se podia tocar!!! (Claro que não tocámos! Até parecia um crime por lá os dedos gordurosos! Mas houve quem tenha posto! Eles estavam nas paredes. Ali. Sem protecções, nem avisos. Ao nível dos olhos, das mãos, das pernas. Incrível. E não vimos tudo! Sant’Angelo é UM MUNDO! (Mais info: http://www.castelsantangelo.com/.)
Chegámos finalmente ao terraço. Estava escuro e cheio de gente. Sussurrava-se. Provavelmente, com respeito pelo breu e pela fabulosa vista nocturna de Roma e do Vaticano. O ambiente era quente e selecto, iluminado por uma lâmpada deficiente em cada lado do terraço. Todos estavam ali de olhar embargado, cheios de respeito pelo local. Fotografava-se e conversava-se e, mais uma vez, era difícil alguém tomar a decisão de abandonar aquele local. Era lindo demais.
Apesar do extraordinário cansaço e do desconforto da falta (agora claríssima!) do banho, lá ficamos longos minutos. Como os outros, fotografámos e sussurrámos. Fotografámos mais e sussurrámos mais. …E eu apaixonei-me.
Já tínhamos flirtado várias vezes, mas nunca tínhamos estado tão próximos. Ali, na penumbra daquele local, maldito e sagrado, consegui admirar cada pormenor daquele corpo esbelto, cada detalhe da sua expressão, cada possível significado do gesto. Era lindo. Lindíssimo. Inesquecível. Eu explico…
A actual designação do castelo remonta a 590 e surgiu durante uma grande epidemia de peste que assolou Roma. Na ocasião, o Papa Gregório I afirmou ter visto o Arcanjo São Miguel sobre o topo do castelo. Dizia que ele embainhava a sua espada, indicando o fim da epidemia. Para celebrar essa aparição, uma estátua de um anjo coroa o edifício. Inicialmente era um mármore de Raffaello da Montelupo, mas desde 1753, reside ali um bronze de Pierre van Verschaffelt desenvolvido sobre um esboço Gian Lorenzo Bernini. Mais um anjo de Bernini. Mas, por este, eu apaixonei-me perdidamente.
Não sei se foi alguma imagem do badalado filme “Anjos & Demónios” que me colocou na cabeça a sugestão daquela figura, se foi aquele ambiente misterioso e o tempo que ali passei a olhá-lo. Sei que depois daquela noite, eu virei Roma à procura de um souvenir que me permitisse trazê-lo para casa. Não encontrei. Ninguém presta atenção ao meu anjo. Pelo menos, não a devida! (Uma foto decente que alguém tirou do meu anjo: http://www.world-travel-photos.com/routard-photo-Liu-pt-171-253-5225.html.)
Os autocarros romanos recolhiam à meia-noite, hora de fecho do castelo. Por isso, cinco minutos antes da meia-noite, saímos a correr de Sant’Angelo n a esperança de conseguir apanhar o último autocarro para o nosso hotel. Não conseguimos...
De mapa na mão, a servir de isco a malfeitores, vagueamos pela Piazza Cavour em busca de um táxi. Não achámos. Pedimos ajuda a um polícia… que nos deu as direcções erradas. E, finalmente, ainda a conseguir evitar o pânico, descobrimos, no meio da vasta informação do nosso mapa oficial da cidade (pago no Turismo!), que havia um nocturna (autocarro nocturno) que passava no nosso bairro, a duas ruas do nosso hotel! Faltavam três minutos para ele passar no outro lado da praça!
Chagámos à paragem a tempo de o ver surgir ao fundo da rua. Lá dentro, fomos, de sorriso nos lábios, a ouvir três jovens portugueses a discutir direcções e locais de visita. Na nossa paragem, desceram dois outros turistas, com quem nos desencontrámos assim que o autocarro partiu… Voltámos a encontrar-nos no lobby do hotel. Exaustos, partilhámos com eles o elevador. Ao chegar ao quarto e por incrível que pareça não corremos para a cama, mas para a banheira! Íamos ter o nosso merecido banho. Finalmente!

quarta-feira, setembro 30, 2009

Roma 2009 (5) – Parte I








Às 11h da manhã de Domingo o calor era já avassalador. Cansadíssimos logo à saída do hotel e a praguejar contra a porra da organização da cidade (aos Domingo há, como é óbvio, menos autocarros, mas também é aos Domingos e feriados que o hotel decide não ter transferes para o Vaticano… Enfim… é lógica à italiana…), lá conseguimos chegar ao Vaticano, para voltar a apanhar o Hop On Hop Off.
Naquele dia, a prioridade era chegar ao Panteão e à Fontana di Trevi, mas antes, fizemos uma paragem na magnífica Piazza Navona. Mais uma vez, Roma não deixa créditos por mãos alheias. Ela nunca se limita a fazer abrir a boca. Dá sempre um extra que se entranha no coração. Não bastavam as incríveis fontes, com estátuas que são lendas e que apetecem fotografar uma a uma, o local tinha de ter aquela je ne sais quoi boémio e de bom gosto que marca, lá bem no fundinho, toda a vida italiana...
Li tudo o que havia no guia da America Express sobre a Piazza Navona e as suas fontes e igreja. E há muito para ler. Fiquei a conhecer o porquê do formato oval da praça (era originalmente um estádio suficientemente grande para albergar 20 mil pessoas) e descobri as rivalidades entre Bernini, responsável pela fabulosa Fontana dei Quattro Fiumi ou Fonte dos Quatro Rios (tão bem dissecada no livro “Anjos & Demónios”!), e Barromini, autor da Igreja de Sant’Agnese in Agone que ladeia a praça. Dissequei até à exaustão as maravilhosas esculturas das fontes, cada uma com a sua expressão quase viva, refresquei-me nas fontes vaporosas dos restaurantes e cafés e admirei os artistas de rua, que tentavam vender quadros e artesanato. Observado cada centímetro de praça, fontes e fachadas, seguimos a pé para o Panteão.
Por fora, o monumento nacional não é muito impressionante. Ou antes, ao ler no guia a idade do “bicho”, lá se olha duas vezes e com admiração redobrada. Foi construído em 27 a.C.! Mas quem se quer deslumbrar tem de entrar lá dentro!
O Panteão é famoso pela sua cúpula, que - e agora com um texto explicativo da Wiki – “apresenta alvéolos em forma de caixotões no interior, em direcção a um óculo que se abre para o zénite (o ponto superior da esfera celeste). Estes alvéolos, além de serem utilizados esteticamente, também foram pensados para diminuir a quantidade de concreto a ser utilizado na estrutura, tornando-a mais leve. Da base da rotunda até ao óculo vão 43 metros - a mesma medida do raio do círculo da base - o que significa que o espaço da cúpula se inscreve no interior de um cubo imaginário”.
Não sei se perceberam. Tudo isto quer dizer que não só o edifício é uma maravilha da arquitectura, como quem lá entra “leva” com uma luz plástica que parece vir directamente dos céus. E, quando digo “céus”, refiro-me à versão católica ou mística da coisa! Aquele lugar é celeste!
Fotografei aquele buraco – ou óculo – no topo da cúpula dezenas de vezes, porque não conseguia deixar de o fazer e porque nenhuma imagem me pareceu fazer jus ao que os meus olhos viam. Aquela luz que por lá entrava, aquele ambiente etéreo que produzia… eram fascinantes. Tem de haver uma nova palavra para descrever o que ali dentro se passa, porque as palavras velhas não expressam a sua beleza e candura. Não admira que Rafael tenha escolhido (eu disse “escolhido”, sim!) aquele lugar para descansar eternamente, modestamente “plantado” ao lado do primeiro rei da Itália unificada, Vittorio Emanuele II e do arquitecto Baldassare Peruzzi, para referir apenas alguns.
Tirando fotos até termos virado a esquina, por ser difícil deixar aquele lugar para trás, lá nos dirigimos à famosíssima Fontana di Trevi ou Fonte dos Trevos, por ruas e travessas de uma Itália mais coerente com os filmes antigos que povoam o nosso imaginário de tarantellas. Através de estradas pedonais, empedradas e floridas, passámos pela Piazza di Pietra e pelo Tempio di Adriano, até apanhar a Via Del Corso, famosa pelas suas lojas. Decidimos explorá-la mais um pouco e, em vez de seguirmos a direito para a Fontana di Trevi, descemos a rua até à Coluna di Marco Aurelio, na Piazza Colonna, e, ali perto, entrámos para nos refrescarmos na Galleria Alberto Sordi, um impressionante shopping center com tectos em vitrais. Numa das saídas da zona comercial ainda espreitámos a Chiesa di Santa Maria in Via. (Roma é mesmo assim: a cada passo há uma surpresa!). Depois, sim, lá conseguimos chegar a Trevi!
TUDO o que alguma vez ouviram sobre a Fontana di Trevi é real. Sejam quais forem os elogios que lhe fizeram, eles não conseguem defraudar as expectativas dos turistas, porque a fonte – para variar! – é verdadeiramente impressionante. A sua dimensão (cerca de 26 metros de altura e 20 metros de largura), a sua localização (encaixada no meio de uma pequeníssima praça rodeada de edifícios. Aliás, foi de Bernini a ideia de reposicionar a fonte no lado da praça que fica defronte ao Palácio do Quirinal, para que o Papa a pudesse admirá-la de sua janela) e o constante som de água corrente que produz, tornam o local único e digno de ser admirado. Para não haver dúvidas de que estávamos deslumbrados, lá cumprimos a tradição e atirámos, cada um, uma moeda à fonte, para que os céus nos permitissem voltar ali um dia.
Almoçámos num restaurante que, como as ruas empedradas, pedia tarantellas - L’Allegro Pachino - e onde – milagre dos milagres!!! – os empregados eram muito simpáticos!!! Apesar de nos terem levado um euro por pão que não comemos, estávamos tão deliciados com a simpatia do staff que prometemos voltar!
De volta ao calor, subimos a colina até ao Quirinal. Além da imponência do edifício e da previsível fonte com um obelisco (Roma é a cidade da Europa com mais obeliscos egípcios), pouco ali havia para ver. E o sol também não permitia demoras! Por isso, contornámos o Palácio e tomámos a Via del Quirinal até à Via delle Quatro Fontane, passando por um jardim não identificado onde fotografámos uma estátua equestre de Carlo Alberto, pai de Vittorio Emanuelle, que acabou por morrer no Porto!!! Adiante…
Depois de fotografar as quatro fontes que dão nome à avenida, descemos a encosta em direcção à Piazza Barberini, passando em frente à Galeria Nacional de Arte Antiga do Palazzo Barberini. Já na praça, fotografámos a Fontana del Tritone (outra estátua magnífica) e aguardamos, exaustos, a chegada do Hop On Hop Off.
Já sem coragem para grandes caminhadas, fizemos uma volta quase completa no autocarro: Coliseu, Piazza Republica, Villa Borghese, Piazza del Popolo, Vaticano, Circo Maximo, Isola Tiberina… A ilha parecia tão fresca vista de longe que decidimos jantar lá!
A ilha é sempre deliciosa. Percorremos as duas margens do rio pelo meio de barraquinhas de comes e bebes e artesanato (tudo arranjadinho com o bom gosto italiano), admirámo-nos com o cinema ao ar livre montado num dos flancos da ilha e com a delicadeza do bar de Verão da Martini e deliciámo-nos a ouvir o som do rio Tibre que corria violento para o mar, formando uma pequena cascata ao alcance da mão.
Já mais frescos e relaxados, sentámo-nos à beira rio para estudar mapas e horários de autocarros. No final da análise, decidimos voltar ao Vaticano, por uma questão de prática de acesso a transportes e porque… eu insisti que queria visitar o Castel Sant’Angelo, cujo Passeto para o Vaticano (que todos viram ficcionado no filme “Anjos & Demónios”!) estava excepcionalmente aberto e em festas naquelas noites de Verão!