Um dos fantasmas que mais me atormentam na vida é o que é que ando aqui a fazer, qual vai ser o meu legado, o fim da minha luta. Esta questão, para mim, está intimamente ligada ao trabalho, ao que faço 8 horas por dia, já que não sobra muito tempo para outras actividades que me preencham. Ora, ontem apercebi-me de que o que estou a fazer ainda não é o fim da minha viagem exploratória.
Entreguei a carteira profissional de jornalista e virei-me para as Relações Públicas / Assessoria de Imprensa. Não me arrependo. Mas também é verdade que, ao fim de um ano, já não acordo todos os dias à espera de desafios. E, ontem, já à tardinha, depois de um dia de sol simpático que se pôr bem em frente à vidraça da porta do meu escritório junto ao rio Mondego e deu lugar à escuridão, tive uma conversa com o meu chefe pelo Skype.
Voltámos a digladiar-nos sobre coisas básicas. Aparentemente, encaramos o meu trabalho de forma diferente: ele acha que a minha função é tráfico de influências (não é surpreendente, eu própria temi que fosse esse o dever de um RP); eu, ingénua, acho que é tornar o projecto interessante o suficiente para não ter de mover influência nenhuma. Tenho-o conseguido… Até porque não tenho influência nenhuma sobre ninguém e não quero ter. Aí reside a minha ingenuidade.
Por isso, vou ter de mudar de profissão yet again. Porque deixar de ser ingénua não quero, nem consigo.
Na mesma conversa, por brincadeira e a propósito de um evento que estamos a organizar e que envolve aviões, falámos da possibilidade de eu, um dia, vir a ter um avião. Eu, meia a brincar, meia a sério, disse-lhe que me desse 15 anos e eu teria um avião! Para o meu chefe, se isso um dia acontecesse, seria porque eu daqui a 15 anos estaria a dirigir um grande grupo de media. Para mim… A verdade é que não sei porque seria.
O que é que, na realidade, eu estou a fazer para ter um avião daqui a 15 anos?
Já cheguei à conclusão que esta profissão também não é para mim (atenção ao “também”!). Não estou a fazer nada em paralelo que me faça subir a escada social e económica… Ou antes, até estou. Mas se nessas “coisinhas” existisse talento, já alguém teria tido interesse nelas. Não lhes dedico sequer tempo suficiente (não o tenho!) para que melhorem, para que se “refinem” ou para que me dêem a satisfação que procuro.
Os arquitectos, os escritores, os músicos, os académicos… Esses deixam legado. É garantido! Com ou sem aviões ao fim de 15 anos, ficará na Terra a prova de que existiram. Perdoem-me a imodéstia, mas também eu procuro uma forma de cá ficar, de dar significado à minha vida, de deixar algo que produza um efeito no mundo ou apenas em parte dele. Não a achei ainda.
Não acredito já que o meu trabalho diário, o filme que escrevi, o livro que esbocei, ou a peça que planeio me dêem a imortalidade. Nem os cursos de teatro e de fotografia ou os de ciências forenses… Nem sequer as viagens e loucuras que faço todos os anos… Duvido vir a ter coragem de efectuar uma mudança verdadeiramente drástica de rumo e começar tudo de novo. Já não tenho fé para isso. Farto-me de lutar, recuso resignar-me, mas não tenho ainda resposta para a amiga que me pergunta incessantemente: “Estamos a ficar cotas, quando é que fazemos alguma coisa pela nossa vida?”…
…É que houve alturas em que eu tinha a certeza que estava fazer exactamente isso: algo pela minha vida!… Afinal…
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9 comentários:
Mas eu tenho a certeza e acredito em ti, no teu talento e na tua capacidade de trabalho. E sabes que tenho um 6º sentido... Por isso, e tb pela minha (ainda eterna) insatisfação e recusa em resignar-me te voltarei a perguntar de tempos a tempos "qdo fazemos algo pela nossa vida"? Até um dia ser uma realidade...
SML
não sei porquê amiga, mas pergunto exactamente o mesmo: quando raio vaoms fazer alguma coisa pela nossa vida?... O que mais será necessário para mudar?! Não sei. mas havemos de lá chegar! Eu acredito que é só querer.. ainda que nada tenha feito por isso!
Já agora... fotografia, é? queres fazer mais um cursinho? Avisa a Ana e vamos todos! manda o teu número de telelé... perdi todos os números do meu...Ups! ;) beijos enormes
"também eu procuro uma forma de cá ficar, de dar significado à minha vida, de deixar algo que produza um efeito no mundo ou apenas em parte dele. Não a achei ainda."-Somos duas...!! Com duas pequenas diferenças...ando a tirar um curso de fotografia ( a ver se é desta que deixo um " legado"!) e avião...tenho um diferente todos os dias que vou trabalhar...;)
Eu, pessoalmente, acho que o nosso legado passa por deixarmos uma BOA marca em tudo o que fazemos, mesmo que nós achamos que ninguém nota, mesmo que nós achemos que não estamos a marcar.
Só depois de andarmos um passo para a frente, ou para trás, vemos a marca que deixamos ... isto se olharmos, é claro.
Outra "coisa" que nós legamos, caso tenhamos possibilidade, é aquilo que tu, de todo, não queres: filhos.
Beijinhos e bom fim de semana.
pois, se estamos a fazer algo, se vamos no caminho 'certo'... :/
nunca o saberemos.
o único 'segredo', creio, é sentir e deixarmo-nos ir!
Keep the faith, não desistas de procurar aquilo que pretendes encontrar.
Segue em frente. Luta pelos teus sonhos e hás-de encontrar o teu caminho. Eu também ando a tentar entrar no meu, mas não está facil. Jornalismo, sabes como é certamente...
Beijinhos e bom fds
Pois, é sempre difícil de saber se estamos a seguir pelo caminho certo...
Mas, apesar disso, nunca podemos desistir de lutar pelos nossos sonhos...
Um beijinho grande,
Pisces Girl.
Sabes, acho que o nosso maior legado é termos deixarmos boas memórias a quem realmente gostamos. Sim, eu também gostava que o mundo soubesse quem era a pessoa por detrás da Carracinha Linda tal como toda a gente sabe quem é a Madonna. Só quem nem todos temos a mesma sorte e acesso aos mesmos recursos. Por isso, já me daria por satisfeita se daqui a 15 anos alguém se lembrasse de mim e falasse de mim com carinho e com orgulho.
Relativamente a não andares a fazer nada por ti, pela tua vida... Decidiste seguir um rumo diferente, certo? Porque será? Porque percebeste que não querias mais seguir o caminho por onde caminhavas. Não fazer nada era se soubesses que deverias agir e nada fizesses.
Por isso, toca a arrebitar! E a lutar pelo que realmente queres!
Beijocas
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