sexta-feira, maio 23, 2008

Numa manhã rotineira...

Numa destas manhãs, estava eu na minha vidinha normal, dentro do autocarro número 7, a caminho do trabalho, quando ouço uma musiquinha familiar. Um som leve e alegre, de (sei lá!) gaita-de-beiços? Um som doce que me leva directamente à minha infância ou talvez até a algum período anterior.
Numa das ruas mais movimentadas da cidade, no passeio, com a sua tradicional bicicleta, seguia o vulto sempre íntimo de um amolador.
Olhei-o, subitamente feliz, até o autocarro me fazer perder no trânsito daquela artéria, àquela hora sempre caótico. Mas, mesmo depois de os meus olhos o perderem, consegui continuar a ouvir as notas mágicas que ecoam eternamente à passagem do homem que afia facas e tesouras de porta em porta.
Não sei porque é que aquela melodia me leva directamente para um lugarzinho quente e familiar. A minha infância já não coincide com a época destes profissionais. Mas sempre que ele aparecia na minha rua, eu pedia por favor à minha mãe que arranjasse uma qualquer faca moribunda para ele afiar e para eu poder ir ter com ele e vê-lo tocar aquele estranho e aconchegante instrumento. E não era a única. Toda a rua se encontrava no largo, com facas e tesouras que já não usavam nem usariam, nos já raros dias em que por lá passava o amolador.
Não sei se será o mesmo. Não sei quantos existem em Coimbra. Julgava que nenhum. Não sei se foi necessidade ou nostalgia que o fez sair à rua naquela manhã rotineira de Terça-feira. Sei que, apesar da loucura dos dias, amanhã e depois ainda o vou recordar. E todas as vezes que passar na dita rua... Todos os dias, portanto…

8 comentários:

Rafeiro Perfumado disse...

De vez em quando ainda o ouço, ali para os lados do Largo do Carmo. Era sempre ao Sábado que se fazia ouvir, ele e o senhor que vendia bolacha americana, que gritava duma maneira que parecia que lhe estavam a passar com um rolo compressor por cima. Boas memórias...

The Star disse...

Tem piada que cada vez que ouço o amolador, hoje em dia, também sinto uma grande nostalgia... Porque será que o som daquele instrumento nos transporta para tempos remotos?
Bela recordação a tua. :D

Gata Verde disse...

Foi optimo viajar contigo até à infância...mas felizmente ainda se ouvem por aqui.

Nota:esse azul baralhou-me,talvez seja melhor combinarmos outra forma. Ainda falta muito?????

;)

Enfim... disse...

por aqui so á um loool e que por sinal gosta muito de acordar logo de manha eheheh

beijinhos

Tozé Franco disse...

Olá GK.
A minha dizia-me que a música do amolador trazia chuva. Noutros tempos os amoladores além de afiarem tesouras e facas, também remendavam os tachos rotos e arranjavam os pratos partidos com agrafos(ainda há quem diga qua então é que se vivia bem).
Um abraço.

Canephora disse...

Infelizmente hoje em dia já não há muitos destes... mas também, quem é que paga 5 € para amolar uma faca se a pode comprar por 2,5€.
A realidade é que estes pequenos "artesãos" estão a acabar...
amolar tesouras ou reparar chapéus de chuva... pra quê?
Pelo mesmo preço as lojas "orientais", vulgo Loja do Chinês têm uma panóplia de produtos para substituir aquele que precisa de reparação...
Por isso minha cara, guarda bem esse som, essa recordação... pois deve ser difícil voltares a ouvir.

Carracinha Linda! disse...

Aqui na rua onde trabalho passa um com bastante frequência. E quando oiço aquela gaita lembrou-me dos tempos em que era pequena e estava em casa dos meus avós... era uma agitação para chegar à varanda rápidamente para ouvir aquele som e senti-lo desaparecer ao fim da rua...

SoNosCredita disse...

:)
é a magia das pequenas coisas q nos fa continuar... e q nos dá alento!