sexta-feira, julho 31, 2009

Calada

E de repente, tudo muda.
Explicações? Não há. Ou antes, não vale a pena explorá-las. E essa é outra mudança.
Para alguém ávida por partilhas e cumplicidades, ansiosa por explicações e exploração de comportamento, a nova fase choca.
Não tenho qualquer interesse em conversar, em perguntar, em partilhar.
Não quero perceber nada, explorar nada, debater nada.
Não estou interessada em conclusões, porque são demasiado dolorosas e evidentes.
Era eu a chata. Era eu a que obrigava toda a gente a ver-se quando não o queriam fazer. Sabe-se lá há quanto tempo me guardavam rancor por lhes enviar os mails interessantes, por marcar encontros, por os obrigar a partilhar sentimentos.
Andava enganada. E o que não perdoo é que ninguém mo disse.
Fui ridícula.
E por isso calei-me. Acabou. Não existo mais.
Não é medida de retaliação. É antes fruto da desilusão. Que é grande demais e que não pode voltar a acontecer.
Não volto a entregar-me. Não vale a pena.
O esforço que fiz – e foi esforço – caiu-me em cima. Foi em vão.
Não vejo, de momento, como posso voltar a acreditar no ser humano.
Capitulei.
Não tenho nada a dizer a ninguém.
O mundo vive bem sem a minha voz. Afinal eu apenas achava que era ouvida.
Não serei ridícula outra vez.

…Não sei o futuro deste blog.
Por cá andarei enquanto não for um fardo.
Quando o for, ficará abandonado. Como eu.

quarta-feira, julho 22, 2009

Eu tenho dois amores...

Namorei Barcelona. Mas, num impulso, casei com Londres.
Barcelona foi um cou de foudre, uma paixão fugaz e eterna, como um amor de Verão, daqueles que ficam, lá bem no fundo da memória, como a loucura de eleição, a loucura que causará estragos sempre que aparecer na nossa vida…. O seu apelo latino e sensual ainda me povoa as noites. Imagino-me esmagada pela grandiosidade da Sagrada Família, a desvendar os segredos do Bairro Gótico ou a perder-me por entre as bancas floridas das Ramblas, a pensar como seria se eu permitisse que esta paixão se transformasse em amor… E juro voltar para descobrir…
Com Londres foi mais sério. Assim que lhe vislumbrei a face percebi que corria o risco de lá deixar a alma. A irreverência de Piccadilly. A elegância de Knightsbrigde. O ambiente boémio de Covent Garden. A ternura de Notting Hill. A história palpitante das ruas de Southwark. Londres roubou-me o coração para sempre. Nem o típico british weather me faz esquecer este espinho de não a habitar, até porque, quando me sente nas suas entranhas, ela saúda-me com um sol radioso, como que jurando que o sentimento é recíproco. E prometo amá-la para sempre.
Amor platónico? Também tenho: Vancouver (Canadá)!

quinta-feira, julho 16, 2009

Atentado à masculinidade tuga: uma mulher na estrada!

Quando um homem pára o carro ao lado do carro de uma mulher à entrada numa rotunda e é a mulher quem entra primeiro… será que lhe caem os tomates?

Quando um macho latino, mesmo que vá a pisar ovos, é ultrapassado por uma miúda… será que lhe caem os tomates?

Quando um gajo está parado num semáforo ao lado do carro de uma gaja e ela arranca antes dele quando o sinal passa a verde… será que lhe caem os tomates?

Foi uma revelação para mim que uma mulher na estrada pudesse pôr em causa a masculinidade de alguém...

quarta-feira, julho 08, 2009

Amizades circunstanciais e outras lições de vida

Andei 30 anos enganada. Achava que a vida me estava a tentar ensinar a ser altruísta, generosa, solidária. Mas não. Todo o esforço que fiz para ser menos egoísta, para prescindir do meu tempo, das minhas paixões, das minhas coisas em prol de algo ou alguém, foram genuína e totalmente perdidos. Afinal, o que a vida quer que eu aprenda é a impor limites à minha generosidade.
No good deed goes unpunished, diz um ditado na língua de Shakespeare e é verdade. Sempre que mudei de rumo por alguém, sempre que sacrifiquei os meus planos em prol de outro, sempre que dei mais, fiz mais, sofri mais… levei com o mundo na tromba. Sangrei de tristeza. De falta de retorno. De castigo maior. Até ver que nada vale a pena.
_ Equilíbrio! - Diz-me uma sábia amiga, - a vida quer ensinar-te equilíbrio entre o que dás e que precisas que te dêem.
Equilíbrio, diz ela. Com razão, talvez. Mas no meio-termo não há paixão. Não há emoção. Não há lágrimas nem gargalhadas. Há sorrisos educados. Portas que se fecham e se esquecem. E o que eu preciso é que me levem o coração e me façam arrancar a pele. E que o façam por mim também. Que me emocionem. Me amem. Me escolham.
E aqui reside mais uma fonte de frustrações. A minha vida está demasiado formatada. Educada. Já não é a adolescente que eu odiava e amava, mas que eu sabia que tinha sangue na guelra. Tornou-se cinzenta e previsível.
Pisam-me os calos? Está bem. Exigem o que não posso dar. Vou ver isso. São injustos. Eu espero que passe. Blá. Blá. Blá. Sem sangue, nem arrepios. Sem paixão, nem conquistas. Cinzento. Tudo.
E eu odeio quem me deixa viver assim. Odeio os meus amigos. Todos. Que me deixam aqui. Todos! Menos aqueles que, pelas circunstâncias, não me chegaram a conhecer os pensamentos na totalidade. Os novos. E os velhos que estão distantes. Perdoo esses. Os outros não. Os outros abandonaram-me. Foram embora. Viraram as costas.
Sou agressiva, por isso ninguém fica para me aparar as lágrimas quando sofro, com medo de serem arranhados pelas minhas garras vis. E vivi com isso. Sou fechada, por isso ninguém consegue arrancar-me o que me vai na alma e muito menos adivinhá-lo. E eu perdoei isso. Dou e dou e dou e vazia de dar sem receber, imponho limites. E o pior acontece. Perco-os. A todos.
Good riddance.
Não os quero por perto. Nenhum. Chega de cobranças e acusações, chega de usos e abusos e de epítetos e títulos. Quero ser OUTRA pessoa e não me deixam. Quero ter outros adjectivos e não mos dão. Quero que me amem e me leiam e me cuidem e não o fazem. Quero-os, por isso, fora de mim de vez.
Mas, sem forças para grandes paixões, desabituada de as ter, ou, se calhar, consciente de que tanto faz, continuo a ser a amiga de circunstância. A que responde às dúvidas e às questões sobre como se faz isto e aquilo. A que vai ao concerto ao Domingo á noite e que aceita as conversas de café. A que resume em duas frases o carrossel da vida quando alguém o pede. E eles gostam disso. Isso basta-lhes. E odeio-os por isso também.
Com as existências finalmente formatadas em casais mais ou menos convencionais, ter Amigos (com A grande) dá, suponho, demasiado trabalho. Não a mim. Que roubei horas da minha relação para pegar em mãos alheias. Mas a todos os outros custa, parece-me, fazer o mesmo. E então sou aquela a quem ninguém pergunta “Como estás?”. Aquela a quem as ausências não são questionadas com o “Porquê?” a que todos têm direito. Aquela por quem nunca ninguém saiu nem vai sair do seu rumo. Aquela que sempre esteve lá, mas já não está de tão vazia. E isso é imperdoável!
Desconhecida. Até de mim própria. Não sei quem é este ser de sangue frio que me habita. Que não vira a mesa. Já não sei encontrar saídas e soluções. Perdi-me algures. Choro. Seco as lágrimas. E durmo uma noite à espera que passe. Não passa. Estou sozinha. Sempre sozinha. Agora, assumidamente sozinha. E altiva nisso. Afinal foi assim que sempre estive. Apenas não o sabia.

quinta-feira, julho 02, 2009

Poema do Homem Só

Sós,
irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.

Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros nada explicam:
Arrefecem

Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de outro se refracta,
nehum ser nós se transmite.

Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.

Dão-se os lábios, dão-se os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, e dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.

Mas este íntimo secreto
que no silêncio concreto,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarçe,
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se, e desflorar-se,
é nosso de mais ninguém.

António Gedeão