segunda-feira, outubro 27, 2008

O meu pai

Eu não suporto o meu pai. Não tenho paciência para ele. Nunca vou ter.
Quando era mais nova, culpava-o pela minha infelicidade. Agora que cresci… faço o mesmo! Tudo o que de mau eu herdei veio dele. Tudo o que ele me ensinou deu errado. Tudo o que me quer ainda ensinar, eu rejeito.
Detesto a forma como me ama. Odeio o que quer para mim. Não suporto os valores e princípios que tem. Não o suporto a ele.
O meu pai pôs um pacemaker a semana passada. Levá-lo ao hospital desenterrou tudo o que eu tinha conseguido esconder debaixo do tapete para conforto dos dois. Apesar de vivermos na mesma casa, ignorávamo-nos mutuamente com grande sucesso até aquele dia. Ele a fingir que se preocupa comigo, e eu a fingir que isso me enternece.
Naquele dia descobri que não consigo segurar-lhe na mão. Não tenho jeito para o confortar. Não suporto estar ao pé dele, quer esteja doente ou saudável. TUDO o que faz ou que lhe acontece irrita-me mais do que me preocupa. Não o consigo evitar. E muito menos fingir.
Também já não sinto culpa pela situação ser como é. Não a sinto porque me recuso a senti-la sozinha e com ele não posso contar para a partilhar, já que, na cabeça daquela criança de 73 anos, eu é que sou a má da fita.
Não há diálogo. Não há razoabilidade. E estou cansada de birras. Sempre as fez mais do que eu, mesmo quando eu era criança.
No dia em que regressou a casa quis-me bater, o velho! Nem para se preservar consegue estar quieto. Coitado. Não percebe que se me toca, agora, leva troco, com ou sem pacemaker. Não acreditou quando lho disse. Ainda bem que só distribuiu murros pela mobília…
…E ainda pensa que tem família. Família? Família é ter pessoas que nos amam. O que ele tem é uma ilusão. E só.

12 comentários:

Lu.a disse...

Que texto forte!! Até o li 2 vezes!

Bem, se as coisas são assim tão claras para ti, se simplesmente não o suportas, tu lá tens as tuas razões e não deves ser julgada por isso. Admiro a tua fantastica sinceridade... Não é qualquer pessoa que teria "tomates" de escrever o que aqui escreveste!
(Eu nem imagino o que será conviver com um pai assim...adoro o meu, sempre fui a "menina do papá" e dou-me genialmente bem com ele, é uma das minhas "âncoras".)

Muitos parabéns, pela brutal sinceridade e frontalidade. Tou pasmada!

The Star disse...

Faço minhas as palavras da Lua.a. Fiquei esmagada pelo teu texto tão potente. :o

Micas disse...

=(

É triste...
Eu não sei o que é isso, porque eu sou a menina dos olhos de ouro do meu pai, sou a menina em quem ele tem orgulho e nunca me faria isso! Não sei o que é isso, mas acredita que eu sei que é muito duro e triste!

Eu não conseguia viver assim! Ele tinha que apanhar um valente susto... Mas pelos vistos ja apanhou e mesmo assim não tem 2 dedos de testa!! =(

Deve ser muito mau para ti, viver assim!!! Tenho pena...

Se precisares de alguma coisa, diz! =)

Beijinho****

SoNosCredita disse...

a sério?
isso aconteceu?!

Gi disse...

GK: Era tão bom que isso não fosse assim; eu dava tudo para ter o meu pai ainda no mundo dos vivos.
Supostamente quando tudo nos falta, os nossos progenitores seriam sempre o nosso apoio.

Rafeiro Perfumado disse...

GK, a tentares mudar alguma coisa entre vocês, é agora. Acredita, não queiras um dia dar por ti a pensar "e se eu tivesse tentado outra coisa?". Um beijo.

SoNosCredita disse...

voltar pra k?
volto smp ao mmo e ñ estou pra estar a escrever sobre...

:/


(vou lendo os vossos e comentando)


*

Boop disse...

TExto dificil este...
Dificil sabes porquê?
Porque é sem esperança!

;)

Ervi Mendel disse...

Se não tem volta, segue em frente e não olhes para trás.

Gata Verde disse...

A minha relação com o meu pai também não foi das melhores, mas felizmente tudo mudou antes de ele partir. Guardo agora a imagem dos ultimos 18meses em que passámos juntos.
Não esperes para o fim...vê se há alguma maneira de se darem bem antes que seja tarde demais.

beijinhos

GK disse...

Obrigada a todos pela preocupação. E perdoem-me a resposta que dou no post seguinte. Teve de sair...

Anónimo disse...

Oh Gisela, que palavras tão transparentes e cruas. As coisas não podem mesmo melhorar, não têm mesmo volta? Não é só uma má fase, daquelas que a gente pensa que durou a vida inteira, mas que de um momento para o outro, conseguimos esquecer e perdoar?

Beijinhos

Betânia