É fácil amar à distância. É fácil querer bem ao abstracto. Só porque existe e existiu sempre na minha vida. Porque estava lá, sem eu saber bem quem era ou porque ainda hoje me chamava “irmã”.
Sabes, sempre sonhei que, quando ganhasse o Euromilhões te ia tirar daqui e levar-te para um sítio de onde sairias limpo. E, se não conseguisses agarrar a oportunidade de refazer a tua vida, porque já não o saberias fazer, eu tomaria conta de ti. Proteger-te-ia com os meus milhões.
Isso deu-me desculpa para não te perguntar como ia a tua vida, o que te preocupava, como vias os teus dias. Permitiu-me pensar que te amava, que te queria bem, que cuidava de ti. Só porque, ao pé de mim, tinhas sempre um prato de sopa ou uns trocos para os cigarros.
Eu olhava para todos os outros, a quem nunca chamaste “irmãos”, e achava-os uns monstros por não amarem como eu, por não cuidarem de ti como eu, por não te protegerem como eu.
Na tua última homenagem vi muitas pessoas. Muitas. Admirei-me. Fui cruel. Perguntei-me onde estavam quando estavas vivo.
Depois vi. Depois percebi. Depois soube que, se calhar, também elas te davam o prato de sopa e os trocos para o tabaco. Também elas achavam que te amavam. Também elas me olham com desdém e não sabem onde é que eu estava quando estavas vivo.
Se todas as pessoas que velaram a tua alma à partida estivessem verdadeiramente contigo quando estavas vivo, tenho a certeza que terias sido um homem feliz.
E não me perdoo. Jamais.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
18 comentários:
Como já te disse, há muito tempo que não levava um "murro no estômago"...
Ainda há pouco me perguntou "Tudo em ordem?"
E as nossas vidas seguem em "ordem", cada vez mais isolados, mas em "ordem"...
Até um dia... "mano"
GK,
Lamento!
Mas não te culpes. Pensa que se ele não te "amasse", não te trataria por "mana".
Todos temos casos em que podiamos fazer mais... mas o facto de já fazermos algo, é melhor que nada não?
Beijinhos.
Nestes momentos sei que nada que possa dizer pode apaziguar a dor de quem perdeu alguém que amava... por isso, digo apenas que sinto muito!!! Não te culpes porque a culpa mata-nos também, e não se pode ajudar quem não quer ser ajudado... Se precisares de alguma coisa, é só dizeres... Bjs
É na perda que olhamos para trás e temos vontade de mudar tudo, pensamos ingénuamente que somos culpados de tudo. Nem sempre é verdade...é inevitável querer voltar atrás e compor as coisas, inevitavel e até saudável. Mas não te culpes tanto, pensa que há muita gente que nem o prato de sopa lhe dava e se ele te chamava "irmã" é porque eras especial.
Lamento...ms força!
****
Nestas alturas as palavras faltam-me. Quero apenas dizer que lamento a tua perda.
Grande beijo.
Querida amiga o que contas é uma verdadeira história de vida, que todos nós simples mortais nos confrontamos dáriamente.
Li o teu texto e comovi-me... já não sou propriamente um "menino" e mesmo assim comovi-me.
Beijo sonhador
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
(António Gedeão)
Nestas alturas apercebemo-nos do muitos que gostaríamos de ter feito e não fizemos. É normal. Nunca se está preparado para perder alguém de quem gostamos.
Um abraço.
É quando, os que amamos partem, que nos fica a questão: não poderiamos ter feito mais? não poderiamos ter estado mais? dissemos que os amavamos? mostrámos? será que sentiram? Perdi duas pessoas que amava e até hoje pergunto isso... fazemos o que achamos estar certo, com o nosso amor, o que temos por eles... de certeza que também o fizeste! os "se's", ficam sempre... lamento muito a morte do teu "mano"...
percebo perfeitamente que penses, reflictas, sofras, te questiones... e percebo que, de facto, ñ nos aproveitamos, uns aos outros. devíamos passar mais tempo juntos, perguntar aos nossos se são realmente felizes...
mas a culpa ñ é tua!
de certeza que fizeste o melhor que soubeste, na altura*
As madurezas da vida apanham-nos muitas vezes desprevenidas: lamento a tua perda...
Beijinho :)
Saberás que os sonhos, moram nas gotas de orvalho que um arco-íris solta, em coração desencontrado. Saberás que os passos errantes de um louco na procura do norte, não deixam marcas no pó, tão pouco são rumo para a sorte.
Bom fim de semana
Doce beijo
GK,
Nesses momentos é super complicado dizer algo que conforte, pois nada conforta! A alma está em dor profunda.
De qualquer forma, saiba que sinto muito por ti!
Beijos!
amiga, a vida... que te dizer, há pouco fiz um post sobre uma estrela no ceú que mostro ao melhu puto...
amiga, um sorriso, ou melhor, um abrazo...
amiga, ele quer-te ver feliz, tu não o querias? pensa nisso, e desculpa estar a tratar-te por amiga...
Não tenho palavras para ti. Só que sinto muito por ti, pela tua perda.
Aguenta firme.
Beijinhos muito grandes.
li em silêncio... e agora faltam-me as palavras...
beijos
Fico sem palavras, GK, sem palavras.. mas se te serve de consolo, esta homenagem que fizeste está repleta de sentimento.
Um beijo.
Li com muita mágoa este teu sentidíssimo texto. Vejo que procuras uma resposta e sei que a hás-de encontrar!
Um beijinho
do Pepe.
Fiquei impressionado com esta tua carta, tão sentida...
Boa semana.
Um beijo solidário.
Enviar um comentário