Tarde luminosa de Quarta-feira. Encerrado o computador e fechada a porta do escritório, fugi para os braços do meu gajo.
_E se fossemos dar um voltita ao estádio. Sá para espairecer? – Pergunta ele.
Fazemos isso algumas vezes, eu e o meu gajo. Ele acha que é exercício. E eu aproveito para “fazer a fotossíntese” (para quem não me conhece, aqui fica a explicação: quando não apanho sol/luz directa durante algum tempo começo a ficar de mau humor…). Fomos.
Seguíamos de mãos dadas, a falar das trivialidades do dia quando se ouve um estrondo de vidros a partir. Do outro lado da rua, um tipo espatifa a janela traseira do carro e enfia o torso dentro do veículo.
_Não olhes! Vou ligar à polícia! – Adverti o meu gajo que ficou especado a olhar para a cena. Incrédulo.
Enquanto eu ligo para o 118 (Estúpida!!! Devia ser o 112! Enfim…) e pedia o número da PSP, o tipo puxa uma bolsa de computador da mala aberta do carro e foge a sete pés de costas para nós.
Enquanto eu ligo à polícia, o meu gajo grita “LADRÃO” a plenos pulmões e corre atrás dele! E eu corro atrás dos dois!
Obviamente o homem desapareceu pelas ruas da cidade antes de o conseguirmos alcançar. E obviamente a polícia demorou QUARENTA minutos a chegar. Foi preciso mais um telefonema a espumar, a perguntar se podia ir à minha vida já que eles não nos deram atenção, para finalmente mandarem um carro de patrulha. O proprietário chegou ao mesmo tempo que eles.
O desgraçado tinha a vida TODA no computador. É um professor que não faz cópias de segurança e que estava a trabalhar há seis meses num projecto de investigação. Ficou de todas as cores e com a boca aberta a olhar para nós sem conseguir reagir durante largos minutos…
A polícia - solícita, vá lá… - explicou-nos como era difícil, hoje em dia, conseguirem reaver um computador.
_Dantes, quando havia uma ocorrência destas, dávamos uma volta aí pelos armazéns que nós sabemos que podem receptar estas coisas e havia hipóteses… Agora a lei mudou e, para entrarmos nalgum lado, temos de ter um mandato. Ora, como é que se arranja um mandato em tempo útil num caso destes…? – Perguntavam genuinamente desolados – A esta hora o tipo já o passou, já comprou droga e já está do outro lado da cidade descansadinho.
O dono do laptop torcia-se e pedia apenas “que me arranjem forma de reaver o computador! Nem que eu tenha de pagar por ele”, enquanto os polícias davam uma aula didáctica sobre como NUNCA se deve deixar objectos à vista dentro de um carro! Verdadeiramente preocupados (nunca tinha visto nenhum polícia assim… a trabalhar mesmo…), ligaram á esquadra a perguntar porque é que tinham recebido a participação com tanto atraso e ainda nos convidaram, a mim e ao meu gajo, a dar uma voltinha no carro da polícia na tentativa de “identificar o suspeito”. A possibilidade favorita da polícia não era o “nosso” suspeito, mas a verdade é que “um homem alto e magro, de cabelo cortado à máquina bem curtinho e de calça de ganga e t-shirt azul acinzentada” pode ser qualquer um.
O episódio não ficaria por aqui. O tal professor estava tão desesperado que, mesmo depois de eu lhe dizer por telefone que não seria capaz de identificar suspeitos por fotografia porque só tinha visto o homem de costas, mandou dois investigadores (da PSP, não do CSI!) ao meu trabalho com um dossier de fotografias. Nem eu nem o meu gajo conseguimos identificar ninguém, mas ficámos a saber que artistas como aquele há ás dezenas em Coimbra…
sexta-feira, junho 05, 2009
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