domingo, janeiro 07, 2007

Perdida...?

Há uma ou duas semanas que luto com as palavras para conseguir escrever o que vou tentar expressar. É que tenho medo de cristalizar algo que deve, talvez, permanecer etéreo… Não sei se isto faz sentido… E, por outro lado é algo tão pessoal que tenho medo de me sentir violada no fim da tarefa hercúlea que é espremer estes sentimentos…

(Como sempre, quando não quero dizer alguma coisa, ando à volta, brincando com as palavras, tornando-as o objectivo em si! Se calhar devia ir para a política!!!)

Andei 11 anos perdida. Em busca de mim, do que quero, do que gosto de fazer. Sei que foram 11 anos porque me lembro da data exacta em que senti que a minha vida era minha. E, a partir desse conhecimento, era eu quem tinha a obrigação de tomar as decisões sobre ela.
Aquela acabou por ser uma noite silenciosa, introspectiva, profundamente feliz.
A vida estava cheia de promessas. Pela primeira vez eu podia sonhar com a certeza de que há sonhos que se tornam realidade. Era a mim que cabia concretizá-los, sem a ajuda nem a censura de ninguém. E sonhei… ainda a medo, sem a certeza do que era projecto e do que era fantasia.
Naquela semana sonhei que podia mudar o mundo. Sonhei que o mundo começaria a mudar em mim. Deitei fora ideias feitas. Desisti de um futuro curso de direito, deitei fora a ideia impingida de “estudar e depois casar e ter filhos” e iniciei o meu próprio caminho…

E o caminho chegou a 2006 sem qualquer aparente sentido. Perdida. Era como me sentia.

Recriei a “noite da revelação”. Procurei a miúda de 16 anos que se descobriu. Encontrei-a. Chorei até rondar a demência. Tomei um calmante e morri numa cama de hotel num país estrangeiro para acordar sob a luz do sol e reviver tudo outra vez.

Pode dizer-se que – caso existam – eu tive a minha experiência mística.

Descobri que os sonhos se tornam realidade. Descobri que o mundo pode dar-nos mais do que nos atrevemos a sonhar. E, essencialmente, descobri que isso não acontece só aos outros: eu também mereço esse tratamento privilegiado por parte do Universo. Eu e cada um de nós. Algo que eu já tinha descoberto há 11 anos…

Ainda levei meses a dar um sentido à experiência. O céu. O Inferno. Confundiam-se.

Os exorcismos tinham sido feitos e as perguntas permaneciam as mesmas. Dei-me conta de coisas que sempre soube e não queria ver… Mas como ordenar esse novo conhecimento para que possa tomar decisões com base nele?!

Numa madrugada como tantas outras que vejo, a resposta surgiu-me como quem pensa em beber um copo de água. Eu sei o quero. Sei-o desde aquela noite longínqua que abanou o meu mundo há 11 anos. Sei-o e nunca me desviei disso. Tenho isso do que me orgulhar: não capitulei, não desisti, nunca me resignei.
Mesmo sentindo-me perdida nunca deixei que fossem os outros a ditar o que seria a minha vida, sempre procurei o que amo e os que amo e segui em frente. Aquilo que todos - até eu! – classificaram como inconstância, instabilidade, imaturidade até, era apenas a minha luta para não me resignar ao que me era apresentado e continuar em busca do que me dá verdadeiramente prazer.
Afinal a minha vida faz sentido! É até coerente em escolhas e percurso! Não é uma série de acasos saltitantes. É o caminho que escolhi e que não me vi escolher. Amo-a. Ela é minha. Tão minha. E faz TODO o sentido.
Sei o que quero, o que me faz feliz. Mas sei também que as lágrimas não acabaram. Afinal, de que me serve saber tudo isto com tanta certeza? Hoje em dia o que tu queres, o que tu amas, não conta muito… Conta o que estás disposto a fazer para "te safares". E o meu feitio não dá para isso…
A luta continuará. Só espero - agora que sei para onde caminhar - ter tanta força e tanta coragem como tive sempre enquanto andei perdida…

13 comentários:

Ricardo Rayol disse...

Ter as rédeas curtas em mãos. Viver vendo e dominando. Muito legal seu texto.

Poderosa :-)

Marta disse...

Espero que a sorte, força e coragem que desejas nunca te abandonem.
Pela força do texto, adivinha-se a força da GK...
bj

Dinis Medo disse...

Será que alguém realmente se encontra na vida a não ser os cinco segundos antes de morrer?

Anónimo disse...

No dia em que deixares de procurar... morreste.

Enquanto souberes encontrar(-te)-(nos)... estás viva!


Beijo.

Nilson Barcelli disse...

O teu desabafo, grito ou murro na mesa, enfim, este teu texto pode ser apelidado, visto e interpretado de várias formas, e representará um reafirmar de opções de vida que já há muito as tinhas como sendo as melhores para ti.
Parece simples, mas não é.
Das coisas mais difíceis que há é ter a vida que queremos e não fazer concessões significativas aos outros.
Admiro, por isso, a tua coragem.
E, como ainda és tão novinha, estás ainda muito a tempo de seres assertiva com a tua vida para que dessa atitude resulte aquilo que tu realmente queres.

PS: não ter vergonha de andar a fungar em público não é problema nenhum. o problema é o que te leva a fungar...

Beijos.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

"Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
E que os pés dos pobres me estivessem pisando...
Quem me dera que eu fosse os rios que correm
E que as lavadeiras estivessem à minha beira...

Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio
E tivesse só o céu por cima e a água por baixo. . .

Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro
E que ele me batesse e me estimasse...

Antes isso que ser o que atravessa a vida
Olhando para trás de si e tendo pena ..."

é sempre bom quando olhamos para trás e vemos que afinal tudo faz sentido, que afinal tudo tinha um propósito, agora...bem o que acontece agora...és tu que mandas!
beijinho

SoNosCredita disse...

sem dúvida que é coragem!


"Chorei até rondar a demência."

só quem já chorou assim...


Pois, 'safar' não chega!
*

SoNosCredita disse...

ah! e coerência acima de tudo!!

Mina disse...

Quando sabemos aquilo que queremos, é meio caminho andado! Mesmo sem o conseguir concretizar, tentamos, vivemos... e tu também vais conseguir :)
Bjs.

stela disse...

tenho muito a dizer... as "palavras" não me saiem como queria. Ocorre-me dizer-te que tens FORÇA! Continua assim! às vezes é difícil, doi, chora-se...
MUITA FORÇA!
Beijos grandes

Anónimo disse...

Então agarra tudo com as duas mãos, sorriso no rosto e coração aberto. Agarra e segue!
O que quer que aconteça é o que tem de acontecer. E mesmo quando exitamos em seguir o que nos é proposto, continuamos a ser profundamente amados, pois o Universo olha por nós a cada instante.
Fico feliz. Sinto-me grata pela tua partilha.
Onde quer que vás, estarei contigo.
Um abraço e muita força.
1000 pétalas de Luz

Esteril disse...

Se bem percebi, não te identificas com o que a maioria sente e faz, que é resignar-se a mediano e deixa de sonhar, se for isso, eu também sinto isso, sei que o que quero, e que está muito difícil de encontrar, as vezes parece mesmo inalcansável, vou conseguir encontrar um dia.
Por isso, por mais que tenhas dias cinzentos, acredita sempre no teu sonho e persegue-o até ao fim, pois se desistires a meio nunca tarás o sabor de o alcançar.
bjs